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Comportamento

Deixado por ex-governador, acervo tem até escrivaninha de Vespasiano Martins

Fotos e livros de Wilson Barbosa Martins também estão disponíveis para consulta no Instituto Geográfico de Mato Grosso do Sul

Kimberly Teodoro | 25/05/2019 08:51
Capa ressecada e marcada pelo tempo preserva memória dos primeiros Barbosa em Mato Grosso do Sul (Foto: Kísie Ainoã)
Capa ressecada e marcada pelo tempo preserva memória dos primeiros Barbosa em Mato Grosso do Sul (Foto: Kísie Ainoã)

Lar da história de Mato Grosso do Sul, o Instituto Histórico Geográfico de Mato Grosso do Sul (IHGMS), é também, endereço do acervo pessoal e político de Wilson Barbosa Martins. Guarda, principalmente, móveis, livros e fotografias. Os itens chegaram ao arquivo há cerca de um ano, doados pela família após a morte do ex-governador.

Memórias e vestígios do passado se misturam no segundo andar do casarão histórico da Avenida Calógeras, que serve de sede ao instituto. Entre materiais e objetos que pertenceram a outros grandes nomes regionais, ainda há caixas de documentos fechadas, álbuns fotográficos ainda não catalogados e incontáveis livros que vieram da biblioteca pessoal de Wilson.

Nas páginas amarelas, nomes, datas de nascimentos, falecimentos e até receitas caseiras (Foto: Kísie Ainoã)
Nas páginas amarelas, nomes, datas de nascimentos, falecimentos e até receitas caseiras (Foto: Kísie Ainoã)

“Tenho em meus guardados um livro de couro”, escreve Wilson Barbosa Martins em seu livro de memórias. Herança de família, o mesmo livro é uma das relíquias mais fascinantes do acervo. A capa de couro ressecada e marcada pelo tempo ainda preserva a costura, feita a mão, intacta. Dentro, as páginas frágeis estão amareladas e gastas ao ponto de “esquecerem” algumas das informações anotadas ali.

Em "Janela da história", auto-biografia do ex-governador ele também descreve o conteúdo encadernado em couro: "Sua capa dura e ressecada protege anotações que ali foram sendo gravadas no decorrer do tempo. Nascimento dos filhos, notas de falecimento, compromissos assumidos e até receitas caseiras para os males do corpo. A data dos primeiros escritos não é possível precisar, as últimas são de 1914".

Em suas memórias ele conta nunca ter acrescentado uma única linha às páginas amareladas, mas guardou por mais de 20 anos o registro familiar que pertenceu a um dos primeiros Barbosa a pisar em terras, que mais tarde, seriam o Estado de Mato Grosso do Sul. Material delicado, o livro não deve ficar exposto à luz do sol e é apenas manuseado por mãos cuidadosamente calçadas com luvas, por isso fica muito bem guardado e protegido por um envelope no escaninho junto aos outros documentos arquivados.

Abertura do I Jogos Abertos Indígenas de MS (Foto: Kísie Ainoã)
Abertura do I Jogos Abertos Indígenas de MS (Foto: Kísie Ainoã)
Registro da visita de Wilson e Nelly ao Japão em 1964 (Foto: Kísie Ainoã)
Registro da visita de Wilson e Nelly ao Japão em 1964 (Foto: Kísie Ainoã)

Os álbuns de fotos ainda não foram indexados ao acervo, mas um breve olhar é suficiente para entender a importância das imagens registradas ainda em preto em branco.

Uma vez que os passos da carreira política de Wilson são também parte dos caminhos do nosso estado. Nas páginas, está, por exemplo, registro da primeira viagem feita por ele e pela esposa Nelly Martins ao Japão, em um momento histórico de diplomacia em uma das nações amigas do estado, uma vez que Mato Grosso do Sul é lar para a segunda maior colônia de imigrantes japoneses no país.

Em outro álbum, fotos da visita de Pelé, na época Ministro Extraordinário dos Esportes, em visita a Campo Grande para a abertura da primeira edição dos Jogos Abertos Indígenas de MS.

Escrivaninha que pertenceu a Vespasiano Martins, sogro de Wilson Barbosa Martins (Foto: Kísie Ainoã)
Escrivaninha que pertenceu a Vespasiano Martins, sogro de Wilson Barbosa Martins (Foto: Kísie Ainoã)

Destinada ao espaço central da sala que no futuro receberá o nome de Vespasiano Martins, sogro de Wilson Barbosa Martins, está a escrivaninha de madeira maciça que pertenceu ao mesmo. Clássica, com tampa móvel e inúmeros compartimentos e gavetas, o modelo data de 1940, também foi usada por Wilson incontáveis vezes e serviu de suporte para cartas escritas para amigos e aliados políticos, que fizeram parte da história de Mato Grosso do Sul.

Volumes de História do Brasil de Rocha Pomba (Foto: Kísie Ainoã)
Volumes de História do Brasil de Rocha Pomba (Foto: Kísie Ainoã)
Livros de história da coleção pessoal de WIlson Barbosa Martins (Foto: Kísie Ainoã)
Livros de história da coleção pessoal de WIlson Barbosa Martins (Foto: Kísie Ainoã)
De Manoel Bandeira a Couto Magalhães, literatura também foi presente na estante de Wilson (Foto: Kísie Ainoã)
De Manoel Bandeira a Couto Magalhães, literatura também foi presente na estante de Wilson (Foto: Kísie Ainoã)

Na estante de vidro, títulos raros, primeiras edições e clássicos que pertenceram à coleção pessoal de Wilson, conhecido por ser leitor ávido. Os volumes completos de história do Brasil, de Rocha Pombo e “o que há de mais fino dentro da literatura mundial e nacional”, de acordo com Madalena Greco, diretora-executiva do instituto.

Responsável por proteger a “memória” do Estado, a historiadora trabalha no acervo desde que o material chegou ao instituto, mas sozinha na função e com poucos recursos, a catalogação tem sido lenta. “Nós historiadores trabalhamos em um tempo diferente do resto do mundo”, brinca sobre o comprometimento necessário para ler e selecionar tudo o que chega até as próprias mãos.

“É um trabalho que exige muito cuidado, ética e responsabilidade, porque a família que doa esses documentos confia no nosso trabalho para preservar a história e o nome dessas pessoas”. Por isso, a seleção é criteriosa. Depois de limpar cada documento, que às vezes chega com fungos, poeira entre outras marcas do tempo, ela também classifica e indexa cada arquivo individualmente para depois fotografar em alta resolução e acrescentar à miro-teca que poderá ser consultada pelo público.

O Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul fica localizado na Avenida Calógeras, 3000 - Centro, Campo Grande. O horário de atendimento é das 7h às 11h e da 13h às 17h, de segunda a sexta-feira. Para mais informações, o telefone de contato é 3384-1654.

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