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Comportamento

Histórias de quem sofre preconceito nas ruas até por causa da voz

Série Vozes é lançada hoje e celebra Dia Internacional Contra a Homofobia

Thailla Torres | 17/05/2021 11:59
Artur Colman, de 22 anos, é um dos participantes da série Vozes.
Artur Colman, de 22 anos, é um dos participantes da série Vozes.

No Dia Internacional contra a Homofobia, celebrado hoje (17), uma nova série conta histórias de quem sofre preconceito pelo tom de voz no universo LGBTQIA+. Em áudio, 10 pessoas compartilham as dores de sofrer preconceito pela forma como se expressam, isto é, pelo simples tom de voz.

O primeiro episódio será publicado nesta segunda-feira (17), no instagram do projeto, às 18h (horário de MS), mas você já pode ouvir um teaser abaixo.

O projeto é realizado pelo jornalista Elverson Cardozo, editor do Dois Iguais, mídia alternativa focada na comunicação para o público LGBTQIA+. A proposta traz testemunhos fortes e a ideia de criar uma série em áudio partiu da própria experiência como um homem gay, que sempre enfrenta preconceito por conta da voz.

“Trabalhar com a dor que eu mesmo conheço me faz elaborar e encarar situações traumáticas de outro jeito, sem estender o sofrimento de forma autodestrutiva, por isso as pautas LGBTs causam tanto apreço", explica.

Os personagens que integram a série “Vozes”, a maioria homens gays, surgiram de forma espontânea, a partir de uma pergunta simples no stories do Dois Iguais: “Você já foi vítima de preconceito por conta da sua voz”? A partir daí, os relatos apareceram de diversos cantos do país. “Recebi mensagens de seguidores que moram em outros Estados. Fiz uma triagem, solicitei depoimentos em áudio e depois editei. Foi surpreendente, relata.

Para Elverson, a série debate a temática ao mesmo tempo em que faz um alerta para o problema, pois muitos sofrem calados. "Têm medo de enfrentar e chega a desenvolver pensamentos suicidas. Inclusive, há participantes que pediram anonimato por medo de represálias e outros que não vão ouvir o próprio relato, porque o tom de voz gera sofrimento, tamanho preconceito enfrentado e, hoje, internalizado", conta.

Uma morte a cada 36 horas - Morrer todos os dias não é, exatamente, força de expressão. Segundo GGB (Grupo Gay da Bahia), a mais antiga organização em defesa dos direitos humanos dos homossexuais no Brasil, a cada 36 horas um LGBT brasileiro é vítima de homicídio ou suicídio, o que confirma o país como campeão mundial de crimes contra as minorias sexuais.

São lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersexos e demais variações biológicas de sexo, identidades de gênero e orientações sexuais que, segundo os pesquisadores, “sofrem cotidianamente por fugirem de um padrão socialmente imposto e referenciado a partir da heteronormatividade, binariedade e cisnormatividade”.

Através da própria experiência e sofrimento, Elverson lançou a série Vozes.
Através da própria experiência e sofrimento, Elverson lançou a série Vozes.

No ano passado, 237 mortes violentas foram documentadas pelo GGB por meio do “Observatório de Mortes Violentas da LGBTI+ no Brasil, relatório divulgado anualmente. Na lista de crimes bárbaros cometidos em 2020, predominaram os homicídios (90,71%), suicídio (5,48%) e latrocínio (3,79%). As causas das mortes são variadas: descarga elétrica, tortura, esquartejamento, pauladas, tiros, esfaqueamento, etc. As tipificações mais registradas foram: arma de fogo (42,30%), esfaqueamento (23,07%), espancamento (9,13%), entre outras.

"Em um cenário como esse, que inclusive coloca o Brasil como o país que mais mata homossexuais e transsexuais no mundo, falar sobre LGBTfobia e dar voz a quem sofre preconceito diariamente é mais do que necessário. Pode salvar vidas", enfatiza Elverson.

Neste sentido, a série “Vozes” é vista como um grito pela liberdade de ser. "Um grito coletivo, em uníssono, por isso está no plural, mas também um grito meu, sozinho, mesmo que para os ouvidos da hipocrisia a minha voz destoe daqueles que sequer tem a coragem de defender a própria honra”, argumenta o jornalista.

Bandeira LGBTQIA+. (Foto: Shutterstock)
Bandeira LGBTQIA+. (Foto: Shutterstock)

Como denunciar? - Em Mato Grosso do Sul, a Subsecretaria de Políticas Públicas LGBT realiza os encaminhamentos necessários para atendimento especializado de vítimas de LGTBfobia de forma a responsabilizar os agressores. O contato pode ser feito pelo telefone (67) 3316-9191 ou no e-mail lgbt@segov.ms.gov.br.

Você também pode ligar para a Ouvidora Nacional de Direitos Humanos, o Disque 100 - serviço do governo federal, que funciona 24 horas, todos os dias, para prestar informações, orientações e receber denúncias (anônimas ou não).

Pelo site da Polícia Civil de MS também é possível fazer denúncia, acessando a Delegacia Virtual ou no Aplicativo MS Digital, no ícone Segurança. Agora, em situações de urgência e emergência, quando uma agressão estiver acontecendo, a orientação é chamar a polícia pelo 190.

A Defensoria Pública de MS, por meio do NUDEDH (Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos) também pode atender vítimas de LGBTfobia. Por conta da pandemia, os atendimentos estão sendo realizados de forma online pelo site. Se preferir ligar, o telefone é o (67) 3313-4791 ou o Disque Defensoria 129, de abrangência estadual.  Outra opção é a Ouvidoria do Ministério Público de MS, que pode ser acionada pelos telefones 127 e 0800-647-1127, além do site.

Para acompanhar a série completa clique aqui.

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