Aniversariantes trocam festa por noite no teatro e presente por doação de fralda
Nesta quarta-feira, ela sopra as velinhas do 34º aniversário e para comemorar a data, decidiu dividir entre os amigos cultura e solidariedade hoje à noite, no Teatro Prosa, com a peça “Amor Confesso”. O convite é assim, aberto para todo mundo saber e ir mesmo, porque a jornalista Jacklin Andreucce quer lotar as cadeiras do teatro e a caixa de doações. O espetáculo é gratuito, mas como presente, ela tem uma lista aos convidados.
Jacklin não pediu nada que fosse para uso pessoal. Na lista estão 1 quilo de alimento não perecível, ou um produto de limpeza e higiene, que do teatro vão direto para a Afrangel – Lar das Crianças Vivendo com HiV/Aids, em Campo Grande, que cuida de 46 crianças de quatro meses a 12 anos.
O endereço da comemoração é na rua Anhanduí, n° 200 e o horário no convite pede para que todos cheguem às 19h30, meia hora antes das cortinas se abrirem.
A ideia de reunir amigos no teatro e pedir a doação veio através do pedido de irmãs que coordenam o lar para que uma reportagem fosse feita, diante da ameaça da casa fechar as portas sem doações.
“Isso me tocou. No dia eu fiquei pensando em fazer isso, sempre gostei muito de teatro e lutei pela cultura. Falei, vou unir as duas coisas, vou chamar os amigos e pedir que eles levem, como meu aniversário é na véspera, no dia eu faço a entrega”, explica.
O jeito de comemorar é também uma forma gratidão aos anos bem vividos. Mesmo quem não conseguir ir ao teatro, já garantiu a doação à aniversariante. A peça conta com dois atores, Claudia Ventura e Alexandre Dantas, mostrando as possibilidades do amor. O texto é de um dos mais importantes nomes do teatro e do jornalismo brasileiros, Arthur Azevedo. Representado pelo grupo Cia Falácia, do Rio de Janeiro, apesar do roteiro ser do início do século 20, a companhia conseguiu uma adaptação bem contemporânea.
“Vale muito à pena, fala da relação que quem passou dos 30 tem com o casamento. Combinou de ser uma comédia, para que os meus amigos se divirtam e comemorem a vida, não só a minha, mas a de todos, inclusive das crianças que nasceram com Aids”, reforça a jornalista.
Soprar as velinhas desejando o bem do próximo é lição de casa para Matheus Hans dos Santos desde pequeno. No aniversário deste ano, em março, o menino de 4 anos pediu fraldas e leite em pó ao invés de presente. Nada iria para a casa dele, e sim, para o lar infantil que tem o nome da bisavó, Lygia Hans.
A influência veio da mãe, a cirurgiã dentista, Lygia Hans, de 26 anos. “Criança geralmente é um pouco egoísta e não quer repartir, esse ano eu perguntei o que você acha de em vez de pedir brinquedo, que você já tem um monte, pedir para as crianças que não tem?”
De início ele ficou resistente, mas a mãe, com jeitinho, fez o apelo. “Falei que tem crianças que não tem pai, mãe e nem mama à noite. Ele não falou nada, mas passou alguns dias, ele pediu”, descreve.
Na época, ela ligou para o lar e fez o pedido baseado no que as crianças mais precisavam. O resultado foram 50 pacotes de fraldas, 12 latas de leite em pó e a alegria do menino.
“Ele fala como se tivesse feito a melhor coisa do mundo. Ele mesmo falou que sempre ia fazer isso”, completa.
Os planos para o aniversário de 5 anos já começaram e adivinha o que o Matheus vai pedir? “Agora ele quer brinquedo, como ele foi lá entregar, ele ficou perguntando com o que as crianças brincavam”, resume Lygia.
E não seria nada ruim se a moda pegar entre os aniversários da cidade. Assim como o desejo no corte do primeiro pedaço de bolo, tem muita criança sonhando com presentes.
