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Comportamento

Casas noturnas reclamam de entrada congelada há 8 anos e gente pedindo cortesia

Comportamento do público campo-grandense abre discussão e para empresários é um balde de água fria na noite

Thaís Pimenta | 11/04/2018 08:14
Aniversário do Sis Lounge no ano passado, que lotou de gente na porta. (foto: Alexandre Torquato)
Aniversário do Sis Lounge no ano passado, que lotou de gente na porta. (foto: Alexandre Torquato)

No último fim de semana, o empresário Deko Giordan, sócio proprietário da balada LGBT Sis Lounge, desabafou no Facebook: "Tô cansado de ouvir que: 'As casas noturnas não valorizam os artistas!' Mas os mesmos que reclamam ou saem em defesa, não querem pagar 10 ou 15 reais (preço congelado há 8 anos) para entrar numa casa noturna. Pedem Free! Não valorizam os artistas locais, mas em cidades como São Paulo e Rio, pagam 100 ou até 200 reais pra entrar numa festa. A gente tem que se equilibrar na corda bamba, pra manter a casa e pagar os ótimos artistas que temos na cidade."

A publicação ascendeu uma discussão que até então era restrita aos donos de casas noturnas de Campo Grande e mostrou que a dificuldade é generalizada e o que não falta é cliente folgado, querendo entrar de graça na balada.

Para a dona do Genuíno Arte e Destilaria, Aline Dias, a situação relatada por Deko é a mesma vivida em seu bar, só ainda mais latente. 

"No começo, a gente trabalhava com couvert democrático, que ia 100% para os músicos. Para ter noção, tinha vezes que eu tinha que pagar um cachê de R$ 600 e eu tinha ali uns cento e poucos reais no caixa. Então, quase que no fim de um ano eu decidi optar pelo couvert obrigatório. Esse fim de semana mesmo, umas meninas foram embora da casa porque teriam que pagar", diz ela.

Aline lembra que no Genuíno, o valor do couvert é exclusivamente para pagar os músicos, para manter shows e músicas de qualidade. "A gente tem o feedback para continuar, por isso não desiste, mas as pessoas também não valorizam, claro que não generalizando, tem muita gente que fortalece sim a cena, a cultura. Muitos músicos também chegam lá e não querem pagar falando que são músicos também", reclama.

Ela cita o exemplo do show do músico Sérgio Carvalho, artista de renome nacional, que veio para o Genuíno e, mesmo assim, o valor cobrado para o couvert era de apenas R$ 10,00. "Você paga isso para ver um show que durou mais de três horas", conta.

Mas será que a galera realmente não tem dinheiro? "Acho que não é uma questão de grana, acho que é uma questão muito cultural mesmo aqui de Campo Grande, também não sei se isso acontece em outras cidades. Quem reclama de não pagar couvert é a mesma pessoa que vai consumir talvez bem mais dinheiro em bebida. O couvert é a valorização do trabalho dos músicos e tem muitos por aí que não conseguem sobreviver por causa dessas coisas". 

Genuíno em um dia de lotação, o que não acontece sempre. (foto: André Patroni)
Genuíno em um dia de lotação, o que não acontece sempre. (foto: André Patroni)

Indo para outro estilo musical, o rock, o Jack Music Hall teve até de reduzir os preços em dias de menor movimento, como a sexta-feira. Antes, o lugar cobrava R$ 20,00, agora são apenas R$ 10 até as 22h e, depois, sobe para R$ 15,00. "Eu acho que é mais profunda a problemática. Eu sou também Presidente da Abrasel e acho que a gente tá passando um momento difícil da economia. O nosso setor é muito frágil. A primeira coisa que as pessoas cortam são os supérfluos e o lazer, e dentro do lazer estamos em uma subcategoria que são shows e e bares",  diz o dono do espaço, Juliano Wertheimer. Ele pontua que as casas que tem um nicho definido, como a dele, por exemplo, sofrem ainda mais com essa escolha do público. 

Para Juliano, os empresários da noite campo-grandense vendem mais do que cerveja, vendem uma experiência, um momento de diversão. "Você vem no Jack, paga R$ 15,00 para entrar e ter seis horas de diversão. Agora, se você for ao cinema, vai pagar R$  21,00 em média, vai comprar uma pipoca de mais R$ 30,00 para ter duas horas de diversão. As pessoas têm que entender o valor das coisas".

Sobre a cultura da entrada de graça, ele pontua que amigo é aquele que gosta, que incentiva, que vem e que traz gente nova, não quem pede cortesia. "O motivo da existência de qualquer empresa é ela ser lucrativa, o empresário vive da renda que a empresa dele dá, parece que as pessoas têm aversão a isso. Vem um cliente aqui comprar cerveja, por exemplo, e ele reclama que aqui está R$ 8, sendo que no mercado ele paga R$ 3. Sim, vai estar mais caro. Por trás de uma cervejinha está o freezer ligado o dia todo, o atendente do caixa, do bar, o segurança, a banda e tantas coisas a mais necessárias para fazer acontecer aquele momento".

Fachada do Drama Bar no Grito do Rock. (foto: Vaca Azul)
Fachada do Drama Bar no Grito do Rock. (foto: Vaca Azul)

No ramo mais independente e alternativo, para empresário Mariana Sena Figueiró, dona do Drama Bar, que cobra quase todos os dias R$ 5,00 pela entrada, o público não tem noção do que se passa por trás de uma festa. "Quero trazer atrações de fora, mas fica complicado conseguir pagar porque todo mundo quer entrar de graça. Em vez de entender que tudo tem custo e a gente não está cobrando a toa. Claro que se eu pudesse eu faria de graça, mas são muitas despesas".

Em julho, faz dois anos que o bar está sobrevivendo, com o bar  das quintas-feiras gratuitas. "O máximo que já cobramos aqui foi R$ 20,00, porque era atração de fora. Estou lançando uma campanha entre os meus amigos: Se querem que o Drama continue, tem que ajudar na entrada", finaliza Mari.

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