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Comportamento

Crianças salvaram o ano ao mostrar que o "pouco" é muito para ser feliz

2016 não foi tão ruim assim se a gente olhar para tudo o que os pequenos nos ensinaram

Paula Maciulevicius | 26/12/2016 06:25
Davi, protagonista do vídeo que ganhou o País: "Vai Davi, vai Davi!" (Foto: Arquivo/Paula Maciulevicius)
Davi, protagonista do vídeo que ganhou o País: "Vai Davi, vai Davi!" (Foto: Arquivo/Paula Maciulevicius)

Inácio emocionou ao prometer cuidar da mãe com esclerose múltipla. Uma turminha que encantou pais e alunos ao dançar a quadrilha sentada, como Manuella, na cadeira de rodas. As crianças que organizaram a primeira festa de aniversário do menino autista. A netinha que usa peruca junto da avó que tem câncer, sem nem ao menos entender o que significa estar "dodói" assim. Dois garotinhos surpreenderam ao se vestir de gari e até escolher a coleta de lixo como tema para os parabéns. E Davi, o menino que com a torcida dos colegas, andou pela primeira vez aos 6 anos.

De janeiro a dezembro, o Lado B riu e chorou junto com as crianças. E elas nem tinham noção de que podiam fazer isso com mais de 400 mil leitores. Se na avaliação geral, o ano não foi bom, os pequenos mostraram que olhar para os colegas, avó e os amigos garis com amor, se é capaz de mudar o mundo.

Somos apaixonados por pautas infantis, porque são as crianças que nos ensinam, sem nenhuma pretensão, a sermos pessoas melhores. E eles fazem isso de forma tão natural que a gente se pergunta quando foi que perdemos a capacidade de nos colocar no lugar do outro de forma tão automática.

Em fevereiro, um "Fale Conosco", canal de comunicação dos leitores com quem escreve no Campo Grande News, chegou à redação com um pedido de ajuda. A mensagem revelava a história de Edna Xavier Osório, funcionária pública estadual aposentada aos 43 anos, por ter esclerose múltipla.

A entrevista era sobre a doença que há quatro anos consome Edna. Fomos até a casa dela, no bairro Moreninhas, em Campo Grande e enquanto a mãe narrava as consequências crueis da doença, Inácio não parava quieto entre o sofá e a bicicleta, mas os ouvidinhos estavam mais atentos do que nunca e ao escutar o drama de Edna, que pensava como seria no futuro, com o avançar da doença, não pensou duas vezes e falou baixinho:  “Eu vou estar aqui com você para te levantar”. As palavras emudeceram e fizeram mãe e equipe se emocionarem. A reportagem mudou completamente o gancho. Inácio foi herói em casa.

Aos 5 anos, Inácio emociona ao prometer cuidar da mãe com esclerose múltipla

Inácio ao lado da mãe Edna. Com 5 anos, ele disse que estaria ali, para levantar ela. (Foto: Arquivo/Fernando Antunes)
Inácio ao lado da mãe Edna. Com 5 anos, ele disse que estaria ali, para levantar ela. (Foto: Arquivo/Fernando Antunes)

E em junho, em meio às festas de São João. Uma quadrilha do Jardim III encantou adultos. As crianças entre 5 e 6 anos praticaram a empatia, sem nem ao menos saber o que significa. No ensaio para a festa junina da escola, professores e alunos fizeram uma coreografia para incluir Manuella, que aos 5 anos, estava numa cadeira de rodas. 

A pauta surgiu a partir de uma foto postada no Facebook no dia do evento. No sábado à noite, a também jornalista e professora, Juliana Feliz, descreveu a emoção dela, como mãe de alunas da escola, ao ver a inclusão até na festa de São João. Na segunda-feira, o Lado B estava lá, batendo à porta da escola para ouvir de Manuella como foi dançar com as mãos e bracinhos.

Turma encanta ao dançar quadrilha sentada, como Manuella na cadeira de rodas

Lúdica, colorida e encantadora. Foi assim que seguiu a quadrilha do Jardim III, com Manuella na cadeira de rodas. (Foto: Arquivo/Oselame Produções)
Lúdica, colorida e encantadora. Foi assim que seguiu a quadrilha do Jardim III, com Manuella na cadeira de rodas. (Foto: Arquivo/Oselame Produções)

Imagina ter a primeira festa de aniversário somente aos 8 anos? Sem ter amigos para convidar, Lourenzo só teve os parabéns cantados para em agosto deste ano. A festinha foi organizada de surpresa, por amigos autistas iguais a ele. Foi a primeira vez que ele fez amigos. 

Antes da velinha, ele só saía com a mãe para ir ao shopping. Era esta a comemoração de aniversário. No dia, não se sabe quem chorou mais, mãe, menino ou as famílias dos autistas. O grupo de mães que organizou se solidarizou porque sentem na pele o que é quando o filho não é aceito por uma turma. 

As crianças não entendia a importância do evento. E preferiram se divertir e abrir os presentes junto do aniversariante. Para 2017, os pais já têm quem convidar para os 9 anos do menino. 

Sem ter quem convidar, menino autista só ganhou festa de aniversário aos 8 anos

Pela primeira vez, Lourenzo soprou velinha do bolo na festa de aniversário. (Foto: Arquivo/Gerson Walber)
Pela primeira vez, Lourenzo soprou velinha do bolo na festa de aniversário. (Foto: Arquivo/Gerson Walber)

Em 2016, garis também ganharem publicamente todo o reconhecimento que têm das crianças. Em agosto, João Guilherme, de 5 anos, fez uma surpresa aos amigos do caminhão de lixo e quando os funcionários da Solurb chegaram, ele que sempre vai receber a equipe estava devidamente uniformizado. A família providenciou junto à empresa um uniforme do tamanho dele. 

De surpresa, menino se veste de gari para receber os amigos do caminhão de lixo

O menininho que sonha em ser coletor de lixo emocionou um dos garis, seu Antônio. "Quando o caminhão chegou, ele já estava lá de uniforme. Eu ainda perguntei para a mãe dele: aonde que a senhora mandou fazer esse uniforme? Eu fiquei sem palavras quando eu vi ele uniformizado, pequenininho e querendo correr", conta Antônio.

João Guilherme preparou surpresa para os amigos na última quinta-feira, no Nova Campo Grande. (Fotos: Arquivo Pessoal)
João Guilherme preparou surpresa para os amigos na última quinta-feira, no Nova Campo Grande. (Fotos: Arquivo Pessoal)

A sugestão de pauta chegou através de uma leitora que achou e acertou, a história merecia ser contada. Este ano não teve greve como 2015, quando pela ausência, os coletores de lixo passaram a ser visíveis.

O carinho dos pequenos que sempre existiu, passou a ser escancarado pelos pais que realizaram sonhos, como Marcos Vinícius, que na festinha de 4 anos, enlouqueceu a mãe. Ele só aceitava a decoração dos "meus amigos". O garotinho deixou os super-herois, sugeridos pela mãe para trás.

Aí foi a vez de dona Marcelina sair correndo atrás do caminhão de lixo para saber deles como podia conseguir o uniforme. A empresa ao ficar sabendo, deu a roupinha e os funcionários fizeram uma vaquinha para bancar a festinha que foi na escola. E claro, contou com a emoção das estrelas da festa. O caminhão chegou e os coletores eram convidados de honra.

Menino troca super-herói pelos amigos e ganha festa de lixeiro no aniversário

Marcos Vinícius de uniforme na festa temática. (Foto: Arquivo/Fernando Antunes)
Marcos Vinícius de uniforme na festa temática. (Foto: Arquivo/Fernando Antunes)

No futuro, Bibi vai entender que esteve ao lado da avó, dando o apoio que podia, quando ainda não entendia a gravidade da doença. Aos 4 anos, a menina é a alegria da família e foi exemplo ao dizer que também usaria "peluca" junto com Luciana. A avó tem câncer e perdeu os cabelos na quimioterapia.

A menina que antes da doença chegar ficava só com a vovó, passou a ir para a escola. O vínculo entre as duas não mudou nada. A netinha continua sendo os olhos de Luciana e a razão dela estar lutando. Sem saber dos riscos do câncer e do sofrimento que o "dodói" faz, Bibi é sincera ao dizer que o vovô "acabou com o cabelo" de Luciana, ao raspar os poucos fios e mais ingênua ainda ao chamar tudo de "peluca", a própria peruca, como chapéu, bonés e lenços.

Sem nem imaginar o que é o câncer, Bibi cuida da avó usando peruca e sombrinha

A pouca idade não permite que a netinha compreenda o que é a doença, mas por outro lado, a ingenuidade colore a vida da avó. (Foto: Arquivo/Fernando Antunes)
A pouca idade não permite que a netinha compreenda o que é a doença, mas por outro lado, a ingenuidade colore a vida da avó. (Foto: Arquivo/Fernando Antunes)

E se teve uma história que provou o quanto as crianças são incríveis foram os 40 segundos gravados em vídeo na escola municipal Vanderlei Rosa de Oliveira, no bairro Novos Estados. "Vai Davi, vai Davi!" Nele, os 26 alunos da classe de Davi aparecem batendo palmas e em coro para que o coleguinha consiga andar.

O menino com paralisia cerebral deu os primeiros passos sozinho aos 6 anos, na sala de aula. A torcida calorosa o contagiou a ponto de faze-lo ir e voltar do quadro e terminar a caminhada num abraço à professora. 

Pauta do Lado B, o vídeo ganhou o País, bateu mais de 80 mil visualizações e chegou a ser publicado na revista Veja, entre tantos outro sites. Davi também deu inúmeras outras entrevistas, abrindo este sorrisão como fez para a gente. Ele vibrava até dias depois do vídeo só de ouvir, de longe, os gritos daquela tarde de novembro.

Crianças emocionam ao torcer por colega que andou sozinho pela 1ª vez aos 6 anos

O que as crianças, sem perceber, fizeram por Davi vai levá-lo a andar muito mais longe e quem sabe, até correr em 2017.

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