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Comportamento

Depois de sobreviver a três AVC, cuidar das plantas é o que mantém dona Maria

Pode acreditar, são as plantas que trazem alegria aos dias da senhorinha

Thailla Torres | 18/05/2017 08:07
Todo cuidado do jardim só é possível graças ao amor que dona Maria tem pelas plantas. (Foto: André Bittar)
Todo cuidado do jardim só é possível graças ao amor que dona Maria tem pelas plantas. (Foto: André Bittar)

Dona Maria aparece atenciosa na varanda de casa. Sem receio da entrevista, ela caminha devagarinho até o portão e abre um sorriso imenso quando descobre que o nosso interesse é o seu jardim tão belo. Ao saber disso, ela dispara que suas flores fazem a casa ser uma das mais belas da Avenida América.

A beleza do jardim tem sentindo no amontoado verde misturado às flores e animais feitos de concreto que a aposentada coleciona na frente de casa. E todo cuidado só é possível graças ao amor que Maria Alexandrina dos Santos, de 78 anos, tem pelas plantas.

Senhorinha já passou por três AVC. (Foto: André Bittar)
Senhorinha já passou por três AVC. (Foto: André Bittar)

A ideia de ter um jardim bonito foi pensada por ela há mais 30 anos. Tempo em que dona Maria acredita morar no bairro. "Não me lembro muito de datas e nem números. Depois que tive AVC muita coisa saiu da memória", justifica sobre a ausência de informações.

Maria mora atualmente com a filha caçula que tem 22 anos. A jovem é a única filha adotiva, das crianças que Maria sempre sonhou em adotar. "Eu amo muito criança, sempre gostei, eles têm uma pureza. Quando olho uma criança na televisão, penso que se eu pudesse, trazia tudo para casa, mas já fui ao médico e ele me disse que não tenho mais idade para cuidar dos pequenos sozinha", conta.

Sobre a falta de memória, ela relembra os momentos de dificuldade: foram três AVC (Acidente Vascular Cerebral) dentro de casa. Em todos sobreviveu sem nenhuma sequela física, exceto pela memória que foi afetada e apagou parte do presente. "Tudo que acontece hoje, amanhã dificilmente eu lembro, também esqueci a idade dos filhos e datas comemorativas", conta.

Quando o AVC aconteceu, Maria estava prestes a levantar da cama. Por sorte, foram os filhos sentiram falta da mãe que sempre levantou no mesmo horário. "A minha sorte é que passei mal em casa, minha filha achou que eu estava demorando a levantar e foi ver o que estava acontecendo, mas eu já estava adormecida". 

Foi assim nas três vezes em que Maria saia do hospital sorrindo em agradecimento por mais uma chance de vida. 

E foi depois do derrame que as plantas tiveram um significado diferente na vida dela. A fachada cheia de flores, cheia de espécies e o colorido dos animais de cimento é que faz da rotina dela ser mais prazerosa. "Toda vida gostei de planta, mas hoje elas me envolvem", cita.

Jardim se divide entre verde e animais de concreto.
(Foto: André Bittar)
Jardim se divide entre verde e animais de concreto. (Foto: André Bittar)
E é por isso que ele ganhou fama na Vila Sobrinho.
(Foto: André Bittar)
E é por isso que ele ganhou fama na Vila Sobrinho. (Foto: André Bittar)

Maria diz que as plantas ajudam no raciocínio e também lhe traz energia para os dias de cansaço. "Por conta da idade e do AVC a cabeça não fica boa todos os dias. A gente se cança, então hoje tenho muito cuidado entre as plantas porque não sou mais a mesma", afirma.

Sem contar que o jardim chama atenção de quem passa na rua e é a diversão para o neto pequeno. "Eu acho ele simples, mas quem passa fala que é o jardim mais bonito dessa rua. Mas no fundo eu também acho e meu neto gosta de subir nos animais, tem até foto dele por aí", conta.

Ela diz que o gosto pelas plantas também tem sentido na personalidade. "Faz parte de mim, também sou do signo escorpião, gosto da terra e preciso dela", explica.

Do passado, recorda de quando chegou a Campo Grande com a família. Maria é cearense e veio com o pai para Fátima do Sul há mais de 50 anos. "Cheguei aqui casada, meu marido era do exército e depois viemos para Campo Grande. Mas quando ele faleceu, fiquei com meus filhos aqui", diz.

O marido partiu há 25 anos depois de uma parada cardíaca. O filho mais velho passou recentemente por uma cirurgia do coração e após ela sofrer o AVC, Maria diz que não tem dúvidas que o problema ronda a família, mas não será capaz de levar ninguém dessa forma graças a fé. "Eu rezo todos os dias porque minha fé move montanhas e acredito que foi ela que me fez sobreviver a três AVC e por isso não vou dormir sem fazer minha oração", explica.

Ao lado da família e cuidando das plantas, ela acredita que tem bons anos de vida pela frente. "Os tempos são difíceis. Mas sou uma pessoa feliz, gosto de contato com as pessoas que me dou bem, então se eu tiver isso, acho que vivemos por muito tempo. E com as plantas a alegria aumenta", diz.

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São mais de 30 anos na mesma casa, com o jardim sonhado. (Foto: André Bittar)
São mais de 30 anos na mesma casa, com o jardim sonhado. (Foto: André Bittar)
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