ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 23º

Comportamento

“Fica em casa, o teu 'somente os vulneráveis' é o meu tudo”, diz mãe

"Teu 'somente' é o meu tudo": frase ganhou as redes sociais com pedidos de famílias para que todo mundo fique em casa

Alana Portela | 26/03/2020 07:27
Lilidaiane Ricaldi com o filho Miguel. (Foto: Arquivo pessoal)
Lilidaiane Ricaldi com o filho Miguel. (Foto: Arquivo pessoal)

Para conscientizar os moradores de Campo Grande sobre o risco do Coronavírus, Lilidaiane Ricaldi resolveu recorrer às redes sociais. Aos que pensam que somente os vulneráveis correm risco, ela apela “O teu somente é o meu tudo”. Aos 38 anos e mãe de Miguel, de 4 anos, que nasceu com Mielomeningocele, ela quer proteger a família contra o vírus.

“O Miguel tem uma deficiência causada por uma malformação congênita no tubo neural (coluna). Descobri isso ainda na gestação e mesmo sendo na coluna, afeta todo organismo, causando hidrocefalia, danos neurais, problemas no sistema urinário e rins, paraplegia e outros. Contudo, com 28 semanas de gestação, ele foi operado, dentro do meu útero. Foi uma cirurgia fetal a céu aberto, para reduzir as sequelas”, conta a mãe.

Miguel tem quatro anos e nasceu com Mielomeningocele. (Foto: Arquivo pessoal)
Miguel tem quatro anos e nasceu com Mielomeningocele. (Foto: Arquivo pessoal)

O filho nunca mais parou de lutar pela vida, desde a gestação. Apesar do procedimento médico, o pequeno ficou com sequelas da malformação. “Tem baixa imunidade, problemas renais, isso o coloca no grupo de vulneráveis ao Coronavírus”, explica Lili.

Hoje ele é uma criança ativa, consegue andar e falar, no entanto, já passou por poucas e boas. “Nesses quatro anos, Miguel foi internado várias vezes por conta da imunidade baixa. Ele é feliz, mas tem um atraso na fala”.

Além do pequeno Miguel, Lili também é mãe de outros três filhos. “A mais velha é casada e tem 21 anos. Comigo moram a Elis de 11 anos, o Miguel e a Dulce de 27 dias”, diz. Desde que o vírus chegou em Campo Grande, a família passou a tomar mais cuidado e entrou na quarentena. “Uma semana antes de fechar as escolas, eu e meus filhos já não estávamos saindo de casa”.

Elis adora o irmão e sabe dos riscos que ele corre caso seja contaminado. “Ela estava morrendo de medo de pegar e passar para Miguel. São muito ligados”, comenta. “Toda mãe que ama, vê no filho um mundo. Eles são tudo”, se declara Lili para as crianças.

Desde que Miguel nasceu, a mãe busca conscientizar outras gestantes sobre a importância de realizar o pré-natal e proporcionar um tratamento digno para pessoas com deficiência. “Estou à frente de um grupo com crianças com a mesma deficiência do meu filho. Estou fundando uma associação de pais e portadores de deficiência. Hoje, vivo por essa causa”, destaca.

Nesse momento de pandemia, Lili fica com o coração apertado ao saber que tem pessoas que não se preocupam com o bem-estar do próximo. “Descobri que no mundo há pouca empatia, que muitas pessoas enxergam alguém com deficiência como um problema, um peso para sociedade”, comenta.

Miguel ao lado das irmãs, comemorando seus 4 anos de vida. (Foto: Arquivo pessoal)
Miguel ao lado das irmãs, comemorando seus 4 anos de vida. (Foto: Arquivo pessoal)

“Estamos vendo isso claramente agora nessa pandemia e dói muito, principalmente, quando me coloco no lugar dos vulneráveis que compreendem o que está acontecendo. Imagino como eles se sentem. É como se a sociedade estivesse dizendo que tudo bem morrer velhos e doentes, como se fossem uma subclasse sem valor”, desabafa a mãe.

Para ela, se todos sentisse na própria pele a dor e o medo de perder quem ama, compreenderiam melhor. “Talvez seja o único jeito das pessoas realmente respeitarem e terem empatia. Contudo, acredito ou quero acreditar que é possível sim ter empatia e respeito se você conhecer a história e a luta do outro”, afirma.

O conhecimento pode ser a chave. “Nessa jornada, já sofri e chorei muito. Já me deparei com pessoas extremamente egoístas que, muitas vezes, nos olham até com desprezo. Mas, também tenho encontrado gente incrível que se interessa pela nossa história, nos ouve, oferta carinho e até ajuda”.

Agora, nesse momento de pandemia, Lili faz um apelo para os moradores da Capital. “Fiquem em casa. Claro, que não é possível para todos. No entanto, quem puder ficar em casa, meu pedido é esse. Por favor, pensem no coletivo e não se exponham desnecessariamente”, conclui.

Elis também está preocupada com o maninho e gravou um vídeo para pedir a sua colaboração. Assista.

Curta o Lado B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.


Nos siga no Google Notícias