ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUINTA  25    CAMPO GRANDE 24º

Comportamento

Com 50 anos de história, Acir é o luthier mais antigo e sorridente do Centro

Ela conta ter sido restaurador de instrumentos de Benito di Paula e o clássico Sivuca

Willian Leite | 13/07/2018 06:20
A loja na Dom Aquino já tem mais de 10 anos, durante esse tempo, Acir já restaurou milhares de instrumentos. (Foto: Paulo Francis)
A loja na Dom Aquino já tem mais de 10 anos, durante esse tempo, Acir já restaurou milhares de instrumentos. (Foto: Paulo Francis)

Há 50 anos na criação e conserto de instrumentos musicais, Acir Garcia Maciel, de 75 anos, é um dos mais antigos luthiers de Campo Grande. Nesta caminhada parte da história musical de Mato Grosso do Sul passaram pelas suas mãos e já tiveram a sorte de rodar o mundo. 

Ele conta que em 1968, após uma década de trabalho como marceneiro, sonhou que estava fabricando uma harpa e não demorou muito para se interessar pelo ofício. Começou então a jornada de trabalho manual que, segundo ele, é um dom e necessita dedicação para crescer no ramo.

"Foi em Fátima do Sul que tudo começou. Sofri um acidente e me cortei com um machado. Depois de um mês, voltei a andar de muletas e precisava trabalhar. Havia um conhecido que era dono de marcenaria, lá fui pedir emprego", explica.

Com experiência, Acir veio para Campo Grande e deu continuidade ao trabalho em uma marcenaria no bairro São Francisco. Onde teve a oportunidade de fabricar o primeiro instrumento, uma harpa rústica.

Na imagem, uma das relíquias fabricadas pelas mães do luthier. (Foto: Paulo Francis)
Na imagem, uma das relíquias fabricadas pelas mães do luthier. (Foto: Paulo Francis)

"Fiquei pouco tempo aqui, logo meu irmão me chamou para ir a São Paulo (SP). Lá me envolvi com música e, nessa história, uma rádio me chamou para gravar um programa de música instrumental com duração de 30 minutos. Foi uma experiência que me ajudou a conhecer melhor os instrumentos".

O talento com as cordas teve inspiração nos restaurantes paulistas, foi durante jantares que o marceneiro, à época, observou um famoso harpista paraguaio que se apresentava para os clientes. Depois de prestar atenção nas canções, chegava em casa e ensaiava com sua harpa. "Durante o ano que estive em São Paulo tirei carteira de músico profissional e aprendi na raça, sem professor", lembra.

Mesmo tocando o instrumento, o ofício de luthier não ficou parado, Acir manteve os consertos, inclusive, de instrumentos de colegas que chegavam do Paraguai. "Refazia a estrutura e design", diz. "As harpas produzidas no país vizinho tinham muitos defeitos, mas eu queria perfeição. Até comprei uma pronta, mas tive que refazer, porque não tinha presença nenhuma", acrescenta.

Em 1971, de volta à Campo Grande, o trabalho minucioso resultou na parceria com a empresa Del Vecchio que, no final da década de 80, exportava os instrumentos produzidos por Acir para o exterior em países como Alemanha, Espanha e França.

"Não recebia o valor devido por todo o meu trabalho, mas não era essa minha intenção. Queria mesmo era trabalhar e ganhar dinheiro. E isso fiz durante 10 anos", explica.

Na estado vizinho, em Mato Grosso, Acir também fez história. Foi restaurador de piano e um dos clientes principais foi o pianista Valter avolisnk, Benito Di Paula e Severino Dias de Oliveira, mais conhecido como Sivuca. "Afinei os pianos para quem tocava na noite cuiabana e para o Sivuca, afinei seu acordeon", lembra orgulho.

Em um espaço de  12 metros o trabalho manual e desenvolvido de maneira minuciosa. (Foto: Paulo Francis)
Em um espaço de 12 metros o trabalho manual e desenvolvido de maneira minuciosa. (Foto: Paulo Francis)

No meio do caminho, Acir também descobriu desafios, principalmente, quando os instrumentos chegam destruídos. "Há 13 anos, um rapaz mandou fazer um violão no interior de São Paulo e tocava à noite. E durante uma briga, o instrumento foi parar na parede".

Mesmo em pedaços, não houve preguiça para o luthier que sempre deu conta do recado. "O rapaz não tinha dinheiro para pagar e na época ficou de graça o serviço".

Em alguns casos, a única vontade é recusar o instrumento, mas o valor sentimental fala mais alto e Acir encara o conserto."Tem instrumento que é quase impossível de restaurar. Mas, em alguns momentos, o violão é uma herança e existe um sentimento muito grande".

Hoje ele fala com propriedade da profissão, que apesar do tempo, continua a todo vapor na cidade e foi a transformação em sua vida. "Criei meus filhos fazendo isso, afinando piano, restaurando violões, harpas e cantando", afirma.

Material que prova a rusticidade do trabalho artesanal. (Foto: Paulo Francis)
Material que prova a rusticidade do trabalho artesanal. (Foto: Paulo Francis)

Por aqui ele garante que já recebeu instrumentos para conserto que vieram de Alta Floresta no Mato Grosso, Salto Del Guaíra no Paraguai e até Corrientes na Argentina.

"Sou conhecido pelo Brasil todo e,  também em alguns países da América Latina. Agora, por exemplo, estou cheio de serviço e tem dias que fico até tarde da noite trabalhando". 

Envaidecido, não nega a felicidade de ver um dos instrumentos feitos por ele, nos palcos do País e nas mãos do músico e instrumentista Marcelo Loureiro. "Em todo lugar, Marcelo faz questão de dizer que a harpa foi feita por mim, fiz com todo carinho", diz agradecido.

A loja do Acir fica na Rua Dom Aquino, nº 960, próximo a Av. Ernesto Geisel.

Nos siga no Google Notícias