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Comportamento

Enclausurado, até Dom Dimas está fazendo home office

Paula Maciulevicius Brasil | 28/03/2020 07:49
Dom Dimas com a bandeira do Brasil e Nossa Senhora ao fundo. (Foto: Arquivo Pessoal)
Dom Dimas com a bandeira do Brasil e Nossa Senhora ao fundo. (Foto: Arquivo Pessoal)

Arcebispo de Campo Grande há oito anos, até Dom Dimas, a autoridade máxima da Igreja Católica em Campo Grande, está em casa. Isso mesmo. No escritório ao lado do quarto do religioso, no seminário maior, na avenida Tamandaré, mais precisamente número 4140, no Jardim Seminário, na Capital.

Dom Dimas atende o telefone, claro que a conversa não seria ao vivo em tempos de pandemia, e faz um pedido: "não confunda bom dia, com dia bão". Rimos os dois.

Aos 64 anos, diz não ter doença crônica, a não ser que pressão "ligeiramente alterada" conte. Sobre os cuidados, ele é sucinto ao dizer que tem trabalhado, mas em home office.

"Mantive as reuniões com o nosso pessoal administrativo, com o conselho presbiteral, padres, diáconos, e vou aproveitando para redigir textos que estavam pendentes, além de tirar o atraso de uma série de projetos enquanto não é possível investir tempo no atendimento pessoal".

A última vez que Dom Dimas esteve, ao vivo e em cores, foi antes da quarentena. "E mesmo assim, não foi propriamente pessoal, foi um encontro dentro da própria cúria, com os funcionários".

"O pastor tem que estar no meio do povo", lembra o arcebispo que agora cumpre quarentena. (Foto: Arquivo Pessoal)
"O pastor tem que estar no meio do povo", lembra o arcebispo que agora cumpre quarentena. (Foto: Arquivo Pessoal)

O arcebispo de Campo Grande tem roommates, Dom Mariano e Padre Marco Antônio, este último inclusive é médico.

No home office, as reuniões são por Skype ou ainda um programa que possibilite salas de reunião. A tecnologia não é novidade alguma para o arcebispo, que responde mensagens via WhatsApp e também envia fotos. "Já tenho um certo costume de trabalhar home office, sobretudo quando eu tenho de ficar com a parte mais administrativa. Aí eu faço em casa", explica.

Claro que a parte religiosa do clérigo não seria deixada de lado nem em uma conversa informal sobre a rotina dele enquanto pessoal. "Eu diria aos fiéis o seguinte: o Papa João Paulo II emitiu o documento 'Fé e Razão', que são duas asas pelas quais o entendimento humano passa a favor da busca da verdade. Acho que este é o momento em que a ciência tem muito a falar, e a fé também", prega.

Sobre a fé, ele relaciona no sentido de que vivemos em tempos de estresse e questionamento "em que cresce nas pessoas a ansiedade e o risco, por exemplo, da ideação suicida, que aumenta um pouco. Então, às vezes, as redes sociais, telefone e outras formas de contato de mensagem ajudam as pessoas a se aliviarem e retomar sua caminhada".

Quanto ao isolamento, Dom Dimas diz que obedece às orientações das autoridades sanitárias, mas que também se preocupa com a economia, citando até a própria igreja dentro da frase pregada pelo governo Federal, de que o Brasil não pode parar.

"Ao mesmo tempo em que nós procuramos nos confortar uns aos outros, também temos de incentivar a corresponsabilidade. Seja ela no sentido de preservação da expansão da pandemia, seja na corresponsabilidade com aquilo que não pode parar. Por exemplo: temos funcionários, gastos fixos que precisam ser pagos e isso é pago com a generosidade dos fiéis, só que se eles não vão à igreja, o impasse surge".

Foto de Dom Dimas em seu perfil de WhatsApp. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto de Dom Dimas em seu perfil de WhatsApp. (Foto: Arquivo Pessoal)

Longe de ignorar o pagamento dos salários, inclusive dos secretários paroquiais, o arcebispo retoma o discurso de que "a gente tenta manter as pessoas nessa solidariedade e dizer que é tempo de fazer muita economia, nada de investimento, de construções e tentar restringir ao máximo, mas também salvaguardar os custos fixos, sobretudo quando envolve família".

Isolado antes mesmo da prefeitura fechar as portas de comércios, Dom Dimas relata um sentimento: de falta de povo. "Agora é tempo de quaresma, jejum e abstinência. Mas a abstinência do contato com o povo é muito pior que o jejum de comida. O pastor tem que estar no meio do povo", afirma.

Além de rezar, Dom Dimas tem cuidado da higienização e, claro, usado álcool gel, apesar de já ter o costume de lavar as mãos com razoável frequência. "Agora está "bem mais do que era antes, porque naturalmente aumenta um pouco mais", finaliza.

Sobre crença de Deus de "salvar" seu povo do vírus, a maior autoridade da Igreja Católica recorre à Bíblia para a resposta, mais precisamente no livro de Romanos 8:28. "Todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus".

"Somos mais que vencedores, essa certeza da vitória deve motivar a todos. Certamente estamos unidos na oração, pedindo a Deus, e o Papa é o primeiro a fazer isso: luz para os cientistas, coragem para os profissionais da saúde que mais do que nunca demonstram seu heroísmo. E também pedindo a cura pelos doentes agonizantes, nossa ação tem sido mais de intercessão do que qualquer outra coisa", resume.


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