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Comportamento

Claúdia escolheu entrar e sair do tráfico, hoje luta para ser manicure na cidade

A vida depois de um crime nunca foi a mesma, depois do julgamento da justiça, Claúdia agora enfrenta o "tribunal" da sociedade.

Thailla Torres | 01/03/2018 07:53
 Fora das grades ela vem tentando recomeçar a vida como manicure, mas encontra um caminho difícil . (Foto: André Bittar)
Fora das grades ela vem tentando recomeçar a vida como manicure, mas encontra um caminho difícil . (Foto: André Bittar)

O sorriso de Claúdia prova o que sente sobre a liberdade. Longe das grades, ela tenta recomeçar a vida como manicure, profissão que aprendeu dentro do presídio. O caminho é bem difícil e o passado é motivo para fechar muitas portas. Mas ela levanta a cabeça e aceita dar entrevista para incentivar outras mulheres que ganharam o direito a uma nova vida.

Aos 31 anos, Claúdia da Silva Mendes saiu do sistema penitenciário de Campo Grande e agora cumpre a condicional. Ao invés de ficar encarcerada, ganha a liberdade cumprindo regras até o fim da pena, que no caso de dela, acaba em novembro.

Ela foi presa aos 23 anos, por tráfico de drogas. Após dois anos em regime semi-aberto, acabou detida novamente pelo mesmo crime. No total foram mais de oito anos numa cela.

Como grande parte das mulheres que saem do sistema, a falta de oportunidade poderia levá-la, mais uma vez, a voltar para o crime. Mas Claúdia decidiu mudar. Hoje, é manicure profissional e faz unhas artísticas.

Cantinho que ela aluga no Coronel Antonino.
Cantinho que ela aluga no Coronel Antonino.

Ela se especializou no ofício dentro do presídio, uma das oportunidades que teve de aprender algo diferente e mudar de vida quando a liberdade fizesse parte da rotina novamente. 

Para superar tudo que passou na prisão e a rebeldia que a levou para o crime, Claúdia diz que pensou muito no filho, quem a esperava do lado de fora. "Eu fiz uma promessa que nunca mais me envolveria com coisa errada. Meu filho já tem 15 anos, a primeira coisa que eu quis quando sai da prisão, foi buscar ele".

Super simpática e com um sorriso que não sai do rosto, ela não tem medo de falar do passado. "Quero que elas saibam que há um caminho do bem. Não julgo e nem condeno ninguém, afinal também errei, mas consegui mudar e sei que outras mulheres também podem".

Claúdia diz que escolheu entrar no esquema do tráfico. A oportunidade veio depois da gravidez, aos 17 anos. "O pai da criança virou as costas e nunca apareceu. Eu morava em Sidrolândia, mas não conseguia emprego. Quando vim pra cá, foi tudo mais fácil no mundo do crime. Não tive incentivo de ninguém, procurei tudo sozinha. Perguntei onde tinha droga para vender e fui atrás. Sabia que era um dinheiro fácil", lembra.

Anos depois, ela foi pega na rua. "Estava com 7 peças [equivalente a 7 kg] de pasta base no carro, depois a polícia foi na minha casa, mas lá não tinha nada. Eu nunca levei droga pra dentro de casa, só distribuía na cidade".

O sorriso é a resposta sobre o sentimento pela liberdade. (Foto: André Bittar)
O sorriso é a resposta sobre o sentimento pela liberdade. (Foto: André Bittar)

Antes do arrependimento, a prisão trouxe revolta. "Eu não tinha a cabeça que eu tenho hoje, fiquei revoltada, rebelde, foi aí que eu quis continuar no mundo do crime, sem me dar conta que ia cair novamente".

A segunda prisão durante uma quebra (ao sair do semi-aberto) foi decisiva na mudança. "A prisão ensina tudo sobre os dois lados, do bem e do mal, lá dentro você só escolhe o que seguir. Eu decidi cumprir minha pena e sair dessa vida. Entrei sozinha e saí sozinha. Para essa vida eu não volto".

E resisitir não é tarefa fácil. Quase dois anos em liberdade condicional, ela já perdeu as contas de quantas vezes tentou um emprego com carteira assinada. "O preconceito é grande, ninguém aceita. Quando eu entrego o 'nada consta', sou recusada".

O primeiro "não" veio depois de 8 meses em um salão de beleza. "Eu não era contratada, mas fiquei 8 meses fazendo unha no salão, quando a dona decidiu me contratar eu contei a verdade. Ela mandou embora dizendo que não poderia ficar comigo pela segurança das clientes".

A tentativa mais recente foi em uma rede de loja de calçados na cidade, ao enviar todos os documentos, a empresa disse não e justificou. "Quando viram meu antecedente disseram que eu não poderia ser contratada".

Uma chance veio de uma lanchonete, mas em decorrência da condicional, Claúdia não pode trabalhar a noite. "Tenho que estar em casa todo dia às 20h. Por isso acabei deixando de lado".

Por isso, a mulher forte decidiu recomeçar sozinha. "Na prisão fiz o curso de manicure e auto maquiagem. Mas sem muitas clientes, fica impossível abrir meu salão. Então, resolvi alugar um cantinho de uma loja para atender".

Claúdia paga R$ 300,00 por mês para ocupar aproximadamente 5 m² da loja. Cobra de R$ 25,00 a R$ 40,00 o pé e mão, dependendo do pedido da cliente. Com as economias, ela espera abrir o próprio negócio até o fim do ano. "Meu sonho é ter um cantinho meu para chamar de esmalteria, atender minhas clientes e continuar cuidando da minha família".

Quem quiser conhecer o trabalho de Claúdia, ela atende na Avenida Castelo Branco, 766, Coronel Antonino.

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