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Comportamento

Entre violência e 3 mil km de distância, casal se apaixonou de jeito improvável

Débora é do Acre e João Lucas é do Rio Grande do Sul, os dois se conheceram em Campo Grande em 2018 e decidiram morar juntos

Alana Portela | 13/06/2019 08:15
O casal se apaixonou de forma improvável e estão juntos há pouco mais de um ano (Foto: Alana Portela)
O casal se apaixonou de forma improvável e estão juntos há pouco mais de um ano (Foto: Alana Portela)

Mesmo com objetivos diferentes, os caminhos de Débora Souza, 27, e José Lucas Lopes, 24, se cruzaram em Campo Grande e eles se apaixonaram de um jeito improvável. Ela é do Acre e veio para estudar Química na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), enquanto ele é artesão e saiu do Rio Grande do Sul com destino ao Peru. Em uma parada na Capital José conheceu Débora em 2018, logo depois da estudante ser assaltada e foi amor à primeira vista.

“Tinha saído do trabalho no Shopping Campo Grande e estava voltando andando para a casa. Era um sábado, por volta das 19h. Quando cheguei perto do ‘Obelisco’, uma pessoa me parou para assaltar. Falei que não tinha dinheiro e só estava com o uniforme, mas ele queria o celular que tinha acabado de consertar e escondi rápido. O cara veio pra cima e eu fui nele também, depois acabou indo embora. Continuei andando apavorada e na Praça do Rádio vi um hype, senti paz. Sentei para acalmar e conversamos”, diz Débora sobre José.

Eram seus primeiros dias em Campo Grande, José Lucas percebeu o desespero da estudante e virou o ombro que faltava.

Débora conta que conheceu o artesão após ser assaltada (Foto: Alana Portela)
Débora conta que conheceu o artesão após ser assaltada (Foto: Alana Portela)

Ele a ouviu por horas e parecia que a conhecia há anos. Por volta das 2h da madrugada de domingo, ela resolveu continuar a caminhada para voltar e descansar em casa. No entanto, preocupado com a segurança de Débora, o artesão decidiu acompanhá-la no trajeto.

“Ele estava com o pano cheio de coisas de artesanato que vendia junto com o amigo dele. Tinham vindo do Sul para viajarem até o Peru. Falei que não precisava me acompanhar porque não nos conhecíamos. Então, me deixou na Afonso Pena mesmo, perto do colégio SESI e perguntou se queria ficar com ele, respondi que não sabia. Aí me agarrou e deu um beijo”, contou.

No dia seguinte, a estudante ficou pensando no beijo de José Lucas e passou novamente na Praça do Rádio para o ver. “Conversamos e depois me acompanhou até parte do caminho. Continuei o trajeto sozinha e quase perto de casa aconteceu outro assalto. Era por volta das 23h, dois homens me pararam, um ficou do meu lado pedindo mostrar o que tinha na mochila que eu carregava e o outro estava com uma faca. Mandaram calar a boca, mas fui indo para a rua e um carro acelerou e veio pra cima deles, nisso me soltaram e sai correndo”, relatou Débora.

Assustada e sem conhecer ninguém além de uma amiga, Débora esperou amanhecer para voltar a ver o artesão. Nessa época, como estava apenas de passagem por Campo Grande, José Lucas trabalhava e dormia na mesma praça. Ele é formado em Nutrição e Técnico de Enfermagem, porém, há dois anos escolheu o artesanato para viver.

José Lucas conta como conheceu a amada(Foto: Alana Portela)
José Lucas conta como conheceu a amada(Foto: Alana Portela)

Estilo de vida - José Lucas veio a Campo Grande acompanhado de um amigo que acabou seguindo viagem.

Por aqui não foi fácil. Ficou morando na Praça do Rádio por 90 dias. “Tinha intenção de mostrar minha arte e conhecer uma pessoa, me casar, pois quero ter filhos. Pensava em viajar e voltar para o sul na virada de 2018 para 2019, mas aí conheci meu amor”, disse.

Terceiro encontro - No terceiro dia, a estudante percebeu que estava com as emoções a “flor da pele”, os episódios de assaltos aconteciam com frequência, estava longe da família e “mexida” com José Lucas. Foi vê-lo de novo na praça, mas desta vez decidiu se aventurar com ele e dormir ao ar livre.

“A gente ficou e dormi no canteiro com ele. Foi diferente e bom ao mesmo tempo, tinha aquele medo do perigo, mas ficou o tempo todo acordado e me protegendo. Já sabe como é o movimento de rua. Com ele me sinto mais segura”, disse Débora.

Pouco tempo depois, a amiga de Débora, que a havia chamado para morar em Campo Grande decidiu voltar para a terra natal. Contudo, a estudante quis ficar na Capital e alugou outra casa, desta vez no Parque do Sol e chamou José Lucas e seu amigo Rafael para morarem no local.

“O Rafael é nosso padrinho de casamento, hoje está morando em outro estado. Mas antes, continuou a viagem ao Peru. Desde essa época, estamos juntos”, conta o artesão.

O artesão faz cordão com pedras trazidas do sul para vender (Foto: Alana Portela)
O artesão faz cordão com pedras trazidas do sul para vender (Foto: Alana Portela)

Curiosidade - Muitos questionam o motivo de José Lucas escolher a profissão de artesão ao invés de seguir a carreira de nutricionista ou trabalhar como técnico de enfermagem, cursos que já tinha. Contudo, a resposta é simples, liberdade. “Já trabalhei nas duas profissões. Questionam por eu estar trabalhando na rua, mas faço isso por conta da minha liberdade. A pessoa que decide ser artesão, é porque gosta de ser livre. Mas a liberdade é estar também ao lado do meu amor, tem que estar perto”, disse.

Atualmente, o casal mora no bairro Parque do Sol, Débora fica em casa durante o dia fazendo algumas peças de artesanato que aprendeu com o marido e às 17h vai para a faculdade. Está no segundo semestre do curso e quer trabalhar na área, porém se preciso for, ajudará o companheiro nas vendas de artesanato.

Após o casamento, José chega cedo em frente a prefeitura de Campo Grande para vender frutas que pega de um distribuidor. Por alí passa a maior parte do tempo e aproveita para levar sua arte, alguns cordões com pedras de cristais trazidos do sul do país. O casal pretende viajar juntos para São Luís do Maranhão quando a estudante entrar de férias da universidade. “Vamos levar uma barraca ou, talvez, a gente arruma um lugar para ficar. Ele quer vender as artes por lá”, contou Débora.

Dois extremos - Os dois são de extremos do país, ela da região norte enquanto ele do sul, que dá a distância de 3.203 quilômetros entre os locais. Apesar de estarem na Capital, continuam longe dos familiares, porém, combinaram de, a cada ano, escolher um destino para visitação.

“Decidimos escolher um ano para cada família porque é um gasto viajar para os extremos. Nesse ano fomos para o sul, para buscar as pedras de cristais para meu trabalho de artesão porque é mais barato. Ela aproveitou para conhecer minha família. Minha família gosta dela e a dela de mim”, disse.

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