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Comportamento

Com novo coração e promessa cumprida, Cleonice tenta achar família de doador

Paula Maciulevicius | 12/05/2016 06:10
Cleonice à época do transplante de coração na Santa Casa, com equipe que lhe cuidou tão bem. (Foto: Arquivo Pessoal)
Cleonice à época do transplante de coração na Santa Casa, com equipe que lhe cuidou tão bem. (Foto: Arquivo Pessoal)

Quatro horas e 282 quilômetros de distância separaram Cleonice do novo coração no dia 18 de março de 2013. A dona de casa que mora num sítio em Ivinhema correu contra o tempo para receber o transplante. Três meses de espera na fila e uma década de tratamento acabaram quando ela recebeu o órgão doado. Com as batidas do novo coração, Cleonice pode dar continuidade à vida que já estava quase acabando. Neste capítulo, ela também cumpriu a promessa que fez junto ao marido, de se casarem na igreja. 

Cleonice tinha 47 anos à época. Hoje com 50, a contagem regressiva é para subir mais um na idade. No peito, além de carregar novas batidas, a vontade de agradecer a fez procurar novamente a Santa Casa. Para poder abraçar quem ficou da pessoa que lhe deu a chance de viver. 

Por telefone, lá do sítio onde mora, Cleonice fala humildemente que sua intenção não é de fazer ou dar alguma coisa, até porque se declara uma mulher pobre. Talvez de bens materiais, mas gratidão ali não falta. "Não sei explicar o que eu tinha, só os médicos que sabem, mas minha vida já estava no final", conta Cleonice Maria Xavier Ribeiro Saraiva sobre o transplante, feito às 18h30 do dia 18 de março, três anos e um mês atrás. 

Depois do transplante, ela cumpriu a promessa de se casar na igreja. (Foto: Marcos Ermínio)
Depois do transplante, ela cumpriu a promessa de se casar na igreja. (Foto: Marcos Ermínio)

Foram 10 anos de tratamento até ela ser encaminhada ao transplante, conta a paciente. Neste meio tempo, fez uma promessa junto ao marido, de jurar amor na saúde e na doença - o que ele já vinha cumprindo - agora perante a igreja. "Depois do transplante, a gente ia casar na igreja. Ele me deu a maior força e dizia 'vai nega, confia em Deus que quando você voltar, nós casa'", conta.

Quando o telefone tocou e do outro lado da linha veio a informação do transplante, Cleonice se pôs a chorar. "Eu usava um aparelho para ajudar o coração, quando eles ligaram... Eu comecei a chorar. Minha vida estava na beira de um falecimento, se eu fazisse, era um risco. Se não fazisse, também. Mas graças a Deus, aos médicos e enfermeiros da Santa Casa, eu estou viva", diz.

Depois da cirurgia, foram 2 meses e 28 dias contados no calendário de recuperação, onde a dona de casa conta que ficou ligada a aparelhos, em coma e teve um problema no pulmão. "Mas o coração os médicos dizem que reagiu rapidão", afirma. 

Fotografia do casamento foi levada para capela da Santa Casa, onde tudo foi possível. (Foto: Marcos Ermínio)
Fotografia do casamento foi levada para capela da Santa Casa, onde tudo foi possível. (Foto: Marcos Ermínio)

Ao chegar em casa, passado todo período de recuperação, Cleonice procurou o padre da cidade e perguntou se podia se casar. A resposta não só foi afirmativa, ela também poderia usar vestido branco e véu. "Mas só ponhei vestido", detalha. O casamento - que cumpria a promessa feita - aconteceu em maio de 2014, um ano depois do transplante.

Além das fotos na igreja, a paciente fez questão de deixar uma imagem, em agradecimento, na capela da Santa Casa. Mãe de três filhos adultos e uma de 12 anos de criação, foi pelo pai que Cleonice chegou ao altar. "Era a realização de um sonho", diz.

O coração doado trouxe a ela fôlego também para realizar outro desejo. "Eu não fiquei sabendo de nada da família, mas tenho muita vontade de conhecê-la. Conhecer os amigos, a família, agradecer. Ele perdeu a vida, mas salvou uma e como eu carrego um pedaço dele no meu peito, minha vontade é de abraçar quem ficou", diz emocionada.

Apesar do vocabulário simples durante a nossa conversa, a gratidão faz dona Cleonice buscar as melhores palavras para dizer que quer conhecer a família que autorizou a doação daquele coração. "Não sei se é pensamento ou sonho, mas eu imagino que o coração venha de um rapaz de cabelo liso. Quero conhecer a família para ver se parecesse com esse sonho".

O hospital não tem permissão de fornecer dados dos pacientes e nem intermediar o contato com a família doadora. Dona Cleonice só quer abraçar e fazer com que o lado de quem doou sinta o que ficou daquele que partiu. 

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