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Comportamento

Após 25 anos, Eunice ainda sonha em abraçar filho que foi levado de balneário

Entre lembranças, fotos e muita esperança de reencontrar Wanderson

Danielle Valentim | 18/04/2019 08:00
À esquerda, Wanderson pouco tempo antes de raptado de balneário. (Foto: Arquivo Pessoal)
À esquerda, Wanderson pouco tempo antes de raptado de balneário. (Foto: Arquivo Pessoal)

O dia de diversão terminou com uma das piores dores que uma mãe pode sentir na vida em 5 de março de 1994, no Balneário Carvalho em Pontes e Lacerda – MT, distante 1147 km de Campo Grande. Eunice Oliveira viu naquele dia, pela última vez, o filho de 5 anos. Ela conta que o menino desapareceu, levado do parque de diversões, enquanto a mãe comprava um refrigerante. Foram poucos minutos para que “Delcinho”, nunca mais fosse visto.

Hoje em Campo Grande, Eunice se lembra de forma nítida, de cada detalhe, do pior dia da vida. “Seguíamos pela estrada que dava acesso ao balneário, meu marido andava mais a frente com o meu filho mais velho e eu seguia mais atrás com o caçula. Um estranho de moto e jaqueta começou a passar por nós. Ele passou umas sete ou oito vezes, algumas vezes dando tchau, outras acenando com um “jóia” e aquilo me marcou”, relata.

A caminhada continuou e assim que a família chegou à beira do rio percebeu que o homem da estrada também estava lá. O marido de Eunice foi assistir a um jogo de futebol de areia e ela ficou com o filho mais novo em um parquinho do balneário. 

“Apesar de ter visto o desconhecido lá no balneário cada um foi fazer uma coisa, estávamos lá para se divertir. Meu filho ficou brincando no parquinho, enquanto eu saí para comprar um refrigerante. De repente, outra criança, me chamou perguntando: ‘tia, cadê o seu filho?’. Eu respondi que estava no parquinho, mas o menino afirmou que não estava. Eu fui procurá-lo e não achei mais. Foram poucos minutos”, Lembra Eunice.

Wanderson Jonas Oliveira, de apelido Delcinho, desapareceu sem deixar qualquer vestígio. Uma força-tarefa teve iniciou. Na época, a cidade de Pontes e Lacerda não tinha Corpo de Bombeiros, mas militares de Cuiabá se deslocaram na tentativa frustrada de encontrar o menino no rio. Policiais civis e militares se emprenharam nas buscas, mas nada adiantou.

Em meio à tragédia, a única coisa no pensamento de Eunice era o homem que havia passado pela família por diversas vezes. “Meu coração sente que ele foi levado por alguém e suspeito que seja o homem da motocicleta. Ele não morreu no rio houve muitas buscas por muitos dias”, pontua.

Hoje aos 51 anos, Eunice suporta a retida forçada do filho com muito apego a Deus. Diante das únicas lembranças que restaram, as fotos amenizam a distância. Eunice tem mais dois filhos, o mais velho Wagner, que mora em Pontes e Lacerda, e o do meio Wander, que mora em Bonito.

“Eu tenho esperança de reencontrá-lo. Não sei se é Deus para me confortar, mas sinto que ele está vivo, casado, com filhos e acredito que um dia eu o encontrarei. Minha vida é uma depressão profunda, às vezes fico no fundo do poço, me recupero e sigo minha vida. A única coisa que não morre é minha esperança”, finaliza Eunice.

Eunice e os três filhos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Eunice e os três filhos. (Foto: Arquivo Pessoal)

60 dias de busca – O caso de Wanderson já foi estudado pela Investigadora da Polícia Civil Maria Campos, que atua na busca de pessoas desaparecidas desde 1993. O trabalho na estrutura da Polícia Civil é voluntário e já reaproximou centenas de familiares separados.

“Na época foi uma força tarefa muito grande, 60 dias de buscas intensas, com bombeiros e policiais militares e civis de Cuiabá e até Rondônia. Eu estudei este caso e tentei ajudar. Fiz até um relatório que consta que somente o quarto poder (imprensa) poderia solucionar. Eu afirmou, categoricamente, que somente a mídia e a divulgação poderia localizar este menino”, ressalta.

Para Maria Campos, as circunstancias do desaparecimento do menino impossibilitam a junção de provas pela polícia. Na experiência de 26 anos, a única forma de conseguir localizar é com a divulgação na imprensa.

“O menino tinha 5 anos, sumiu sem os documentos, ou seja, alguém registrou essa criança e a gente já perde aí. Houve um registro de desaparecimento, só que a possibilidade dela achar esse filho é com a divulgação dessas informações, somente com a ajuda do quarto poder (imprensa), contanto essa história e divulgando de forma estadual, nacional e internacional”, explica.

A investigadora pondera que a memória nessa idade ainda pode ser resgatada. “Se o menino sabendo da história da vida dele, fica sabendo de informações como essas, pode se identificar com isso. Ou se alguém próximo a essa vítima, reconheça os fatos pode fazer uma denúncia e ajudar. Quando isso ocorre, os exames de DNA ajudam no reconhecimento. Eu mesmo, tinha 5 anos quando meu pai morreu e me lembro até hoje de ser acordada e receber a notícia”, finalizou.

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