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Comportamento

Em casamento feminista, amigas levam noiva florista até Charles Chaplin no altar

Feminista, Rejane não deixou passar a ocasião e ergueu a bandeira que defende com a mesma vontade com que colocou a aliança

Paula Maciulevicius | 15/02/2017 07:28
Rejane se realizou não no casamento em si, mas na festa e na alegria que envolveu a florista e Charles Chaplin. (Foto: André Patroni)
Rejane se realizou não no casamento em si, mas na festa e na alegria que envolveu a florista e Charles Chaplin. (Foto: André Patroni)

O último sábado coroou a relação de Rejane e Fábio com um "sim" diante de convidados vestidos à fantasia. De florista, a noiva teve toda ajuda das amigas para chegar ao altar, onde o noivo lhe aguardava caracterizado de Charles Chaplin. Feminista, Rejane não deixou passar a ocasião e ergueu a bandeira que defende com a mesma vontade com que colocou a aliança. 

Os dois são professores de História e se conheceram em janeiro de 2016, quando Fábio se mudou para a cidade onde eles lecionam hoje, Nova Andradina. Rejane chegou lá antes, estava desde outubro de 2015. "Logo na primeira semana começamos a ficar juntos e não nos desgrudamos mais", conta Rejane Aparecida Rodrigues Candado, de 42 anos. 

Quando o Lado B viu a foto de uma noiva florista dizendo sim ao Charles Chaplin num contexto feminista, a inquietação só cessou depois de chegar até Rejane. O casal estava assim por amarem cinema. Para falar sobre o seu casamento, a noiva convocou a turma de amigas, de anos e de militância, que lhe ajudaram no grande dia. 

Ela de florista, ele de Charlens Chaplin no altar. (Fotos: André Patroni)
Ela de florista, ele de Charlens Chaplin no altar. (Fotos: André Patroni)
Celebrado pela amiga Marlene, casamento mostrou que promessas não precisam ser machistas.
Celebrado pela amiga Marlene, casamento mostrou que promessas não precisam ser machistas.
Juntos há um ano, eles disseram sim ao amor de iguais. (Foto: André Patroni)
Juntos há um ano, eles disseram sim ao amor de iguais. (Foto: André Patroni)

"A decisão do casamento ela é de dois, mas a realização é um coletivo", explica a noiva. Sem as amigas: Marlene, Sandra, Keila e Andrea, Rejane deixa claro que não teria conseguido. O casal resolveu oficializar a união em dezembro e no período de festas, avisou aos amigos e familiares.

Em um mês, as amigas ajudaram a fazer a cerimônia desde a decoração até a celebração. Marlene quem foi a sacerdotiza. Todas elas são integrantes da Marcha Mundial das Mulheres e militantes feministas.

"Já que era para casar, que fosse um casamento que subvertesse um pouco. Você pega aquilo que é extremamente conservador e já que vai aderir, como fazer isso de forma celebrativa, de amizade e de amor?", se perguntou Rejane.

A resposta veio das amigas, que tinham carta branca para planejar e executar o casamento. O único pedido de Rejane, era para ser surpreendida. O casamento foi anunciado como um bloco de Carnaval onde à frente estariam os personagens da união. Os convidados deviam aproveitar o clima e se fantasiar. 

Por ser feminista, Rejane não podia deixar a luta de fora. "Por que um casamento feminista? É porque quem esteve presente pode observar que a relação, as palavras de compromisso e a declaração dos amigos sempre teve a proposta de discutir um pouco a igualdade, o companheirismo e a relação equitativa", explica. 

Psicóloga, quando a amiga Keila de Oliveira Antônio, de 43 anos, recebeu a missão, trouxe para o debate com as demais colegas, o que poderiam falar, qual seria a motivação. "Eu, Andrea e Marlene nos reunimos para pensar em algo celebrativo e entendendo que a gente reconhece o sagrado e temos uma fé que nos move, mas que não nos oprime como é colocado no casamento tradicional".

Fábio e Rejane, historiadores que se casaram fazendo história. (Foto: André Patroni)
Fábio e Rejane, historiadores que se casaram fazendo história. (Foto: André Patroni)

Na celebração, as amigas se pautaram na completude, enxergando o casal como duas pessoas inteiras, que se unem querendo fatiar a vida. Deixando longe a ideia de metade da laranja e tampa da minha panela. 

"Nós nunca tínhamos feito um casamento. Já fizemos outros rituais, mas o casamento mesmo não", observa a historiadora, pesquisadora e na ocasião, sacerdotiza, Marlene Ricardi, de 52 anos. 

A proposta era de construir uma cerimônia participativa, fugindo dos conceitos de submissão. "Nós sempre estamos desconstruindo isso e naquele momento, era essencial desconstruir isso. Então buscamos as promessas que não fossem machistas, que não colocassem a mulher em um papel submisso", exemplifica Marlene.

As amigas parafrasearam versos de Mário Quintana, de forma a reforçar a luta que travam e acreditam, de libertação das mulheres. 

"Falamos da sexualidade, a promessa de fazer sexo sem pudor, de terem os filhos que vocês querem e não os que as pessoas querem que vocês tenham", pontua Marlene. 

"Promete que vai saber lidar com a sua solidão, que também acontece no casamento, porque não é porque casou que tem de ficar o tempo todo com atenção da outra pessoa e que às vezes é bom ficar só", completa Keila. 

Para a noiva, o que marcou entre as promessas também foi a de se conhecerem e se deixarem se conhecerem. "Eu refleti nisso na hora, que é a abertura ao outro também", conta. 

"Promete que não vai fazer piadas em relação aos parceiros simplesmente para fazer os amigos rir?", recorda a amiga e funcionária pública, Andrea Mont Serrat, de 45 anos. 

Palavras como amor e liberdade foram erguidas pelos convidados, como desejos ao casal.
Palavras como amor e liberdade foram erguidas pelos convidados, como desejos ao casal.
À fantasia, festa deixou convidados brincarem e levarem energia para o "sim". (Fotos: André Patroni)
À fantasia, festa deixou convidados brincarem e levarem energia para o "sim". (Fotos: André Patroni)
No estandarte, as alianças chegaram em ritmo de Carnaval. (Foto: André Patroni)
No estandarte, as alianças chegaram em ritmo de Carnaval. (Foto: André Patroni)

Os padrinhos cumpriram papeis importantíssimos na cerimônia. As mulheres que representavam no altar os amigos e familiares estavam vestidas de fada e eles cantaram em voz alta as palavras que crianças levavam ao passar pelo corredor.

As plaquinhas simbolizavam os sete desejos de todos ali pelo casal. De amor, cumplicidade, liberdade, prazer e alegria. Que eram expressadas como se fossem um lembrete, de que tudo aquilo deveria lhes acompanhar depois do sim. 

As alianças chegaram ao altar em ritmo de Carnaval. Num estandarte, os aneis foram presos e dançaram entre os convidados até o casal sob a música "é hoje o dia, da alegria e a tristeza, nem pode pensar em chegar..."

"Sonho? Eu nunca sonhei de me casar. Não tinha esse sonho, mas quando você começa uma relação e você decide que quer ficar junto, como a gente queria ofializar, então vamos fazer algumas coisas para marcar a beleza desse início", explica a noiva. 

Rejane se realizou não no casamento em si, mas na festa e na alegria que envolveu a florista e Charles Chaplin. "Isso sim, saiu como nós planejamos". 

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Um brinde às mulheres que lutam pela liberdade umas das outras. (Foto: André Patroni)
Um brinde às mulheres que lutam pela liberdade umas das outras. (Foto: André Patroni)
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