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Comportamento

Há 50 anos, japonês da Rua Maracaju vive entre amor e abandono dos toca-discos

Tem muita coisa lá dentro, maioria foi deixada por clientes antigos

Thailla Torres | 26/09/2018 07:50
Ofício na Rua Maracaju tem mais de 50 anos. (Foto Marina Pacheco)
Ofício na Rua Maracaju tem mais de 50 anos. (Foto Marina Pacheco)

Um dos mais antigos comerciantes da Rua Maracaju, ainda em serviço, é Fumiyaki Noda, dono de uma eletrônica que há 50 anos conserta rádios e toca-discos, em Campo Grande. Na loja de aproximadamente 30 m², quase não dá para andar de tanto material de trabalho, a maioria abandonada por clientes.

O cantinho é ponto conhecido da clientela que ama vinil. “Ainda resta gente que valoriza o disco e precisa de um tocador”, justifica seu Fumiyaki sobre o tempo de trabalho, mesmo após a aposentadoria.

De pouca conversa no início, o clima sério é quebrado com o interesse na história das peças, que apesar de velhas, tem valor histórico para o dono. “Tem coisa aqui de 1970 que já considero relíquia”.

Com tanta peça, sobra pouco espaço para seu Fumiyaki ficar. (Foto Marina Pacheco)
Com tanta peça, sobra pouco espaço para seu Fumiyaki ficar. (Foto Marina Pacheco)

Mas a dificuldade é que muita coisa ficou para trás, sem conserto e os donos nunca mais apareceram. “Metade é abandonada e a outra metade pode ser que ainda tenha dono”, diz. "Mas tem gente que aparece depois de três anos em busca do rádio", completa.

Recuperar um som antigo, nos dias de hoje, é trabalho difícil, explica. “Pra tentar recuperar um aparelho, o problemas é que peça nova a gente não encontra mais. E como eu faço parte dos poucos que mexem com coisas antigas, todo mundo fala: leva no Japonês da Maracaju”, conta sobre como ficou conhecido.

Durante o bate papo seu Fumiyaki não para o trabalho, nem para exibir as relíquias que há na eletrônica, mas faz questão de dizer como se organiza entre as peças. “O que ainda tem conserto faço etiqueta e colo no aparelho. Então quando o cliente vem, eu encontro tudo. Porque não posso perder um aparelho do cliente”.

O sistema que ele chama de “computador” ainda é um caderno de papel com modelo do aparelho, nome e telefone dos clientes. Nas fichas de papel, ele organiza o que já foi consertado.

O dono é simpático e não pensa em abandonar o que faz. (Foto Marina Pacheco)
O dono é simpático e não pensa em abandonar o que faz. (Foto Marina Pacheco)
O trabalho é feito com muita paciência. (Foto Marina Pacheco)
O trabalho é feito com muita paciência. (Foto Marina Pacheco)

Sobre o balcão principal estão peças minúsculas, em que o proprietário usa “óculos lupa” para enxergar os detalhes. “Tudo isso eu uso e sei onde fica cada coisa”, garante.

Aos 71 anos e aposentado, seu Fumiyaki diz que não pensa em abandonar o prédio e nem ofício, apesar da pouca clientela hoje em dia. “É uma ocupação. Se eu largar isso daqui, não sei o que vou fazer porque são 50 anos de história nessa quadra”.

Ele conta que começou na região em uma loja próximo a Calógeras, anos depois se mudou para o outro lado da quadra. Começou no ofício assim que deixou o Exército, aprendeu sobre eletrônica por correspondência. “Tinha vários cursos por correspondência naquele tempo, eu já gostava de rádios, então escolhi mexer com isso”.

Os dias começam às 8h e terminam às 18h, com pausa para o almoço. Cliente é raridade, venda de toca-discos também. “Porque até pra vender coisa antiga dá um trabalho danado. Mas se alguém quiser comprar, dá pra pensar em um preço”, comenta.

Por isso o interessante do lugar é a resistência do dono e o número de peças que mesmo sem funcionar, pode servir de decoração ou até história para contar.

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Lojinha quase passa despercebida por quem vive nos tempos digitais. (Foto Marina Pacheco)
Lojinha quase passa despercebida por quem vive nos tempos digitais. (Foto Marina Pacheco)
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