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Comportamento

Aos 20 anos, Linda alcançou maior sonho, vai trabalhar como modelo em Nova York

Ângela Kempfer | 10/08/2016 08:22
Primeiro editorial de Linda em Paris, aos 16 anos.
Primeiro editorial de Linda em Paris, aos 16 anos.

O primeiro nome foi uma aposta de adolescência da mãe, feita com a melhor amiga: A primeira filha de uma das duas se chamaria Linda. O Helena é homenagem à avó paterna.

De família de "guerreiras", como ela diz, Linda Helena conseguiu aos 20 anos o que a maioria das meninas sonha em tempos de supermodelos e glamour. No mês que vem, embarca para Nova York, com contrato de 4 anos de trabalho.

Filha de esteticista, que cresceu no bairro Maria Aparecida Pedrossian, a menina magra, de 1.77 metro, saiu de Campo Grande aos 16 anos, graças a ajuda de uma amiga que pagou pelo primeiro book da carreira. Desde então, Linda só avança.

Já morou em São Paulo, Paris e Buenos Aires. Mas nunca esqueceu de quem ficou por aqui. Com o primeiro cachê do São Paulo Fashion Week, por exemplo, pagou cirurgia da avó.

Determinada e de beleza incomum, é uma inspiração para quem quer ir longe, mas acha impossível em uma cidade do tamanho da nossa.  No Voz da Experiência, Linda conta como conseguiu e o que quer da vida.

Campanha Casa Almacén, na Argentina.
Campanha Casa Almacén, na Argentina.

Tive uma infância simples, mas sempre gostei de ter minha independência e meu próprio dinheiro. Com 7 anos, já trabalhava fazendo companhia para as bebês das minhas vizinhas. Desde pequena nunca tive preguiça, o que viesse era válido. Com 11, entregava panfletos.

Cresci em uma família de guerreiras, eu não podia ser diferente. Neta de professora, sempre tive que estudar bastante. Ter boas notas não era "mais que minha obrigação".

Toda a vida vivi na mesma casa, no Maria Aparecida Pedrossian, que é meu bairro amado. Quando fecho os olhos e penso no melhor lugar do mundo, é sentada na reserva florestal, bem na frente da minha casa, que eu quero estar. É lá que eu realmente tenho minha paz, que tenho meus melhores amigos e minha família. É uma recordação feliz da minha cidade.

Fui criada por minha mãe, vó e irmão. Minha mãe Ester, como esteticista, despertou meu lado vaidoso. Até então, desde pequena sempre fui desleixada. Quem assinou minha beleza foi ela, sempre cuidando de mim.

Minha avó, descendente de russos, muito rígida, me deu a disciplina. Com suas 3 faculdades e 2 pós-graduações, me ensinou a ter peito de aço e não baixar a cabeça para nenhuma dificuldade.

Meu irmão tinha que ficar de castigo para parar de estudar. Até hoje ele passa o dia todo na faculdade, estudando. Além do Edy, tenho uma irmãzinha, a Bia. Com 15 anos de diferença, ela é a luz da casa. De família espírita, aprendi o poder da caridade! Sem rodeios tenho a melhor família do mundo.

Foto do backstage do desfile da Nous.
Foto do backstage do desfile da Nous.

Aqui, minha principal escola foi o Dolor Ferreira de Andrade, foi a que me criou, da 1° série até o 1° ano do Ensino Médio. Nunca enfrentei problema na escola por ser magra. Na verdade, esse tipo de coisa na época era comum. Brincadeira de crianças mesmo. Todos nós nos conhecíamos, não havia isso de bullying, brincadeiras desse tipo não acabavam em suicídio na minha infância. Acredito que não afetava aos jovens como nos dias de hoje.

No fim do 1º ano, fui morar em São Paulo e lá comecei o 2° ano do Ensino Médio, mas não pude concluir, devido minha mudança a Paris. Até o ano passado não havia terminado o 2° grau. Mas em agosto de 2015 parei minha vida em Buenos Aires e vim fazer o EJA, concluído no ano passado.

Nunca quis ser modelo, não faço parte desse mundo glamouroso. Eu ajudava uma vizinha que sofreu um acidente de moto e machucou a perna, a Dani. Ela foi essencial para o início da minha carreira. Eu cuidava da filhinha dela e o pai dela tinha um restaurante no Centro. Lá almoçava um scouter (agente de modelos). Dani mostrou uma foto minha e ele gostou, disse que tínhamos que fazer um book, que saia na época 500 reais. Quem pagou foi a Dani.

Depois fui para São Paulo por insistência do agente que levou a mim e a minha mãe, sem custo algum, porque não tínhamos capital para investir em uma carreira incerta. Foi Deus que encaminhou tudo mesmo.

Com 16 anos fui morar lá definitivamente. Como não podia parar de estudar, continuei por lá. Inclusive, algo bem interessante é que para fazer Fashion Week no Brasil, sendo menor de idade, tem de ter comprovante de que a modelo está estudando.

Minha avó me ajudava com 50 reais por semana. Dividia esse dinheiro em três partes: 20 para passagens de ônibus e metrô, 20 reais para alimentação e os últimos 10 reais eram fundo de emergência. No começo era só prejuízo.

Hoje no Brasil estou na Way Models, e a IMG- Models Wordwide é minha agência em Paris, Londres, Milão e Nova York. Na Argentina, tenho minha agência mãe, que comanda toda minha carreira, a Look 1 Models.

Já fui recordista de desfiles no SPFW (São Paulo Fashion Week), em Nova York fiz Diesel Black Gold no NYFW (New York Fashion Week). E com 16 anos fui escolhida a dedo para um editorial para Louise Vuitton em Paris. Minha vantagem é que meu rosto no mundo da moda é único, loira do olho azul com cara de princesa é o que mas tem.

Mas a modelo nunca sabe o que a marca quer, se é um rosto mais feminino ou masculino. Depende bastante do país e da cultura. A moda muda muito com o passar dos anos.

Na Argentina faço as melhores campanhas, vivo lá há 3 anos e com esse tempo consegui ser a recordista da semana de moda por 2 anos consecutivos. Foram 4 temporadas de Baf Week, que sou recordista com maior número de desfiles.

Não tem muita coisa na moda que me interesse. Gosto de me envolver em alguns assuntos. Sou militante contra o aborto e luto pelos direitos de igualdade LGBT, 90 % dos meus amigos são gays e lésbicas e, principalmente, em Campo Grande vejo o preconceito sem limites. O que é muito triste.

Em abril deste ano, Linda foi capa da Caras Moda argentina.
Em abril deste ano, Linda foi capa da Caras Moda argentina.
Primeira foto como modelo, ainda em Campo Grande.
Primeira foto como modelo, ainda em Campo Grande.

Voltando no tempo, lembro que com 16 anos tive minha primeira viagem de avião. Fui direto a Paris, sozinha, e fiquei por lá durante 6 meses. Essa foi até hoje a minha maior conquista, viver em outro país sozinha, sem falar a língua. Foi muito difícil! Um crescimento pessoal mesmo.

Depois fui para Nova York, que é um lugar que amo muito. A minha mais nova conquista será em agosto, quando me mudo para lá para trabalhar. Sempre tive o sonho de viver em Nova York. Consegui! É inacreditável que com 20 anos já realizei um sonho.

Sou gente normal, do tipo que não importa o sucesso ou quanto suba na vida, nunca vai tirar o pé do chão, nunca vai esquecer as origens, as raízes, os primeiros amigos, aquele que estava ao seu lado quando você chorou, quando você riu ou quando você quebrou a cara. Dos verdadeiros amigos e da verdadeira família que é a nossa. Onde você estiver, você deve ser a mesma pessoa, cabeça no céu e pé no chão.

Deus é quem me cuida e me protege. Depois eu tenho um anjo na minha vida. Conheci o Miguel com 21 anos, quando eu tinha na época 16 anos e já trabalhava na Argentina. Nunca pensei que daria certo, até porque tínhamos classe social, cultura, idade e língua diferentes. Mas é como dizem, o amor prevalece. Estamos juntos desde a primeira vez que trocamos o olhar. Com ele ganhei sua família e agora tenho duas: a família Soares e a família Harriet.

Pra mim isso tudo é só um começo. Dia 25 de agosto me mudo para Nova York com o Miguel. Depois de ralar muito, nós finalmente vamos. Eu vou trabalhar e ele estudar Nutrição.

Bom a continuação da minha história vocês saberão quando eu voltar a Campo Grande.

Desfile da marca Nous.
Desfile da marca Nous.
Editorial em Foi em Mar de Las Pampas, na Argentina.
Editorial em Foi em Mar de Las Pampas, na Argentina.
Editorial em Nova York, com o fotografo Willian Kano.
Editorial em Nova York, com o fotografo Willian Kano.
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