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Comportamento

Celso guarda carteira de habilitação de charrete tirada pelo pai em 1942

Refugiado da guerra, Georges chegou a Campo Grande aos 18 anos e trabalhava como carroceiro

Por Clayton Neves | 18/10/2025 07:34


Celso guarda carteira de habilitação de charrete tirada pelo pai em 1942
Celso Chaia, de 76 anos, segura a CNH de charrete do pai, tirada na década de 40. (Foto: Clayton Neves)

RESUMO

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Georges Chaia, imigrante libanês que chegou ao Brasil na juventude, construiu sua vida em Campo Grande como carroceiro e comerciante. Seu filho, Celso Chaia, de 76 anos, guarda como única herança a carteira de habilitação para veículos de tração animal do pai, emitida em 1942 no então Estado de Mato Grosso. Sobrevivente de uma infância marcada pela guerra no Líbano, Georges formou família com Clotilde Chaia, tendo oito filhos homens. O casal permaneceu junto por 65 anos, até falecerem com apenas três dias de diferença em outubro de 1995. Georges deixou um legado de trabalho e respeito, valores que transmitiu a todos os filhos.

Entre as memórias que o tempo não apaga, Celso Chaia, de 76 anos, mantém com carinho o que chama de sua única herança, uma carteira de habilitação de charrete emitida em maio de 1942, no então Estado de Mato Grosso. O documento pertenceu ao pai, Georges Chais, um imigrante libanês que veio adolescente para o Brasil e construiu a vida em Campo Grande, onde criou oito filhos homens, todos educados à base do trabalho e respeito.

Guardada até hoje em uma capa plástica, a carteira carrega o brasão da República e os carimbos originais da Delegacia de Polícia de Campo Grande. Era uma “carteira nacional de habilitação para veículo de tração animal”, documento obrigatório na época para quem conduzia charretes ou carroças.

“É uma carteira de carroceiro. Única lembrança que eu tenho do meu pai. É a minha herança que mantenho sempre comigo e não me desfaço dela”, explica seu Celso.

O documento que Celso exibe foi emitido 14 de maio de 1942, carimbado e selado pelas autoridades da época. Naquele tempo, quem conduzia carroça ou charrete precisava da habilitação, uma exigência que mostra como o trânsito, ainda sem carros em massa, já tinha regras de segurança.

Um libanês que fugiu da guerra - Nascido em Mardin, no Líbano, em 16 de abril de 1913. Georges Chaia teve uma história que começa com tragédia. Segundo Celso, o avô paterno veio fugido da guerra, e a mãe de Georges foi morta quando ele ainda era bebê. “Acharam ele mamando na mãe já morta, três dias depois. O rosto dele ficou todo marcado por bicho, por causa da decomposição”, conta.

Celso guarda carteira de habilitação de charrete tirada pelo pai em 1942
Documento foi emitido em Campo Grande, no então estado do Mato Grosso. (Foto: Clayton Neves)

Criado “de mão em mão”, como ele diz, o pai sobreviveu a uma infância de abandono. Montado num burrico, buscava leite em chácaras até que, aos 18 anos, conseguiu deixar o Líbano e embarcar sozinho rumo ao Brasil.

O libanês veio direto para Campo Grande, onde trabalhava carregando tijolos em carretas de boi. Por aqui Georges conheceu a esposa, Clotilde Chaia, filha de libaneses nascida em Corumbá, e com ela formou família.

Dos dois, vieram oito filhos homens, entre eles Celso, nascido em 1948. O pai sustentou todos com o trabalho de carroceiro e, depois, como dono de um armazém de secos e molhados. “Meu pai foi rude, mas foi meu amigo. Nenhum dos meus irmãos conseguiu trabalhar com ele, mas eu fiquei até o fim. Ele me ensinou tudo”, conta.

Os filhos seguiram caminhos diferentes, mas o exemplo de trabalho permaneceu. O primogênito, Benjamin Chaia, chegou a presidir a Associação Comercial de Campo Grande por nove anos e foi cogitado para cargos públicos. “Meu deu educação. O resto foi cada um se virando para sobreviver. Mas nenhum dos oito bebia, fumava ou usava droga”, destaca.

Celso guarda carteira de habilitação de charrete tirada pelo pai em 1942
Celso ao lado do filho, Anderson, neto de Georges. (Foto: Clayton Neves)

Georges e Clotilde viveram juntos por mais de seis décadas. Ela faleceu primeiro, em 16 de outubro de 1995, após complicações de uma queda. Três dias depois, no dia 19 de outubro, Georges morreu. “Meu pai morreu sufocado pela falta dela. Foram 65 anos casados, e um não aguentou viver sem o outro”, comenta.

Para Celso, a carteira do pai é mais que uma relíquia, é um símbolo de quem veio de longe, venceu a guerra e ajudou a construir a cidade. “Ele foi meu amigo”, finaliza o filho.

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