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Comportamento

Aos 90 anos, ela diz ter feito 1.5 mil partos, sem nunca perder uma vida

Anny Malagolini | 13/11/2013 07:12
Dona "Gica" mostra as mãos que trouxeram 1.5 mil crianças ao mundo. (Foto: Cleber Gellio)
Dona "Gica" mostra as mãos que trouxeram 1.5 mil crianças ao mundo. (Foto: Cleber Gellio)

A última parteira de Piraputanga, Maria Conceição, a dona “Gica”, já não trabalha. Com o olhar distante, e o pensamento mais longe ainda - preso no passado, os dias agora parecem ser de espera, sem televisão, rádio ou qualquer tecnologia.

Surda e enxergando apenas vultos, aos 90 anos dona Gica jura ter feito 1,5 mil partos e mostra as mãos como prova. É uma média incrível de 26 nascimentos por ano. Era a alternativa mais próxima e confiável para quem morava no "vilarejo" e na região que inclui Palmeiras e Camisão.

A lucidez persiste, mas os problemas de saúde que começaram há cerca de 20 anos, afastaram Gica dos partos. "Hoje, se aparecer uma mulher grávida, não consigo fazer nada", comenta.

Filha de trabalhadores rurais, com rotina sofrida, ela conta que aos 14 anos começou a atender as mulheres da região que estavam em trabalho de parto e durante mais de 50 anos permaneceu na ativa.

Com orgulho de ter trazido todas as crianças com vida, ela relembra que os nascimentos eram feitos nas casas das próprias mães. “Era muito diferente de hoje, que colocam numa ambulância e levam para a maternidade, nascem com médico”.

O nome ficou famoso no lugar e hoje é a única ainda com endereço em Piraputanga das 3 parteiras que o distrito conheceu.

A maioria sabe da história que teve o ofício como principal elemento, aprendido com ajuda de um médico do Exército de Aquidauana, que vendo a dificuldade de acesso à cidade, a ensinou a realizar os partos.

Sem nunca cobrar, ela garante que recebia o que a família da criança achava que era justo. “Já cheguei a receber 100 mim réis”, relembra.

Ela continua onde passou a vida toda, na região de rios, com cenário de fazendas. Viúva, mora em uma casa simples, ao lado do único filho vivo de 4 irmãos.

O arrependimento que Gica ainda mantém é de não ter "carteira de permissão". Sem saber ler e escrever, já que o pai nunca deixou que aprendesse, ser parteira nunca foi ofício registrado, e por isso, não recebe aposentadoria.

Também não passou a tarefa para frente, por falta de interesse de quem a quisesse substituir no ofício que há décadas tinha importância.

Aos 90 anos, ela diz ter feito 1.5 mil partos, sem nunca perder uma vida
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