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Comportamento

Entre filme e artesanato, grupo reage contra discurso que mina cultura indígena

Realizado pelo Coletivo Terra Vermelha, o evento teve exibição de curta, feira de artesanato e debate com lideranças indígenas e apoiadores da luta.

Kimberly Teodoro | 20/02/2019 11:20
O evento “Povos Indígenas de MS, Vida e Resistência” foi realizado pelo Coletivo Terra Vermelha, uma rede urbana de apoio às causas indígenas que existe desde 2011 (Foto: Kísie Ainoã)
O evento “Povos Indígenas de MS, Vida e Resistência” foi realizado pelo Coletivo Terra Vermelha, uma rede urbana de apoio às causas indígenas que existe desde 2011 (Foto: Kísie Ainoã)

As portas do Museu da Imagem do Som de Mato Grosso do Sul ficaram abertas até mais tarde ontem (19) para exibir o curta Cunumi Pepy da Ascuri (Associação Cultural de Realizadores Indígenas), fazer feira de artesanato, arrecadar doações de roupas, materiais escolares, brinquedos e alimentos que serão entregues nas aldeias. Mas sob os holofotes o que mais interessou foi a preocupação com a cultura e os direitos indígenas diante de tantos ataques na política brasileira.

Entre os convidados, estavam Lindomar Terena e Rosalvo Kinikinau, lideranças que trouxeram o ponto de vista da aldeia para as salas do museu. Lindomar retoma a importância da demarcação das terras indígenas, uma pauta que nunca foi prioridade para governo algum. “O processo inicial da demarcação deixou de ser responsabilidade da Funai e está hoje nas mãos do Ministério da Agricultura, quem cuida disso é Luana Ruiz, secretária adjunta da Tereza Cristina. Isso é preocupante, porque eles são contra os direitos dos povos indígenas, como vamos lutar por políticas públicas que respeitem esse direito, se não temos nem a terra?”, questiona.

Lindomar foi uma das lideranças indígenas convidas a falar durante o debate (Foto: Kísie Ainoã)
Lindomar foi uma das lideranças indígenas convidas a falar durante o debate (Foto: Kísie Ainoã)

A demarcação e o direito dos índios às terras aos quais são ligados há gerações é pauta há 30 anos, praticamente todo o tempo de vida da designer Benilda Vergílio, que em todo esse tempo viu pouca coisa mudar.

Representante dos Kadiwéu, para ela outro ponto importante que precisa ser discutido é a educação. “Precisamos de médicos, enfermeiros, advogados, professores e profissionais indígenas que levem conhecimento para as aldeias, quando o acadêmico chega aqui, ele não tem amparo para seguir os estudos, não têm onde ficar na cidade e nem como se manter, é importante saber que existem pessoas que estão se juntando para mudar isso. Eu sou apenas uma voz entre as etnias no estado, mas acho que o que precisamos agora é união entre as lideranças para discutir as prioridades e as medidas possíveis. O que eu vi aqui hoje foi a formação de alianças entre os movimentos, não é uma resposta, mas é um começo”, afirma.

O evento “Povos Indígenas de MS, Vida e Resistência” foi realizado pelo Coletivo Terra Vermelha, uma rede urbana de apoio às causas indígenas que existe desde 2011. Dessa vez, o objetivo além do debate, foi também reunir mais pessoas dispostas a se envolver na luta e fortalecer o movimento na cidade. Organizador do debate, o professor universitário Paulo Paes diz que um dos agravantes da situação indígena no País, nesse momento, é a proposta da retirada de apoios de ONGs e entidades sociais aos povos indígenas.

Na educação, Paulo vê uma maneira de frear a destruição da cultura indígena. “É muito importante a formação indígena na universidade, tanto que o maior número de indígenas assassinados desde que o coletivo está atuando, é de professores. Eles se formaram na universidade, voltaram para o seu povo e ao voltar, eles voltam com saber e uma liderança, nessa volta, eles são assassinados. Queremos que eles continuem se formando, que tenham direito à bolsa, e uma rede de apoio para que consigam se manter na cidade e estudar”, diz.

Antes do debate, o curta metragem Cunumi Pepy da Ascuri  foi exibido, retratando um pouco da cultura e das demandas dos povos Guarani Kaiowá (Foto: Kísie Ainoã)
Antes do debate, o curta metragem Cunumi Pepy da Ascuri foi exibido, retratando um pouco da cultura e das demandas dos povos Guarani Kaiowá (Foto: Kísie Ainoã)

Entre as pautas de luta do coletivo estão constituir uma rede urbana de apoio aos indígenas, criar uma feira de artesanato que seja fonte de renda para as aldeias e que fortaleça a cultura na cidade, como uma forma de fortalecer a luta. Melhorar a rede de doações e entregas de roupas, alimentos, brinquedos e materiais escolares para as aldeias também é uma das metas. E principalmente, criar uma casa do estudante indígena, onde os jovens das aldeias possam ficar durante os estudos na capital.

Para acompanhar as atividades do Coletivo e se informar sobre como colaborar ou fazer doações, siga a página no facebook clicando aqui.

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