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Comportamento

Foto em grupo revela história de morador de rua com terno surrado dos anos 60

Moradores de Campo Grande recordam histórias de Pompilho, homem baixinho que não falava, mas ganhou o coração de muita gente

Thailla Torres | 02/10/2018 07:42
Foto foi parar em grupo de recordações e o que não falta são histórias para Pompilho. (Foto: Raimundo Alves Filho)
Foto foi parar em grupo de recordações e o que não falta são histórias para Pompilho. (Foto: Raimundo Alves Filho)

Um homem com roupas surradas, cabelos sem corte, tomado pela sujeira. São as características de Pompilho, como em tantas outras descrições de quem vive na rua, ao relento. A história dele parece ter encantado o campo-grandense de um jeito diferente, até o final da década 70, quando foi visto pela última vez perambulando pela cidade, sem nunca ter incomodado alguém.

Ontem, uma imagem registrada pelo fotógrafo Raimundo Alves Filho, já falecido, movimentou um grupo de recordações nas redes sociais ao mostrar Pompilho, um homem negro, de cerca de 1,50 metro de altura, de terno acabado, em alguma rua da cidade.

Foram minutos até surgirem as primeiras lembranças. "Foi uma figura notória, que não fazia mal a ninguém. Quem viveu aquela época não pode se dar ao luxo de falar o contrário", diz o representante comercial Sami Kabad, de 65 anos, autor da publicação no grupo Anos Dourados de Campo Grande.

Ele era baixinho, tinha cerca de 1,50 m de altura. (Foto: Raimundo Alves Filho)
Ele era baixinho, tinha cerca de 1,50 m de altura. (Foto: Raimundo Alves Filho)

Sami tinha 9 anos de idade quando viu Pompilho pela primeira vez nas ruas. Ele andava em Campo Grande pela Rua 14 de Julho, 15 de novembro, nas proximidades do Mercadão Municipal e da Rua Cuiabá.

Era um homem que não falava, vivia do que a população lhe oferecia, mas tinha família na cidade. Ninguém sabe a história pessoal que o levou às ruas, mas seu sorriso nunca afastou ninguém do Centro. “Por onde ele passava era educado, cumprimentava e sai por aí andando. Seu ponto de parada era bares e lanchonetes da cidade. Uma delas no prédio da minha família que ficava na Rua 26 de Agosto, onde hoje é o prédio do INSS”, conta Sami.

Na publicação há quem conte que Pompilho também carregava um copo no bolso do paletó e com ele ganhava café quentinho por onde passava. “Mas tinha um bar, no Amambaí, que ele chegava lá e a dona também colocava uma cachaça”, lembra o fotógrafo Roberto Higa.

Naquele tempo, década de 60, Sami conta que algumas crianças se assustavam com Pompilho. “Não era medo, mas ele não tomava banho, então o odor afastava as crianças que saiam correndo quando ele chegava”, lembra.

Mas com ajuda de moradores ganhava comida, bebida e de vez em quando um banho. Foram anos assim pelo Centro e presente em festas da cidade como as quermesses da Igreja Santo Antônio. “Onde a gente passava, lá estava Pompilho. Era um homem de primeira linha, eu fazia questão cumprimentá-lo”, lembra o aposentado Temisto Teodoreto Braga dos Santos, de 80 anos.

Mesmo assim, sem nunca ter incomodado, Pompilho foi retirado da cidade no final da década de 70 e transferido para um Instituto Assistencial de Cuiabá. Até hoje não se sabe os motivos, se foi por abstinência alcóolica ou depressão, mas o morador de rua foi encontrado morto meses depois da transferência.

Seu Temisto diz ser um dos moradores que discordaram na época da transferência. “Foi uma maldade, tiraram ele do seu ambiente social, onde se entendia com todo mundo, para levá-lo a um lugar desconhecido. Era certo que isso não o salvaria”, acredita.

Já que o passado não foi justo com Pompilho, seu Temisto acredita que há tempo do presente deixá-lo na memória da cidade. “A história do Pompilho está com os mais antigos. Quando a gente partir quem vai contar?”, questiona. “Se eu pudesse, mandava fazer uma estátua na região do mercadão para ninguém esquecer sua figura”, completa.

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