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Comportamento

Corumbá celebra fim de ano com louvores a Iemanjá na beira do Rio Paraguai

Terreiros de umbanda e candomblé se unem na prainha e atraem milhares de pessoas na orla da cidade

Por Silvio de Andrade | 30/12/2025 15:23
Corumbá celebra fim de ano com louvores a Iemanjá na beira do Rio Paraguai
Celebração à Iemanjá faz parte do calendário de eventos de Corumbá. (Foto: Clóvis Neto)

Com mais de 60% da população afrodescendente, Corumbá é o centro das celebrações em louvor à Iemanjá, a Rainha do Mar, neste fim de ano. A tradicional manifestação, que reúne os 450 terreiros de umbanda e candomblé cadastrados pelas comunidades negras, iniciou na noite de segunda-feira, na beira do Rio Paraguai, e tem seu ápice nesta terça, quando a maioria das tendas ocupa a prainha do Porto Geral e atrai milhares de pessoas.

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Corumbá, cidade com mais de 60% de população afrodescendente, celebra o fim de ano com tradicional homenagem a Iemanjá às margens do Rio Paraguai. O evento, que reúne 450 terreiros de umbanda e candomblé, teve início na segunda-feira e alcança seu ápice na terça, atraindo milhares de pessoas ao Porto Geral. A celebração, que remonta ao início do século XX, marca a virada do ano com oferendas à Mãe das Águas. Ao som de atabaques e cânticos africanos, caboclos, pretos velhos e orixás realizam rituais e atendem fiéis em busca de bênçãos para o ano novo. A Prefeitura oferece apoio estrutural, garantindo iluminação, segurança e limpeza do local.

O evento é uma forte manifestação da matriz africana na cidade, que se soma ao Banho de São João, realizado em junho, e sua origem remonta aos primórdios do século XX. “Eu tinha oito anos nos anos 70 e já participava com minha família. Era um pouco diferente de hoje, a gente descia a pé para o rio em procissão, no dia 31, cantando, e fazia nossas oferendas”, lembra Pai Robson de Ogum, da Casa Ilê Axé Ogum Jaloya, uma das lideranças religiosas locais.

A celebração marca a virada do ano e homenageia a Mãe das Águas com grande participação popular – entre fiéis, simpatizantes e turistas. Caboclos, pretos velhos e orixás, ao som de atabaques, cânticos em idiomas africanos, velas e luz da lua, fazem suas oferendas à divindade e atendem as pessoas em busca de benção e pedidos de axé, saúde e prosperidade no ano novo. As águas calmas do rio recebem as oferendas lançadas em barquinhos de isopor.

Corumbá celebra fim de ano com louvores a Iemanjá na beira do Rio Paraguai
Ritual ao som de atabaques e cânticos eleva os pensamentos positivos ao novo ano. (Foto: Silvio de Andrade)

Igreja proíbe - Ao longo de décadas, o sincretismo religioso também marcou estas manifestações populares na região, mas a igreja católica se afastou. Na primeira década desse século, a louvação a Iemanjá era precedida do ritual de lavagem da escadaria da Matriz de Nossa Senhora da Candelária, erguida em 1885, com a presença de todas as tendências religiosas. Em 2013, a diocese de Corumbá não permitiu mais esse tipo de celebração, que incluía missa.

Com essa decisão, protestada pelas entidades de origem africana, a homenagem a Iemanjá se concentra hoje na beira do rio – a chamada prainha, onde os corumbaenses se reúnem nos fins de semana para se banharem e refrescarem do forte calor. O local foi cuidadosamente preparado, trabalho realizado pela prefeitura, com iluminação, banheiros químicos, limpeza e raspagem do terreno para receber as entidades e o público. Também é garantida a segurança.

“A organização das celebrações segue sendo conduzida pelas pessoas de terreiro, responsáveis e protagonistas do evento. À prefeitura cabe apenas oferecer apoio estrutural e logístico, respeitando a tradição e assegurando que o espaço esteja adequado para receber a todos”, informou a Fundação de Cultura de Corumbá. O apoio inclui um pedido especial das comunidades: impedir o som mecânico da praça de alimentação, que atrapalha o ritual de fé.