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Comportamento

Há 30 anos ele cultiva a enorme barba branca e uma profissão que virou raridade

Elverson Cardozo | 16/06/2014 06:19
Mácimo vive em uma casa simples de madeira, onde trabalha como amolador. (Foto: Marcelo Victor)
Mácimo vive em uma casa simples de madeira, onde trabalha como amolador. (Foto: Marcelo Victor)

Máximo Aguilheira cultiva uma barba branca há 3 décadas e um ofício que vem caindo no esquecimento. O senhor de 89 anos, umas das figuras mais conhecidas da Vila Margarida, em Campo Grande, é amolador de ferramentas.

Lida mais com as facas, utensílio que também fabrica artesanalmente. A “oficina” funciona na própria casa, no fundo do quintal, onde ele senta para cortar o aço com talhadeira, a base da martelada, sem qualquer ajuda de um equipamento de última geração.

O acabamento é “na raça” mesmo, utilizando três pedras: a de “vazar”, que tira a parte grossa da folha, a de “chegar o fio”, que desenha o corte e a de “assentar”, que afia a faca a ponto dela cortar os pelos do braço em uma passada de raspão. A fabricação de uma apenas demora, geralmente, um dia inteiro. “Dá trabalho porque faço tudo na mão”, conta.

Máximo começou na atividade sozinho, aos 67 anos. Aposentando do meio rural, ele não queria ficar parado e resolveu inventar alguma coisa. O passatempo virou negócio e agora ajuda a complementar a renda.

Amolador deixou barba crescer quando tinha 50 anos. (Foto: Marcelo Victor)
Amolador deixou barba crescer quando tinha 50 anos. (Foto: Marcelo Victor)

Pai de 8 filhos, 3 homens e 5 mulheres, o amolador, nascido em Bonito, hoje mora em Campo Grande, em uma casa de madeira, junto com a esposa, com quem está há 56 anos. Leva uma vida simples, mas não tem do que reclamar.

O passado foi mais difícil. Criado na roça, ele perdeu o pai aos 14 anos e, junto com a mãe, ajudou a criar os três irmãos. Começou a trabalhar cedo demais, mas descobriu que isso, como diz o ditado popular, "dignifica o homem".

Conhecido no bairro, o aposentado sempre recebe trabalhos. Conserta muitos cabos quebrados, mas sempre está recortando ou amolando uma nova faca.

O senhor de cabelos brancos gosta do que faz e, apesar do ofício ter caído no esquecimento, não cogita mudar de profissão.

Mas, se quiser, tem emprego garantido, pelo menos no final de ano, quando costuma ser chamado para trabalhar como Papai Noel. O único problema é a roupa pesada em dias de calor, o quebra a rotina a ponto dele desistir do ofício de Bom Velhinho.

“Muita gente tem me procurado, mas não me dou bem. Gosto de ficar a vontade”, justifica. A barba, afinal de contas, não foi cultivada para encarnar o maior personagem do Natal. É resultado da vida e das experiências, sempre precoces. “Deixei porque fiquei com ela branca muito novo, na base dos 50 anos, e nunca tinha visto um homem da minha idade assim."

Vira e mexe, alguém sugere uma "rejuvenescida" ao amolador de facas, mas a sabedoria de quem já viveu muito sempre fala mais alto. "Muita gente fala para tirar, porque fico mais novo, mas com ou sem baba eu tenho a mesma idade”.

No quintal de casa funciona a oficina. (Foto: Marcelo Victor)
No quintal de casa funciona a oficina. (Foto: Marcelo Victor)
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