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Comportamento

Grupo deixa Natal e virada do ano de lado, para cruzar o Atlântico com ajuda

Pela segunda vez, time de brasileiros abre mão das festas de fim de ano para fazer caridade em país da África. Ainda dá tempo de ajudar.

Gustavo Maia | 19/12/2018 09:17
Grupo é formado por profissionais e acadêmicos de várias áreas, que veem na ajuda ao próximo motivo maior. (Foto: Arquivo Pessoal)
Grupo é formado por profissionais e acadêmicos de várias áreas, que veem na ajuda ao próximo motivo maior. (Foto: Arquivo Pessoal)

Quando entramos em dezembro, a maioria das pessoas já tem uma noção do que vai fazer no Natal e na virada do ano. Alguns planejam ficar em casa com a família ou encontrar os amigos, outros pretendem viajar para a praia, ou acampar com a galera da firma. Mas com certeza, pouca gente passa o ano inteiro arrecadando dinheiro para chegar a um país pobre da África.

Em Campo Grande, um grupo de 16 pessoas vai contra a tradição. Eles se organizaram durante todo o ano, tiraram visto, arrecadaram dinheiro para passagens, hospedagem e alimentação, colocaram a saúde em dia, entre outras exigências da aventura, para atravessar o Atlântico até uma ilha de Guiné-Bissau, país no Noroeste do continente africano.

O time é formado por médicos, enfermeiros, dentistas, pastores adventistas, psicólogos, pedagogos e outros profissionais que atuam na área da assistência social. Ninguém vai a passeio, o jeito que essa turma encontrou para curtir as férias foi trabalhando pelo bem do outro. E essa não é a primeira vez que eles fazem isso - na virada do ano passado eles fizeram a mesma coisa.

Grupo leva ajuda humanitária a comunidade isolada de Guiné-Bissau. (Foto: Arquivo Pessoal)
Grupo leva ajuda humanitária a comunidade isolada de Guiné-Bissau. (Foto: Arquivo Pessoal)

E apesar de ter a missão de também levar o evangelho aos habitantes da ilha, de acordo com o organizador do projeto, Claudeci Vieira, a igreja não banca a viagem do grupo - cada um dá seu jeito para pagar os custos de sua ida ao país. Ele explica ainda que nem todo mundo do grupo é da igreja - “nós estamos buscando pessoas. Não queremos olhar igreja, religião, simplesmente queremos pessoas que estejam dispostas a trabalhar pelo outro”.

Mas ele acrescenta que quem estiver pensando em se voluntariar deve levar em consideração algumas observações: “não precisa ser evangélico, mas a pessoa precisa se adaptar à algumas regras. O missionário não pode, por exemplo, puxar uma garrafa de cerveja, acender um cigarro. A gente tá indo lá pra melhorar a saúde daquelas pessoas, temos que dar um bom exemplo. A gente também tem hora pra dormir, pra acordar, tem que cuidar da saúde física” considera Claudeci.

O lugar escolhido para a expedição, batizada de Missão Andrews em homenagem ao primeiro missionário da Igreja Adventista do Sétimo Dia, foi a ilha de Bubaque, região extremamente carente daquele país.

Lá as comunidades, chamadas de tabancas, se mantém à base do extrativismo - pescam e coletam bananas, que com o arroz compõem a base da alimentação da ilha, onde as pessoas geralmente fazem uma única refeição por dia, devido à escassez dos alimentos. A hospedagem também não oferece nenhum luxo aos voluntários. Claudeci nos conta que conseguiram uma espécie de alojamento adaptado para o grupo num pequeno hotel da cidade, onde podem montar redes e colchões para dormir.

Além de remédios e roupas, missão presta apoio pedagógico às comunidades da ilha. (Foto: Arquivo Pessoal)
Além de remédios e roupas, missão presta apoio pedagógico às comunidades da ilha. (Foto: Arquivo Pessoal)

Na ilha, o grupo leva assistência social às famílias, que vivem ali em condições precárias. O trabalho deles consiste, resumidamente, em fornecer atendimento social, medicamentos e roupas, além de oferecer palestras em escolas. Desta vez, porém, a missão tem um objetivo extra: instalar uma bomba d’água, movida à energia solar, no poço que eles restauraram na comunidade.

Para isso, estão contando com o apoio do professor Doutor Ruben Godoy, do curso de Engenharia Elétrica da UFMS. Mas o trabalho não acaba aí - além da bomba, eles ainda precisam instalar as placas solares e a caixa d’água para o armazenamento. A meta é ter água potável para todos da região, e Claudeci faz questão de registrar: não só para os membros da igreja local.

Sobre a escolha de abrir mão das férias, deixar de lado os feriados aqui no Brasil e embarcar nessa missão intercontinental, ele é enfático: "o que me tira daqui é o amor pelas pessoas. Receber uma criança com dor de dente, e a gente conseguir extrair, limpar, e ela sair feliz, agradecida.

Uma senhora trazer uma criança com uma ferida na perna, a gente poder limpar a ferida, curar a criança, e no final da semana ela estar jogando bola na rua, isso me motiva. Ver a alegria, a gratidão nas pessoas", conta ele, que além de passar o natal e a virada do ano, vai passar o aniversário na ilha.

A estudante de Odontologia, Bruna de Mattos, atendeu população juntamente com a mãe, no início de 2018. (Foto: Arquivo Pessoal)
A estudante de Odontologia, Bruna de Mattos, atendeu população juntamente com a mãe, no início de 2018. (Foto: Arquivo Pessoal)

A estudante de Odontologia Bruna de Mattos, de apenas 21 anos, que já esteve na ilha de Bubaque, diz que a experiência transformou sua vida, e não apenas do ponto de vista religioso. “Compartilhar o amor de Deus, não apenas indo lá levar o evangelho, mas ajudar com as necessidades daquelas pessoas”. Ela conta também que foi surpreendida com o que viveu na missão.

“Eu acho marcante que aquele velho ditado é muito real: ‘quem doa é quem mais recebe’. Eu fui pra lá achando que ajudaria, com meu conhecimento em odontologia, e acabei sendo a mais beneficiada, pelo amor e pela gratidão daquelas pessoas, que é uma coisa que a gente não encontra mais hoje em dia”, relata ela, que está embarcando novamente para Guiné-Bissau, dessa vez sem a companhia da mãe, que é dentista.

Claudeci, que trabalha com suplementos alimentares, também traz na memória experiências marcantes, de quando esteve em Guiné-Bissau pela primeira vez. “Nosso grupo havia comprado bastante banana e quando passamos por uma comunidade, no caminho, nós fomos comendo e jogando as cascas no chão. Mas quando nós olhamos pra trás, nós vimos que algumas crianças estavam recolhendo e comendo as cascas de banana que a gente havia jogado no caminho. Aquilo partiu o meu coração, e foi ali que eu decidi que a gente teria que voltar àquele lugar, que a gente ainda tinha muito o que fazer ali”, relembra.

Claudeci explica que para a última ida ao país o grupo arrecadou muita roupa e sapato. A alegria de quem recebeu foi enorme, assim como o valor pago pelo transporte. Agora, com a lição aprendida, a prioridade é levar medicamento, que além de ser extremamente necessário, é mais barato que roupas para ser transportado internacionalmente. “Vamos ter que pagar muito excesso de bagagem. E nós preferimos pagar em medicamentos e suplementos nutricionais. A prioridade agora é a saúde”.

E quem quer ajudar, mas não sabe como, a Missão Andrews ainda não conseguiu toda a quantia de medicamentos necessária para o período em que estarão na ilha. Eles ainda estão recebendo doações em medicamento e em dinheiro, e conforme explicou o organizador do projeto, “não importa se é muito ou pouco. Se cem pessoas doarem dez reais, já teremos mil reais; se mil pessoas doarem um real, teremos mil reais, e isso faz muita diferença”, afirma.

Para ajudar, basta ligar para os números (67) 98117-0502 ou (67) 9239-3858, ou ainda, procurar o perfil da Missão Andrews nas redes sociais.

Missão pretende retornar, a cada ano, para melhorar vida de comunidade carente em país africano. (Foto: Arquivo Pessoal)
Missão pretende retornar, a cada ano, para melhorar vida de comunidade carente em país africano. (Foto: Arquivo Pessoal)

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