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Comportamento

Cláudia perdeu filho para o álcool e quis se entregar, mas seu destino era outro

Em sofrimento, a mãe achou que a bebida era única solução, até encontrar sua vocação como aquela que ajuda quem precisa

Eduardo Fregatto | 25/08/2017 06:10
A mãe mostra o retrato do filho. Saudade também é motivação para seguir ajudando o próximo. (Foto: João Paulo Gonçalves)
A mãe mostra o retrato do filho. Saudade também é motivação para seguir ajudando o próximo. (Foto: João Paulo Gonçalves)

Quem conhece a funcionária pública aposentada Cláudia Gomes Gusmão, de 61 anos, nem imagina que sua vida foi marcada por várias batalhas e uma tragédia que mudaria toda a sua trajetória. Com um jeito leve de conversar, muito calma e simpática, ela nos apresenta seu lado forte e cheio de otimismo e sabedoria. A dor, o sofrimento e os momentos ruins ficaram no passado. Ou ao menos é assim que ela tenta encarar a vida, todos os dias.

Cláudia é integrante e divulga o trabalho dos Alcoólicos Anônimos de Campo Grande, e foi assim que a encontramos. "O AA salvou minha vida", diz. "As pessoas precisam se conscientizar que o álcool também é um droga. Legalizada, mas é droga", completa.

Ela já foi refém da bebida, mas a sua maior dor foi a perda do filho, Rogério, aos 25 anos, que morreu devido ao vício. "Ela era festeiro, adorava a vida e se divertir. Mas bebia e depois dirigia, voltando das baladas", relata. "Lembro como se fosse ontem, eu estava trabalhando, deitada, e me chamaram. Não me diziam o que tinha acontecido com ele, eu pensei: 'meu filho morreu'".

Cláudia está sóbria há 8 anos, com muito orgulho da sua conquista. (Foto: João Paulo Gonçalves)
Cláudia está sóbria há 8 anos, com muito orgulho da sua conquista. (Foto: João Paulo Gonçalves)

Um acidente de carro, na Avenida Fernando Correa da Costa, tirou a vida de Rogério. O ano era 2004. Ele estava animado com um curso que acabava de terminar. Mas foi a mãe que precisou buscar o diploma.

Tomada pela dor, Cláudia tentou encontrar conforto na bebida. O álcool sempre esteve presente em sua vida e, naquele momento, parecia o seu único destino. Ela teve parentes alcoólatras e dois maridos que bebiam além dos limites, alterando até mesmo seus comportamentos.

"Eu pensei que só a bebida poderia aplacar meu sofrimento. Me entreguei", recorda. Foram seis anos de vício e muito sofrimento para ela e para sua família. "Me tornei agressiva. Briguei com meus irmãos, mandava mensagens ruins para eles. Hoje estou sozinha por culpa do álcool. Só tenho meus pais, que eu cuido todos os dias".

Além de Rogério, Cláudia tem dois filhos. Foi a filha que a convenceu a procurar ajuda nos Alcoólicos Anônimos. Ela chegou a se internar numa clínica de reabilitação. O que viu lá a fez mudar totalmente de perspectiva. "Vi jovens totalmente dependentes. Percebi como nós nos importamos com bens materiais. Aprendi a ler a bíblia, aceitei que eu tenho um vício".

A imagem de Rogério, que a mãe mostra com todo o carinho. (Foto: João Paulo Gonçalves)
A imagem de Rogério, que a mãe mostra com todo o carinho. (Foto: João Paulo Gonçalves)

Foi durante esse processo de cura que a aposentada também aprendeu a lidar melhor com a morte do filho. "Eu perguntei para o pastor porque meu filho tinha sido tirado de mim. Ele explicou que não era meu filho, era de Deus. Eu aceitei melhor. Mas ainda é uma dor grande, a saudade, não há nada como perder um filho", lamenta. "Fico imaginando como seria minha vida se ele estivesse comigo. Sempre foi muito carinhoso, nunca acordava de mau humor. Nunca".

Hoje, após 8 anos sem beber, Cláudia ajuda quem precisa se livrar do vício e retomar sua vida. Ela faz isso pensando na sua experiência e, especialmente, pela memória de Rogério. "Nas reuniões, tem um menino que é meu filho todinho. Olha, fico até arrepiada. Eu falo: 'meu filho está aqui comigo'".

Conversa com jovens, faz palestras contando sua experiência e divulga as reuniões dos Alcoólicos Anônimos. Participa de ações em igrejas. Faz de tudo para ajudar e servir de exemplo positivo. Sua casa ela vendeu, seguindo o mantra de não se apegar a coisas materiais. "Eu tenho tudo o que preciso morando aqui e, se eu não gostar mais, eu me mudo", ensina.

Ao final da entrevista, Cláudia faz questão de nos lembrar que hoje, às 20h, no Salão Paroquial da Igreja São Francisco, haverá uma confraternização de 45 anos do Alcoólicos Anônimos, Grupo São Paulo e Al-Anon Campo Grande. "Várias pessoas vão dar relatos, pode ajudar muita gente. É aberto ao público", destaca, em sua incansável busca por ajudar quem precisa e fazer jus à memória de seu filho.

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