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Comportamento

Depois de carrinho pegar fogo, amigos fazem surpresa para vendedor de churros

Aline Araújo | 30/07/2014 22:19
Agradecimentos na entrega do presente, na esquina da 13 com a Afonso Pena. (Foto: Marcelo Calazans)
Agradecimentos na entrega do presente, na esquina da 13 com a Afonso Pena. (Foto: Marcelo Calazans)

"Eu estava no trabalho,mas não tinha nada marcado para aquele dia, quando o pessoal da empresa me ligou e pediu para que eu fosse fazer umas fotos na Praça Ary Coelho, no Centro de Campo Grande. Passei pela rua 13 de maio esquina com a Afonso Pena e vi um carrinho de pipoca novinho, quando atravessei a rua escutei um estouro. Ao olhar, vi o carinho em chamas. Fiquei pensando em uma maneira de ajudar, que eu deveria estar ali por algum motivo".

O relato acima é do fotógrafo Claudionor Gomes da Silva, de 41 anos. A cena que presenciou foi da explosão da mangueira do gás do carrinho de pipoca de Valdevino Denarte, de 48 anos, o "Divino”, justamente, no primeiro dia de uso. Oito meses depois, a história teve um final surpreendente para o vendedor ambulante, que ganhou um carrinho novo, com direito a logomarca e marketing, graças a vaquinha entre amigos organizada pelo Facebook.

Divino tinha comprado o antigo carrinho por R$ 400,00, economizados no tempo que trabalhou vendendo churros. Ele queria mesmo era comprar um carrinho próprio para vender churros, mas como é mais caro, acabou optando pelo de pipoca. O sonho de melhorar nos negócios acabou em um dia, mas ele nem imaginava que naquele momento, do outro lado da rua, uma nova possibilidade estava nascendo.

Dia em que o carrinho pegou fogo. (Foto: Claudioinor Gomes)
Dia em que o carrinho pegou fogo. (Foto: Claudioinor Gomes)

Claudionor concluiu o trabalho na praça sem parar de pensar em um modo de ajudar. Quando voltou, sem saber quem era o dono do carrinho, deixou o recado com o pessoal da banca de jornais ao lado e o número de telefone no posto de combustível que fica em frente. Assim, quando descobrissem de quem era o carrinho, o dono poderia entrar em contato.

No mesmo dia, 6 de novembro de 2013, a estudante de Administração, Ana Paula, filha de Divino, ligou para o pai para saber como tinha sido as vendas do primeiro dia como pipoqueiro. “Ele disse que tinha acontecido uma tragédia e eu precisava ir para lá”. Ela pediu dispensa no trabalho para socorrer o pai e chegando no cruzamento da 13 com a Afonso Pena, viu Divino sentado, olhando para o carrinho destruído.

A maré de azar começou a mudar no dia em que o dono da banca de jornais chamou Ana e deu o recado deixado por Claudionor. Ela ligou e encontrou o fotógrafo disposto em ajudar. A filha contou sobre o sonho do pai em voltar trabalhar com churros e toda a história que envolvia o carrinho de pipoca recém comprado e ali começaram a pensar em uma surpresa daquelas.

Claudionor com o novo carrinho. (Foto: Marcelo Calazans)
Claudionor com o novo carrinho. (Foto: Marcelo Calazans)

Três dias depois, o fotógrafo ligou para o vendedor, foi o primeiro contato entre os dois, perguntou se ele estava bem. “Eu imaginei que ele estaria depressivo, acho que a maioria das pessoas na situação dele ficariam. Pensa ver suas economias e os seus sonhos pegarem fogo e você não poder fazer nada?”. Mas não foi o que aconteceu, Divino disse que estava bem e vendendo água na praça.

Ali, a vontade de ajudar se multiplicou entre várias pessoas. “Cheguei na praça e encontrei ele vendendo água em um isopor escrito “uso veterinário”, voltei em casa, imprimi uma folha adesiva com o escrito vende-se água e levei e colei no isopor, ele questionou o porquê. Eu só disse que era para ajudar nas vendas”.

Claudionor, de volta para casa, falou com a esposa e não pensou duas vezes em chamar os amigos para uma ação conjunta em beneficio de Divino. E assim, por meio do Facebook, nasceu a campanha para o carrinho do “Churros do Divino”.

A união de forças foi feita pela rede social, cada um poderia doar a quantia que quisesse para ajudar na compra do carrinho que sairia em torno de 3 mil reais. Para mobilizar a campanha, ele criou uma página onde prestava contas sobre cada doação que um amigo fazia.

Alguns ajudaram com dinheiro, outros com trabalho. “Sozinho, a gente não pode fazer nada, mas quando todo mundo ajuda um com R$ 10,00, com R$ 50,00, ou com o talento, a gente vai longe”.

Depois de procurar muito pela cidade e não achar nenhum carrinho em bom estado a solução encontrada pelo grupo foi encomendar direto da fábrica. Porém, até ficar pronto, o carrinho demoraria mais de quatro meses para chegar.

Durante esse tempo, o trabalho não parou, o advogado e artista plástico Marcio Tuller, de 42 anos, uma das 30 pessoas que ajudaram, sugeriu incrementar o marketing do carrinho, com logomarca e tudo. “Quando ele me falou o nome do dono do carrinho, eu já pensei na hora, vou fazer um churros parecido com um anjo”, diz, E assim foi feito.

Toda a documentação também foi regularizada para Divino voltar ao trabalho. (Foto: Marcelo Calazans)
Toda a documentação também foi regularizada para Divino voltar ao trabalho. (Foto: Marcelo Calazans)

Oito meses depois, o grande dia da entrega chegou e de surpresa. Divino não estava sabendo de nada, na verdade ele já até havia desistido e tinha ido atrás de um emprego para carregador de malas em uma viação da Capital. Seu último contato com Claudionor tinha sido no dia da água na praça.

A cena da entrega foi gravada, para virar um mini documentário que contará a história de Divino do Youtube. E a emoção ali foi mesmo digna de cinema.

Enquanto ele contava sobre o dia da explosão do carrinho para uma “entrevista” com o pessoal do documentário, sem saber para que fim, boa parte das pessoas que participaram da surpresa junto com Claudionor apareceram e entregaram um carrinho de churros moderno e todo equipado, não só com utensílios necessários para a fabricação dos churros, mas como a certeza de trabalho.

Emocionado, Divino agradeceu e fez questão de cumprimentar cada um que estava ali para entregar o presente. “Achei que não viria mais, o pessoal que disse que ia ajudar tinha sumido e como já tinha passado tanto tempo...”, conta ele. “Era o meu sonho e eu consegui graças a Deus e a cada um que ajudou, é um trabalho que eu adoro fazer, estou feliz”, agradece.

Além do carrinho, uma marca e jalecos novos, o ambulante ganhou toda a documentação e autorização para trabalhar como microempreendedor individual e um curso de churros no Shopping do Padeiro.

Feliz e satisfeito, Divino voltou para a casa onde mora, uma edícula no fundo da casa da ex-sogra que mora com os dois filhos dele depois que a mulher os deixou.

Agora ele vai regularizar a situação com a empresa onde trabalha atualmente para poder voltar a se dedicar ao seu próprio negócio. "Eu estava desempregado e eles me deram um emprego, vou me acertar com eles e assim que puder com certeza volto a vender os meus churros. Vou aproveitar o curso para aprender a inovar nos sabores e fazer um ótimo produto", diz animado.

Divino já com o jaleco novo. (Foto: Marcelo Calazans)
Divino já com o jaleco novo. (Foto: Marcelo Calazans)
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