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Comportamento

Favor não mexer no pomar cultivado por dona Isabel, em plena Afonso Pena

Ângela Kempfer | 23/11/2015 06:23
Mãe e filho cuidam do pequeno pomar, apesar da chuva fina de sexta-feira.
Mãe e filho cuidam do pequeno pomar, apesar da chuva fina de sexta-feira.

Faça chuva ou faça sol, dona Isabel Alves Borges não descuida de árvores plantadas por ela no canteiro central da Afonso Pena, lá para os lados da igreja Perpétuo Socorro. O resultado surge como um pequeno pomar, com caju, goiaba e, em breve, manga.

Há anos (ela perdeu a conta), a dona de casa acostumada com a vida de fazenda resolveu cultivar árvores frutíferas na avenida mais movimentada de Campo Grande. Começou pelo cajueiro. “Plantei porque queria comer caju e hoje dá um cajuzão que você precisa ver”, explica dona Isabel.

Depois vieram os dois pés de goiaba e a mangueira. Também tem um ipê, “com cachos enormes de flores lindas”, diz a ilustre moradora da rua Visconde de Taunay, no bairro Amambai.

Na sexta, dia de temporal, com muitas árvores e galhos caídos por Campo Grande, a senhora de 82 anos não ficou na cama ouvindo o barulhinho da chuva. Tratou de pegar o caminho do canteiro para ver o estrago no pomar da Afonso Pena.

“Ela me chamou e disse: ‘Vamos lá ver as plantas’. Eu reclamei: ‘mãe, tá chovendo’. Mas ela respondeu ‘que chuva que nada’”, conta o filho João, depois de algumas levas de galhos para o outro lado da avenida.

Com facão, ele e a mãe cortaram o que foi quebrado pela tempestade e também aproveitaram para uma poda de leve. “É a terapia dela. Sempre que venho da fazenda para cidade eu ajudo. É danada, briga com quem fica mexendo”, comenta João, de 52 anos.

E parece que a senhorinha impõe respeito mesmo. As mudas resistem apoiadas na fragilidade de um cabo de vassoura, a maneira mais tradicional de cultivar o verde, e ninguém derruba.

Dona Isabel mostra o único caju que apareceu por enquanto. "Temporada mesmo começa em dezembro", diz.
Dona Isabel mostra o único caju que apareceu por enquanto. "Temporada mesmo começa em dezembro", diz.

O trecho da avenida, “sob responsabilidade” da dona Irene é, com certeza, um dos mais limpos da Afonso Pena. Não tem um galho, um lixo, nada fora do lugar, além da grama verdinha e das árvores, algumas cultivadas por ela e outras pelo tempo.

“Moro aqui há 40 anos. Vi tudo crescer, cuido como se fosse meu. Não tem problema de dividir com ninguém não. Quem passa, pode pegar a fruta e comer”, avisa.

Ela só fica desgostosa quando alguém é “bruto” com o cajueiro ou a goiabeira. “Um dia veio um homem, viu que o caju tava quase ficando bom e resolveu voltar no outro dia. Quando chegou aqui, já tinham apanhado as frutas. Ele começou então a bater no cajueiro. Bateu tanto que o pé quase caiu. Só parou porque os vizinhos começaram a gritar”, lembra.

Na última quinta-feira, dona Isabel reuniu a família para a missa de um ano de falecimento do marido. João de Oliveira foi embora aos 89 anos e ainda faz falta. Foi com ele que a esposa deixou a fazenda para morar em Campo Grande em 1974. “Viemos para os filhos estudarem”, explica a mãe de 5, avó de 10 e bisavó de 6.

Mas ela não perdeu a mão, lembra o filho. “Onde ela coloca a mão, brota”. Tão pouco esqueceu o que tem valor na vida. “Sou feliz. Graças a Deus”.

Por fim, dona Isabel faz o convite para um cafezinho, na casa verde, dobrando a esquina. “Vou adorar!”, completa.

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