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Comportamento

Angelina largou dinheiro certo, não compra roupas e viaja trabalhando de graça

Thailla Torres | 07/08/2016 08:34
Ser voluntário é fazer o bem de algumas forma conforme suas experiências de vida. (Foto: Fernando Antunes)
Ser voluntário é fazer o bem de algumas forma conforme suas experiências de vida. (Foto: Fernando Antunes)

Depois de 10 anos no mercado financeiro, com carreira bem sucedida, Angelina Megumi Yamada resolveu trocar tudo por uma vida de trabalho voluntário. Aos 29 anos, ela, que já gostava de viajar e tinha facilidade em fazer as jornadas com pouca grana no bolso, resolveu sair pelo mundo e ajudar alguém em cada cidade que passa. 

Angelina abre mão de hotéis e prefere ficar na casa de moradores da região. Economiza nas passagens e viaja de carona. Não compra roupa há quatro anos e acredita que é uma maneira de fazer bem ao mundo.

O que faz não é diversão. Se tornou uma forma de autoconhecimento sobre os próprios valores. "Comecei a questionar um pouco sobre o que era minha vida e o porque eu tinha vindo aqui. E foi o momento que eu resolvi conciliar o trabalho voluntariado com as viagens." 

Hoje, aos 35 anos, formada em Administração, ela diz que nunca quis fugir dos problemas, apenas procura fazer algo útil. "Estava indo tudo bem, mas queria saber qual era o meu legado. Eu fazia milhões para várias empresas no banco e eu não acreditava que eu tinha vindo no mundo pra fazer só isso".

E foi através do voluntariado que ela se encontrou. Viajando para diversos países e regiões carentes, que fogem da rotas turísticas, levou um pouco de si a cada espaço. Sem regras e nenhum vínculo com organizações, os trabalhos voluntários são feitos de maneira livre.

Praticamente todas as viagens são feitas de carona. (Foto: Arquivo Pessoal)
Praticamente todas as viagens são feitas de carona. (Foto: Arquivo Pessoal)

"Fui por vontade própria e escolhia os lugares a dedo. Quando chego num local, nunca demora mais de 3 dias para arranjar um trabalho voluntário. E não fechar com uma organização é ser livre para ser voluntária. Com as viagens que comecei a ver que tem muita coisa para fazer no mundo, ele é muito carente", diz.

Haiti, Bangladesh, Tanzania e Uganda são alguns dos mais de 80 países que Angelina já passou durante a jornada de voluntariado. E o estilo de viagem é sempre o mesmo, pés na estrada e pouca grana no bolso.

"Cheguei a viajar todo o leste europeu de carona e com isso consigo mostrar para as pessoas que não vale colocar barreiras. A primeira vez que eu vim para a América do Sul, eu tinha poucos dólares. Mas isso nunca me impediu de ajudar e seguir."

O que ela tenta mostrar é que todo mundo tem algo a fazer pela humanidade. "Não saber falar inglês ou não ter habilidade para cuidar de idosos não pode ser desculpa para não fazer quando se sentir tocado. Tudo é mais que isso. Basta olhar en volta, começar a questionar as coisas simples, como a se preocupar com o número de copos na hora de tomar um suco", sugere. 

O trabalho não é baseado em doações, mas em achar uma forma de ajudar as pessoas com suor mesmo. Ela já trabalhou em abrigos, campo de refugiados e até maternidade. 

Chegou o momento que comecei a questionar qual era minha proposta de vida. (Foto: Fernando Antunes)
Chegou o momento que comecei a questionar qual era minha proposta de vida. (Foto: Fernando Antunes)

"Comecei a ajudar projetos a serem sustentáveis. Você não vai me ver entregando cobertor ou sopa, mas achando uma forma de ajudar as pessoas". Mas para isso, foi preciso estudar um pouco e se dedicar a levar o conhecimento que tinha para quem tanto precisa.

"Cuidei de crianças de abrigo, ofereci reforço de matemática e português, ajudei refugiados ensinando inglês para conseguirem achar um emprego, passei em leitos de hospital perguntando o que as pessoas queriam. Tudo que de alguma forma seria sustentável para a vida das pessoas", descreve.

Passando por Mato Grosso do Sul, Angelina vai ficar 10 dias em Naviraí, para ajudar com os projetos de bancos comunitários criados em Dourados, Ponta Porã e Aquidauana.

"O Banco Comunitário, é um banco em que cada comunidade emite a própria moeda. Isso faz com que movimente a economia local e solidária. Aqui os projetos existem, mas não tem gestão. Por isso estou indo para ajudar. O que eu exatamente vou fazer, ainda não sei, mas vou para ajudar de algumas forma", garante.

Um retrato de uma moradora desconhecida durante um projeto na Chapada dos Guimarães. (Foto: Angelina Megumi Yamada)
Um retrato de uma moradora desconhecida durante um projeto na Chapada dos Guimarães. (Foto: Angelina Megumi Yamada)

Entre todos os projetos, é o olhar intenso presente nos retratos de Angelina que emociona. Ela sempre gostou de fotografia e agora usa a habilidade com as lentes a favor da solidariedade. "Fiquei durante um tempo em um campo de refugiados da Síria. Lá eu fotografava os bebês que nasciam e doava as fotos para os pais. Podia não ser o melhor momento da vida daquela pessoa, mas era um registro importante e isso tinha um efeito enorme na vida delas", descreve.

Por onde passa, ela fotografa os projetos, pessoas e amigos que faz pelo caminho. Em alguns momentos, descreve a sensação a cada encontro diferente e cada vez sente a necessidade de fazer algo melhor para si e para o mundo.

"Não nasci para ser hippie, mas acredito que a gente possa ter consciência sobre o de consumo. É claro que eu sinto vontade de comprar roupa, mas será que eu realmente preciso? Depois que você começa a conhecer as dores e a carência do mundo, é impossível ignorar esses fatores. E fico na casa das pessoas porque eu gosto de estar perto, conhecer, fazer amizade. Esse é o sentido da minha proposta de vida, não tem preço nenhum, mas é doar e aceitar receber. Isso tem muito a ver com se reconhecer", finaliza. 

Abaixo, alguns dos registros feitos por Angelina em alguns países. 

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Crianças brincando no Nepal, (Foto: Angelina Megumi Yamada)
Crianças brincando no Nepal, (Foto: Angelina Megumi Yamada)
Registros de trabalhadores em Bangladesh. (Foto: Angelina Megumi Yamada)
Registros de trabalhadores em Bangladesh. (Foto: Angelina Megumi Yamada)
Comerciante cheio de espontaneidade nas ruas de Daca em Bangladesh. (Foto: Angelina Megumi Yamada)
Comerciante cheio de espontaneidade nas ruas de Daca em Bangladesh. (Foto: Angelina Megumi Yamada)
Senhora pedindo cerveja em um mercado de Zimbabwe. (Foto: Angelina Megumi Yamada)
Senhora pedindo cerveja em um mercado de Zimbabwe. (Foto: Angelina Megumi Yamada)
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