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Comportamento

Após 20 anos, volta do pai é reconciliação com ajuda de boas lembranças

Carlos se mudou para os Estados Unidos quando Vanessa tinha apenas cinco anos de idade e agora conseguiu voltar

Alana Portela | 13/05/2019 08:57
Vanessa ao lado de Carlos falam sobre a emoção do reencontro (Foto: Kisie Ainoã)
Vanessa ao lado de Carlos falam sobre a emoção do reencontro (Foto: Kisie Ainoã)

Foram 20 anos nos Estados Unidos, até Carlos Rocha tirar o green card e poder retornar a Campo Grande para reencontrar as filhas Isabela, hoje com 22, e Vanessa Rocha, de 25 anos. O desemprego o levou do Brasil em 1999, mas as meninas ficaram. Ele garante que a ideia era permanecer apenas dois anos no exterior, mas Carlos encontrou outra família e pela dificuldade de se legalizar no país ficou. 

Tanto tempo depois, retomar o vínculo é um desafio, mas bem emocionante, conta o pai. “É uma sensação indescritível, comecei a lembrar do passado. A Vanessa continua com o mesmo rostinho, só a Isabela que mudou mais. Eram pequenas. O que passou a gente não consegue recuperar. Sempre pensei que estava demorando muito para voltar. Quis retornar em 2008 por conta da crise de lá. Pensava em como elas estariam, a foto não é a realidade”, diz.

O reencontro rendeu uma selfie em família. Isabela à esquerda, Carlos no meio e Vanessa a direita (Foto: Arquivo pessoal)
O reencontro rendeu uma selfie em família. Isabela à esquerda, Carlos no meio e Vanessa a direita (Foto: Arquivo pessoal)

O reencontro ocorreu neste mês. As filhas ficaram aguardando pai e mesmo sem o ver há 20 anos, conseguiram o reconhecer. A visita estava planejada desde fevereiro deste ano, após Carlos conseguir o Green Card, que é o cartão de residência permanente dos Estados Unidos. “Chorei quando o vi depois de tanto tempo”, disse Vanessa, que é analista de negócios.

Quando Carlos decidiu mudar de país, Vanessa tinha cinco aninhos, pouco tempo depois de separar da mãe das meninas. “Ela era bem pequena, uma parte do crescimento eu acompanhei. Ficavam comigo e com a babá porque a mãe delas trabalhava até a noite”, recorda.

Carlos conta que lembra dos momento que passou ao lado das filhas (Foto: Kisie Ainoã)
Carlos conta que lembra dos momento que passou ao lado das filhas (Foto: Kisie Ainoã)

Os primeiros meses no exterior foram difíceis, diz o pai. “Foi sofrido, queria voltar. É outro mundo, fui para o norte dos Estados Unidos que era muito gelado. Passei a trabalhar limpando um mercado e naquele tempo não tinha essa facilidade de se comunicar como hoje”, relata.

O primeiro contato com as filhas, foi após dois meses da mudança. “Liguei pra elas, falavam comigo. A Vanessa chorava no telefone, dizia que estava com saudade. Pra ligar para saia no frio atrás de um orelhão, colocava a ficha e esperava. Não conseguia conversar com frequência porque a mãe dela trabalhava e elas ficavam com a babá. Tinha que combinar um dia certo”, disse.

Tanto tempo longe, impediu novas histórias com as filhas e o que ficou foram poucas lembranças do passado, principalmente da maior, Vanessa. “Quando ela era criança, gostava de subir no carro e passear. Acompanhei os passos, as primeiras palavras, levava na escola. Chorei muito no começo, após a mudança. A gente se separa de tudo”.

Para ele, o tempo ganhou outra dimensão, e, de repente, outra família surgiu. “A intenção era ficar dois anos, pensei em guardar grana e voltar. Mas nesse tempo formei outra família. Minha esposa engravidou e fiquei com peso na consciência, porque já tinha deixado duas no Brasil, não queria me afastar de outro filho por lá”, falou.

Hoje Carlos trabalha como pintor nos Estados Unidos, onde tem outros filhos; Samuel e Isadora. 

Carlos guarda a foto de quando esteve com Vanessa em um rio de Bonito, quando ela tinha um ano (Foto: Kisie Ainoã)
Carlos guarda a foto de quando esteve com Vanessa em um rio de Bonito, quando ela tinha um ano (Foto: Kisie Ainoã)
Vanessa no colo de sua mãe, que está ao lado de Carlos (Foto: Arquivo pessoal)
Vanessa no colo de sua mãe, que está ao lado de Carlos (Foto: Arquivo pessoal)

Lembrança e saudade - Para quem ficou, o retorno é também uma reconciliação. Vanessa recorda das vezes que conversava com Carlos. “Falava o básico, chorava, tinha saudade porque a criança acaba sentindo a falta. Sempre perguntava para minha mãe onde meu pai estava, mas acho que ela não tinha coragem de responder o que exatamente aconteceu e se iria voltar. Gerou uma aflição”, conta.

As meninas cresceram imaginando coisas sobre a nova vida do pai e alguns males, vieram para o bem, diz a mais velha, que sempre teve vontade de aprender inglês porque o pai virou inspiração. “O fato de saber que um dia posso ir pra lá é motivo meus estudos. Quando digo que ele mora no exterior, ficam admirados”, conta.

Vanessa diz que o pai é sua inspiração para aprender inglês (Foto: Kisie Ainoã)
Vanessa diz que o pai é sua inspiração para aprender inglês (Foto: Kisie Ainoã)

Entre as lembranças que tem do pai, o carinho vem em detalhes, como o direito de trocar as bonecas por carrinhos. “Tem meninas que gostam de brincar de boneca. Me recordo que meu pai gostava de colecionar carrinho de miniatura, isso ficou na minha cabeça e memorizava o nome de cada deles. Assistia muita televisão, pois a gente via Fórmula 1”, disse.

Retorno - Carlos relata que teve dificuldade para conseguir se legalizar nos Estados Unidos. “Depois que passou os seis primeiros meses, fiquei ilegal e se voltasse, poderia não conseguir retornar para outro país. Não podia mais ter ir pra lá com o visto de turista. Depois do atentado nas torres gêmeas, o governo intensificou a vigilância nos aeroportos”.

Os anos foram se passando e em 2005 com a ajuda da internet, pai e filhas passaram a ter mais contato. “Falávamos pela Webcam, mesmo assim não era todo dia porque ele tem a nova família, ficava com receio de ligar. Conversávamos quando podia, até porque não tinha celular, ainda é difícil comprar um celular”, comenta Vanessa.

Apesar de Carlos estar distante das filhas, a família do Brasil e dos Estados Unidos mantém a boa relação. “A gente tem o contato da esposa. Não temos problema com a mulher dele, nem com meu padrasto. Nos comunicamos, é realmente uma família. Meu padrasto faz churrasco com meu pai”, conta.

Planos - Após tanto tempo longe das filhas, Carlos relata que planeja voltar pelo menos duas vezes ao ano em Campo Grande. “Agora que vim, ficarei até o final do mês. No final do ano pretendo retornar de novo. Lá fora, não tem muita reunião de família e a celebração do natal”, disse.

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Vanessa e Carlos olham fotos antigas que estavam guardadas (Foto: Kisie Ainoã)
Vanessa e Carlos olham fotos antigas que estavam guardadas (Foto: Kisie Ainoã)
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