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Comportamento

De aniversário, menino ganha presente dos amigos: 1 foto no caminhão de lixo

Paula Maciulevicius | 04/11/2014 06:21
Benjamin completou 3 anos e de aniversário ganhou o registro. (Foto: Arquivo Pessoal)
Benjamin completou 3 anos e de aniversário ganhou o registro. (Foto: Arquivo Pessoal)

Todos os sábados, faça chuva ou faça sol, a família de Benjamim Almeida Correia, no bairro Aero Rancho, precisa acompanhar o pequeno no final da manhã e abrir o portão quando, de longe, ele ouve o barulho dos amigos chegando. O caminhão de lixo, ainda parado na rua de trás, já é o aviso para ouvidos atentos. Neste último sábado, a parada dos coletores de lixo foi diferente. Sempre saudados pelo morador mirim, eles tiveram de parar para as fotos. Benjamim completou 3 anos e de aniversário ganhou o registro.

O pequeno é uma simpatia em pessoa. Se comunica abertamente, faz um joia com a mãozinha para quem chega e não esconde sorriso não. Escancara a alegria que tem em falar dos amigos. E ai de quem soltar "lixeiros" perto dele. O garoto sai em defesa: "não, são meus amigos". A fala sai emendada e quem ouve escuta "zamigos" de um modo tão inocente que parece que a palavra até ganha outro sentido, de quem enxerga amizade até mesmo em quem só passa em frente de casa uma vez na semana.

"Eu espero", diz Benjamim. E posiciona a cadeirinha num "faz de conta", como se essa segunda fosse sábado. Ele aponta de onde o caminhão vem, em que lado para e também de onde eles retiram o lixo da casa dele. "Tchau amigos, tchau", se despede. As idas e vindas são rápidas, mas o suficiente para cativar o carinho no pequeno.

No "faz de conta", ele reproduziu como é ficar a espera dos amigos. (Foto: Alcides Neto)
No "faz de conta", ele reproduziu como é ficar a espera dos amigos. (Foto: Alcides Neto)

A mãe que assiste todos os sábados a mesma cena, a técnica administrativa Sara Abigail Correia, de 32 anos, foi quem incentivou o contato, não sabendo ainda o quanto seria duradouro.

"A história começou quando ele tinha 1 aninho e tinha medo. Ele não podia ver o caminhão. Aí numa conversa com ele, eu expliquei que não precisava ter medo, que eles eram bonzinhos, amigos e começou a despertar isso nele", explica. Na criação do filho, ela e o marido Gedeon Jesus Correia, de 34 anos, sempre buscaram ser abertos e não criar medos na criança antes do tempo.

"Todo sábado, que é o dia que passam lá em casa, ele por si só, pega a cadeirinha de plástico e coloca lá na frente e fica sentadinho esperando os amigos. Quando ele ouve o barulho, já grita: 'olha os meus amigos'", reproduz a mãe.

O detalhe é que já teve sábado em que Benjamim dormia na rede da varanda e ainda assim despertou com o barulho. O caminhão chegava e ele precisava dar tchau. "Quando chove, ele pede para levantar portão de elevação para ele ficar esperando. Eu procuro não negar isso pra ele", comenta Sara.

Do outro lado a resposta que os coletores de lixo dão é um oi bem animado. "Eles falam oi amiguinho, tchau amiguinho". Neste sábado, por ser aniversário de 3 anos do menino Benjamim, a mãe foi quem gritou primeiro, pedindo para que eles parassem e fizessem a foto.

"Eu pensei, hoje vou me arriscar a receber um não. Eles passam, tão rápido que eu achei que não ia dar tempo. Pedi moço, pelo amor de Deus, faz a alegria do meu filho. Ele é muito fã de vocês", relata.

No sábado, o cumprimento e o abraço veio depois que eles coletaram o lixo. O menino espera. (Foto: Arquivo Pessoal)
No sábado, o cumprimento e o abraço veio depois que eles coletaram o lixo. O menino espera. (Foto: Arquivo Pessoal)

Do outro lado, os três coletores e mais o motorista não negaram. "Vem cá amiguinho eles disseram e um deles perguntou se podia pegar ele no colo. Eu falei que claro que podia! Foi muito rápido, mas eu consegui tirar foto", completa a mãe.

Na rua de casa e nem nas ruas vizinhas ela nunca viu criança ter um carinho assim. O contato mais próximo que Benjamim teve dos amigos foi no último sábado. A mãe acredita que o que chama atenção do menino é o fato de que os coletores são receptivos com ele e devolvem os cumprimentos.

"Ele gosta de dar oi para as pessoas e acho que o caminhão e a movimentação que eles fazem, sabe? Eles são um exemplo de trabalhadores, vivem sorrindo, gritando, passam fazendo farra aqui", acredita Sara.

Nas palavras do menino, é o caminhão e o verde do uniforme que ele diz gostar. A família relata que nunca podou tal comportamento, nem com eles e mais ninguém. "Não tenho medo de ele ir mudando. O que as pessoas dizem influencia, mas o pilar da educação de um filho é o pai e a mãe. Quando dizem 'lixeiro', ele responde não. 'São os meus amigos. Não é para chamar de lixeiro, é para chamar de amigos' e eu pego e corrijo quem está falando também", descreve Sara.

O pequeno entende qual é o trabalho dos amigos e até ajuda a embalar o lixo que eles vem tirar na porta de casa. Embora na hora de explicar na entrevista, ele diga: "eles vem trazer aqui o lixo". Não importa a ordem, o que ele não pode deixar de ver são os amigos e nem falar tchau.

O Lado B tentou localizar a equipe junto à Solurb, concessionária que administra a coleta de lixo da Capital, mas não conseguiu ainda os nomes de quem são. A única referência é o horário, entre 10 e 11h da manhã, aos sábados, na Rua Laura Vicunha, no Aero Rancho e também a simpatia dos moços.

O pequeno ajuda a embalar o lixo que eles vem tirar na porta de casa. (Foto: Alcides Neto)
O pequeno ajuda a embalar o lixo que eles vem tirar na porta de casa. (Foto: Alcides Neto)
A família relata que nunca podou tal comportamento, pelo contrário: incentiva. (Foto: Alcides Neto)
A família relata que nunca podou tal comportamento, pelo contrário: incentiva. (Foto: Alcides Neto)
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