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Comportamento

Decos deixou vivos na memória técnica e glamour como cabeleireiro das socialites

Cabeleireiro foi pioneiro em Campo Grande e ensinou muitas pessoas nas décadas de 70, 80 e 90

Danielle Valentim | 07/04/2018 07:10
Em 2012, quando levou o título de originalidade com a fantasia "O lírio branco de Pequim". (Foto: Edayane Dias)
Em 2012, quando levou o título de originalidade com a fantasia "O lírio branco de Pequim". (Foto: Edayane Dias)

Vivendo intensamente duas paixões, o cabeleireiro e carnavalesco que assinava fantasias com o nome Decos Wanderley é lembrado como o profissional que durante anos foi disputado pelas socialites de Campo Grande, principalmente, das primeiras-damas. Cheio de glamour, não recebia ninguém mal vestido e produzia a mulherada como ninguém nos salões que teve pela cidade. Infelizmente, como as redes sociais não eram realidade lá pelas décadas de 1980 e 1990, encontrar imagens dessas produções não é tarefa fácil, mas os relatos dos amigos ajudam a entender as cenas protagonizadas por ele.

Decos faleceu no início de março, após uma semana de internação. Da fama ao caos, a informação é de que nos últimos anos o cabeleireiro se afundou no uso de bebidas alcoólicas e vivia isolado, longe da família e do fluxo de clientes de 30 anos atrás. 

Por muito tempo, o cabeleireiro atendeu homens e mulheres em um salão na Rua Maracaju, próximo ao Extra e quando os conhecidos são convocados a lembrar dele, todos falam que Decos não trabalhava se não fosse “muito bem produzido e maquiado”.

Este seria o último espaço em que Decos atendia. (Foto: Reprodução)
Este seria o último espaço em que Decos atendia. (Foto: Reprodução)

A cabeleireira e costureira Marlene da Silva, de 56 anos, é uma das primeiras a lembras da “fama da vaidade” do amigo. Com saudade, se recorda da troca de “looks” para cada cliente diferente que chegava.

“Isso já tem mais de 20 anos. Estava grávida da minha primeira filha, quando o auxiliei em uma época de Carnaval. Ele era o que se pode dizer 'top de linha'. Minha irmã e eu costurávamos para ele. Eu também o ajudava no salão, lavando alguns cabelos. Agora, uma coisa que lembrei e me deu até saudade era da ‘chiqueza’ dele. Como eu era de dentro da casa dele, via tudo o que acontecia desde cedo. Lembro que ele acordava por volta das 10h, já todo produzido. Às 11h, quando atendia seu primeiro cliente, estava com uma roupa, ás 11h30 ou meio dia, quando chegava o segundo cliente, ele fazia outra troca de roupa. Ele era muito vaidoso”, relata Marlene.

Antes disso, no fim da década de 1980, a podóloga e manicure Elizabete Ferreira de Moraes, de 51 anos, também conheceu Decos. Era uma época de união da categoria, garante, quando o bom gosto e rapidez do trabalho do hair stylist se destacava.

“Não cheguei a trabalhar com o Decos, mas conhecia seu trabalho. Naquela época, a área da beleza tinha até associação, almoços, encontros. Então, quem trabalhava com isso se conhecia. Decos era criativo, alegre, brincalhão. Fazia um cabelo em menos de meia hora e fazia bem feito. Sem contar a clientela, todas da alta sociedade”, reforça.

Deco brilhava no salão e nas passarelas do samba. Francis Fabian, carnavalesco da Deixa Falar, escola de samba vencedora do Carnaval de Campo Grande 2018, recorda muito bem do estilo do amigo. “Era de um extremo bom gosto, ele sempre concorria com a originalidade, pois criava as próprias fantasias. Além disso, não dá para deixar de lado o glamour das maquiagens, ele tinha diferencial.”

Alguns títulos em concursos comprovam a afirmação de Fabian. Em 2010, depois de dois anos sem concursos de fantasias em Campo Grande, Decos levou o primeiro lugar na Categoria Originalidade com a fantasia “Maracatu de Prata”. Em 2012, na mesma categoria, levou o título com a fantasia "O lírio branco de Pequim". À época, o primeiro lugar levou R$ 2 mil.

 À época, Decos levou o primeiro lugar e recebeu R$ 2 mil. (Foto: Edayane Dias)
À época, Decos levou o primeiro lugar e recebeu R$ 2 mil. (Foto: Edayane Dias)

O vereador Valdir Gomes (PP), amigo de passarela, frisa que Decos sempre brilhou, “na vida e no Carnaval”. “Infelizmente morava sozinho, não tinha família, mas sempre brilhou no Carnaval e na vida. Ele era tão querido, que quando faleceu, muitas pessoas me ligaram, para agradecer os cuidados com ele”, disse Valdir Gomes.

O hair stylit e maquiador Fernando Milfers reforça que Decos foi um cabeleireiro pioneiro em Campo Grande e, por isso, um professor para muitos. Para Fernando, tecnicamente, ele foi imbatível durante as décadas de 70, 80 e 90.

“Falar do Decos é uma coisa bastante difícil, porque não tenho palavras. Ele foi o primeiro cabeleireiro mesmo, que veio para Campo Grande. E como cabeleireiro ele ensinou, ele deu a mão para muitos que estavam começando, ele serviu de espelho para muitos que hoje estão no mercado. Tecnicamente, ele era imbatível. Ele atendia um grande número de clientes entre as décadas de 70, 80 e 90. Infelizmente, como todos nós temos erros e acertos, ele se entregou um pouco na bebida, mas foi um exímio cabeleireiro. Ele sempre foi meu ídolo, desde criança, quando comecei como engraxate, sempre me espelhei muito no trabalho dele”, relatou Fernando.

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