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Comportamento

Bairro se divide entre as badalações da cidade e a condição de "abençoado"

Naiane Mesquita | 15/02/2016 06:23
No Lar do Trabalhador, a diversão é ocupar os canteiros e até as ruas (Foto: Marcos Ermínio)
No Lar do Trabalhador, a diversão é ocupar os canteiros e até as ruas (Foto: Marcos Ermínio)

Em uma das mãos, a pomba da paz repousa suavemente. A outra aponta para os fiéis, os milhares que se reuniram para ouvir suas palavras em 1991. O monumento em homenagem ao papa João Paulo II foi erguido para que a comunidade campo-grandense jamais esquecesse a visita do hoje santo e na época, o maior representante da Igreja Católica.

Marinho se mudou com a família, o pai era ferroviário (Foto: Marcos Ermínio)
Marinho se mudou com a família, o pai era ferroviário (Foto: Marcos Ermínio)
Dona Eugênia Eloi na frente de casa, fugindo do calor (Foto: Marcos Ermínio)
Dona Eugênia Eloi na frente de casa, fugindo do calor (Foto: Marcos Ermínio)

A praça que leva o seu nome fica no Lar do Trabalhador, local fundado há cerca de 50 anos e que no início abrigava ferroviários. A construtora responsável pela empreitada foi a Japurá e as casas segundo seu Domingos de Almeida Cunha, 68 anos, “eram todas iguais”. “Me mudei para cá no dia 26 de agosto de 1969. Era tudo igual e não tinha mais nada. Nessa região era tudo mato, tinha uns curralzinhos, foi um dos primeiros bairros de Campo Grande”, relembra.

Hoje, palco de inúmeros shows musicais, festa junina e até Carnaval, o bairro tem um movimento que não incomoda o caminhoneiro aposentado, seu Domingos. “Antigamente eu até cuidava os carros, cobrava R$ 5,00 e ficava a noite toda”, diz, orgulhoso. De recordes de público, ele lembra de vários cantores, mas diz que ninguém superou o papa. “Nós que lembramos dessa visita, tinha muita gente, eram muitas mesmo. Na minha opinião, o bairro ficou mais abençoado após a missa do papa. Eu gosto de viver aqui, é tranquilo”, acredita.

A história, segundo seu Domingos, é que a missa foi realizada no local por ter sido uma importante pista de pouso na época. “Queriam preservar e homenagear o espaço, que era histórico”, diz.

É difícil não encontrar um morador antigo que não se recorde da visita do papa. Na época, eram 308 casas populares na vila, isso antes da construção do residencial Flamingos, um dos “cartões-postais” da região. “Eu já era casado quando o papa veio, mas cresci nesse bairro. Aqui era uma areia, depois cascalharam tudo. Conheço esse bairro de cabo a rabo, catávamos guavira aqui em frente, o campinho de futebol era onde é hoje o Flamingos”, lembra com um sorriso no rosto, o morador Luiz Carlos Marinho, 63 anos.

Três gerações da família Meire, desde 1976 na Vila dos Ferroviários (Foto: Marcos Ermínio)
Três gerações da família Meire, desde 1976 na Vila dos Ferroviários (Foto: Marcos Ermínio)

Sentado na sombra de uma árvore, ao lado da praça comunitária da região e aproveitando o domingo para um oportuno churrasco com os amigos, Marinho conta que o pai era ferroviário e foi um dos primeiros a chegar no local. “Vim com meus pais, meus irmãos, brincávamos na rua, não tinha perigo, o Müller (jogador de futebol) morava aqui perto. Jogava no campinho”, descreve Marinho, que nunca pensou em sair dali. “Eu gosto daqui, casei e continuei morando no Lar dos Trabalhadores, foi abençoado por Deus”, acredita.

Dona Eugênia Eloi, 68 anos, concorda. "Criei meus cinco filhos aqui, meus netos gostam de brincar na região. Ficou mais movimentado com o tempo, mas não ligamos", diz, ela que é esposa de seu Domingos.

Para alguns moradores, o movimento aumentou muito antes das festas do calendário oficial. Com a chegada do Residencial Flamingos, o número de moradores duplicou. O local que tem 704 apartamentos e 44 blocos, tem casas de dois ou três quartos. “Antes era um matagal, não tinha nada, acho que foi no início da década de 90 que construíram o residencial”, relembra Cecília Meira dos Reis, 48 anos.

Com uma casa na rua principal, a dos Crisântemos, a família de Cecília é evangélica, mas não se importa de dizer que a visita do papa foi o primeiro de muitos grandes eventos que o Lar do Trabalhador receberia. “Não gosto de tumulto, não vou nas festas quando está cheio, mas gostamos dos eventos, não incomoda quem mora aqui, pelo menos a gente”, diz, animada.

Papa João Paulo II abençoando os moradores (Foto: Marcos Ermínio)
Papa João Paulo II abençoando os moradores (Foto: Marcos Ermínio)
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