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Comportamento

Aos 91 anos, Oneide fez do trabalho sua terapia para superar perda do marido

Ela trabalha contando e embalando pedrarias na loja da filha no Centro de Campo Grande e tem esperança de um dia rever o esposo

Alana Portela | 10/08/2019 07:45
Oneide Borba Barbosa sentada em sua cadeira em frente a sua seladora (Foto: Alana Portela)
Oneide Borba Barbosa sentada em sua cadeira em frente a sua seladora (Foto: Alana Portela)

Com 91 anos de idade, dona Oneide Borba Barbosa fez do trabalho a terapia para superar a morte do marido, Athayde Martins Barbosa. Foram 54 anos de casados, de olhares apaixonados, do primeiro e único amor da sua vida, que partiu há 17 anos. Desde então, a distração é contar e embalar pedrarias na Loja da Elce, comércio de sua filha Elce, no Centro de Campo Grande.

Não é moleza, pois ela fica no serviço de segunda a sexta em horário comercial. Meio tímida, sua mesa está no meio da loja, cheia de mercadorias e é ali, que Oneide faz a festa. É concentrada e rápida com as mãos, por dia chega a embalar 800 pacotes para atender a demanda. “Conto as pecinhas, conforme a mercadoria, para empacotar. Uns são de medir com o dedal e pesar. Depois eu selo e está pronto”, explicou.

Ora sentada, ora em pé procurando serviço, ela só para no horário de almoço para descansar. Tira aquela sonequinha nos fundos da loja, mas retorna no período da tarde a todo vapor. Tem uma visão boa para enxergar todas as pedrarias e fez daquele cantinho do serviço, seu novo mundo.  

No local, ela distribui sorrisos e gradece a filha Elce, pela oportunidade de emprego. Seria difícil ficar em casa, sozinha, sem se entristecer pela falta do companheiro de muitos anos. Foram tantas bodas, de Zinco, Porcelana, Pérola, Rubi, Ouro. Tantos momentos inesquecíveis que é impossível não a emocionar. “Fiquei muito triste, a gente ficava o tempo inteiro juntos. Se não fosse aqui, o que seria de mim? Fazer crochê o dia inteiro enjoa”, disse.

Oneide ao lado do marido, Athayde Martins Barbosa (Foto: Arquivo pessoal)
Oneide ao lado do marido, Athayde Martins Barbosa (Foto: Arquivo pessoal)

Enquanto trabalhava, contou um pouco de sua história de casamento. A união estava predestinada.  Athayde conheceu Oneide quando ela tinha quatro anos de idade e brincou dizendo que se casariam. “Falou que ia esperar eu crescer para casar comigo", recordou.

Eram vizinhos de fazenda, na época, moravam em Nova Alvorada do Sul. Tempo depois, Oneide se mudou para Rio Brilhante onde cresceu e ficou até os 22 anos. O destino a fez retornar para a cidade natal, período que reencontrou Athayde, que estava com 42 anos, e se casaram. 

Apaixonados, eles ficaram na fazenda por 12 anos, e tiveram cinco filhos. A relação era de cumplicidade e companheirismo. “Nunca brigamos ou discutimos, pra ele tudo estava bom e pra mim também. Mas quando casei falei pra ele; brigar e discutir nunca. Tem que respeitar um ao outro para durar”, destacou.

Com as mãos, ela arruma o papel com as informações da loja na embalagem (Foto: Alana Portela)
Com as mãos, ela arruma o papel com as informações da loja na embalagem (Foto: Alana Portela)
Ela usa a seladora para fechar a embalagem (Foto: Alana Portela)
Ela usa a seladora para fechar a embalagem (Foto: Alana Portela)
Várias embalagens são feitas por dia para venda (Foto: Alana Portela)
Várias embalagens são feitas por dia para venda (Foto: Alana Portela)

Na roçaA vida de casal foi simples, na roça. “O pai dele tinha um engenho, faziam pinga e rapadura na fazenda. Ficou trabalhando muitos anos, depois foi cerealista, comprava e vendia mantimentos. A gente tirava água de poço, vivia em uma casa de madeira", relatou Oneide. Naquele tempo, ela era responsável por cuidar da casa. 

Os filhos foram crescendo e vieram para Campo Grande, em seguida o casal também veio. Aqui, moraram no bairro Tiradentes. Aos 60 e poucos anos, Athayde se aposentou e passou a ficar mais tempo com a amada. "Ele era saudável, forte. Morreu com 95 anos do coração, e fiquei deprimida". O falecimento aconteceu em 2002. 

Após perder o marido, passou a visitar a loja com frequêcia. Passava horas no local, até que filha propos o serviço de embalar as mercadorias, função importante para a comercializalção das pedrarias. Depois, levou a mãe para morar em sua casa, no Centro. Ao todo, são oito anos de dedicação ao trabalho. 

Oneide cortando o saco com mais pedrarias para separar (Foto: Alana Portela)
Oneide cortando o saco com mais pedrarias para separar (Foto: Alana Portela)
Oneide contou que trabalha em horário comercial (Foto: Alana Portela)
Oneide contou que trabalha em horário comercial (Foto: Alana Portela)

Rever um grande amor - Oneide é espírita e acredita na vida após a morte. Para ela, Athayde está em outro plano, a sua espera. “Acredito que vou encontrá-lo", afirmou. Há dez anos, recebeu uma carta psicografa com uma mensagem que a fez ter esperança. "Ele disse que está me esperando do outro lado da vida para a gente casar e ser feliz". 

A carta foi psicografada por um médium e guardada na casa onde o casal vivia, junto com as fotos da família. “São minhas lembranças, relíquias”.

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Aos 91 anos, Oneide achou no trabalho um jeito de distrair (Foto: Alana Portela)
Aos 91 anos, Oneide achou no trabalho um jeito de distrair (Foto: Alana Portela)
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