Da 4ª geração da Tia Eva, ex-líder de quilombo morre aos 60 anos

Morreu nesta segunda-feira (18) a ex-presidente da comunidade quilombola Tia Eva, de Campo Grande, Lucia da Silva Araujo Almeida. Ela tinha 60 anos e era uma das descendentes da quarta geração da fundadora do local, a tataravó e ex-escravizada Eva Maria de Jesus.

Lucia liderou a comunidade por oito anos e, atualmente, estava na vice-presidência. Deixa o marido, duas filhas, um filho e quatro netos, todos também moradores da Tia Eva.

Ela estava internada há 41 dias na Santa Casa da Capital devido a complicações da diabetes. Conforme informou o hospital à família, ela não resistiu e faleceu às 8h de hoje.

"Era uma pessoa maravilhosa, que deixava de fazer por ela mesma para fazer pelos outros. Brigava por todos quando necessário, sempre muito disposta a fazer as coisas para a comunidade progredir", descreve a filha Daiana Almeida, 34.

Antes de ser internada, e mesmo já debilitada pela doença crônica, a ex-presidente se organizava para montar uma nova chapa e concorrer a mais um mandato como presidente. "Ela estava sempre pensando na comunidade", pontua a filha, emocionada.

Personalidade negra - Como presidente, Lucia deixou legados à Tia Eva como um projeto de corte, costura e bordado, que gerou renda e ensinou profissão aos moradores.

Ela estava envolvida também na criação de um corredor gastronômico que vai priorizar empreendimentos da comunidade. A construção foi autorizada ainda este ano pela Prefeitura de Campo Grande.

Por essas e outras ações à frente da comunidade, além de ser personalidade que promovia a reafirmação da identidade negra e a luta antirracista, ela foi homenageada em 2017 com a medalha Zumbi dos Palmares, na Câmara Municipal de Campo Grande.

A comunidade - De acordo com a atual presidente da Tia Eva, Ronaldo Jeferson da Silva, a comunidade possui cerca de 500 moradores.

O local é definido como uma comunidade urbana remanescente de quilombo desde 1905 e reconhecida pela Fundação Cultural Palmares.