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Comportamento

Direto do Dom Antônio, Giulia calçou sapatilha para dançar na Argentina

Sem nunca ter pisado fora do estado, menina vai embarcar direto para uma viagem internacional

Por Natália Olliver | 18/06/2025 06:31
Direto do Dom Antônio, Giulia calçou sapatilha para dançar na Argentina
Giulia Antônia Ocampos da Silva sonha em ser bailarina profissional (Foto: Osmar Veiga)

"Nunca imaginei que isso iria acontecer comigo". Longe das ruas principais da cidade e muito menos da visibilidade das companhias de dança particulares, Giulia Antônia Ocampos da Silva, de 11 anos, sonha em ser bailarina. Sem nunca ter pisado fora do estado,  a moradora do Dom Antônio Barbosa vai embarcar direto para uma viagem internacional com destino à Argentina.

Na casa simples em que mora com a família, ela recebe, tímida, o Lado B para contar um pouco dessa história. A mãe, Dienyfer Lauane Ocampos, de 29 anos, acompanha tudo e também conta como é a sensação de ver a filha chegar onde ela sequer tinha imaginado que seria possível: sair do Dom Antônio.

“Nunca imaginei que isso iria acontecer comigo. O balé mudou a minha vida porque me ensinou a ter mais disciplina, me encorajou a dançar. Participar pela primeira vez da competição vai me ajudar muito a pensar no meu futuro. Estou bem animada, muito feliz pra viajar e conhecer outro lugar, outras pessoas”, disse Giulia.

A menina vai participar da primeira competição da vida e vai estrear direto nos palcos do Festival Mercosul de Dança. Giulia entrou para o grupo de balé do projeto  'Asas do Futuro', em 2024 e, de cara, se apaixonou pela dança. Além dos passos com a sapatilha, ela também se interessou pelas cordas e entrou para o grupo de violino do projeto.

Direto do Dom Antônio, Giulia calçou sapatilha para dançar na Argentina
Dienyfer incentiva a filha a seguir carreira e conhecer arte e cultura (Foto: Osmar Veiga)

Dienyfer conta que sempre incentivou os filhos a fazerem algo na comunidade para que eles tivessem outras oportunidades na vida.

“Eu nunca sai do estado, nem eu nem o meu pai. Essa viagem é uma chance dela ver outras bailarinas dançando, bailarinas profissionais, e ter certeza do que ela quer seguir. Será bom para ter uma experiência nova, contato com a arte, com a cultura. Sempre achei muito importante isso. Aqui no bairro onde a gente mora, ele é tomado pela criminalidade. Infelizmente, os jovens que moram aqui vão para essa vida, e aí o projeto dá essa oportunidade das crianças se envolverem com isso.”

O interesse da menina na dança começou quando uma amiga entrou para o projeto e a convidou. De cara, Giulia não gostou muito, mas aos poucos foi pegando gosto e se apaixonou por isso, segundo a mãe.

“Poder proporcionar isso para ela, para mim, é muito bom. Saber que a minha filha está seguindo um caminho diferente do que os adolescentes estão seguindo, do que os jovens daqui estão seguindo, para mim é maravilhoso, traz paz no coração.”

Apesar da animação da filha, para que esse sonho se realize, Dienyfer precisou fazer uma rifa de perfumes e ainda está levantando o resto do valor para viagem.

“Logo que falaram da viagem, eu me desesperei porque sabia que naquele momento eu não teria o dinheiro. Porém, mesmo sem condições, não deixarei meus filhos perderem a chance de ter um futuro ou algo melhor para a vida deles. Pensei: ‘ela vai, e eu vou dar um jeito’. E foi assim que tivemos a ideia da rifa.”

Direto do Dom Antônio, Giulia calçou sapatilha para dançar na Argentina
Direto do Dom Antônio, Giulia calçou sapatilha para dançar na Argentina
Mãe se realiza na filha, porque nunca teve a oportunidade de viajar para fora do Estado (Foto: Osmar Veiga)

Ao todo, serão quatro dias de festival. O projeto conseguiu algumas parcerias para diminuir os custos da viagem, o que ajudou os pais, mas, como o marido está desempregado, mesmo assim ainda pesou no orçamento. Ainda será preciso R$ 1.300. A competição vai acontecer nos dias 3 a 6 de setembro, mas o pagamento tem que ser feito até agosto.

Na casa moram seis pessoas: as duas, mais o marido e os três filhos, que sobrevivem no momento com um salário mínimo de Dienyfer, que trabalha com telemarketing.

“Eu não consigo ir, pois tenho meu trabalho e não tenho condições de pagar mais R$ 1.000. O projeto conseguiu a estadia, que está inclusa no valor que vamos pagar. Estamos muito ansiosos. Eu acho lindo o universo da dança e acho que essa viagem pode abrir portas pra ela, abre a mente para outro mundo. Ela pode ver que pode alcançar lugares muito maiores, mesmo saindo do bairro onde mora. Me enche de orgulho.”

Direto do Dom Antônio, Giulia calçou sapatilha para dançar na Argentina
Giulia quer conhecer Argentina e ver as bailarinas profisisonais (Foto: Osmar Veiga)

Ela ressalta que, mesmo incentivando, nunca forçou a filha a dançar. “Sempre deixo meus filhos à vontade para seguirem o caminho que quiserem, desde que seja um caminho bom. Tanto que, ano passado, quando ela disse que não queria fazer o balé, eu disse ‘tudo bem’ e deixei ela ir vendo. Aí então ela mesma foi vendo e tomando amor pela dança.”

O projeto da Associação de Amigos do bairro Dom Antônio Barbosa - 'Asas do futuro' existe há 27 anos e oferece balé, aulas de violino, taekwondo e atendimento psicológico. Além de Giulia, a expectativa é que mais 24 meninas consigam ir para a Argentina pelo projeto.

Aqueles que quiserem ajudar na rifa podem entrar em contato com a Dienyfer pelo número (67) 98448-2699.

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