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Comportamento

Homem se ajoelha todos os dias às 11h e se torna o "rezador" da Afonso Pena

Naiane Mesquita | 25/02/2016 06:12
Salomão pintou o quarto da cor do céu e escreveu o nome de Deus na porta: ali mora um novo homem (Foto: Fernando Antunes)
Salomão pintou o quarto da cor do céu e escreveu o nome de Deus na porta: ali mora um novo homem (Foto: Fernando Antunes)

Ajoelhado, com os pés cuidadosamente fora do calçado e as mãos unidas em sinal de respeito a Deus, Salomão Santos de Castro, 30 anos, ora todos os dias pontualmente às 11 horas, no cruzamento entre as avenidas Afonso Pena e Calógeras. Ali, despido de orgulho e cheio de compaixão, o pedreiro pede perdão aos pecados que cometeu no passado e com os olhos fechados sonha uma nova vida, dessa vez, conduzida por ele.

O orador é conhecido por todos que trabalham na região, moto-taxistas, frequentadores de uma banca de jornal próxima. No canteiro de obras ele se esconde durante o horário de trabalho e só na hora do almoço se aproxima do relógio no canteiro central, ajoelha e conversa com Deus.

É com calma, paciência e uma voz firme que Salomão explica que foi Deus que o incentivou a orar naquele ponto. “Sou da igreja Deus é Amor. Foi o Espírito Santo de Deus que tocou em mim para fazer a oração ali. Oro para o Deus maior que é o nosso senhor. Deus pai, Deus filho, Deus Espírito Santo. Fazer a oração ali é passar por cima da vergonha, da timidez, de todos os meus inimigos”, confessa o trabalhador.

Pontualmente, às 11 horas, Salomão agacha e faz sua oração (Foto: Direto das Ruas)
Pontualmente, às 11 horas, Salomão agacha e faz sua oração (Foto: Direto das Ruas)

Salomão só estudou até a sexta série do ensino fundamental. Da infância, ele se recorda dos momentos que brincou e das fazendas onde cresceu. “Meu pai sempre foi campeiro”, diz. A naturalidade é de Terenos e o ano em que desembarcaram aqui é confuso para ele. A mãe sempre foi religiosa.“Meu nome é bíblico por causa disso”, diz.

Ao lado do pai e do irmão, Salomão trabalha nas obras pela cidade. Atualmente tocam duas ao mesmo tempo. A parceria familiar é antiga, entrega o filho. “Fazíamos frete, de carroça, de caminhão. Foi uma vida bem gostosa que Deus deu para nós”, abre um sorriso.

Em cada frase que o fiel diz, em todas o nome do Senhor é mencionado. É ele quem protege, livra e abençoa Salomão e seus irmãos. “Ele tem um propósito para mim, não só para mim, mas para você e ele”, diz.

Esse carinho pela igreja reaflorou em Salomão após a prisão no ano passado. Em 14 dias dentro da cela, o pedreiro diz que tudo que fez foi se prostrar na frente de Deus, a pedir perdão.

“Fiquei 14 dias, mas parecia mais de mês. Para quem não está acostumado, aquilo não é vida. Fui pego com uma arma inafiançável. Mas, um tempo depois, Deus foi lá e abriu a fiança, só milagre mesmo. No mesmo dia que eu estava saindo, um pastor foi preso, nem sei o motivo. Nos encontramos e ele disse que Deus tinha um propósito para mim, que se continuasse nessa vida acabaria voltando para a cadeia e permanecendo mais, 5, 6 anos”, relembra.

Salomão em casa, pouco antes de ir para o culto (Foto: Fernando Antunes)
Salomão em casa, pouco antes de ir para o culto (Foto: Fernando Antunes)

Foi nesse momento que Salomão se lembrou dos pais. “Eu sou da igreja Deus é Amor desde pequeno. Minha mãe apresentou para mim a igreja. Aceitei Cristo uma vez, mas depois veio o mundo das drogas, da prostituição, dos jogos, da sinuca. Com o vício você não pede misericórdia a Deus, mas mesmo assim ele livra você do que é ruim”, acredita.

Cinco anos usando zuka, bebendo e fumando maconha tinham deixado Salomão descrente e pouco carinhoso com os pais. “Minha mãe passava mal e eu nem ligava. Pensava que ela iria morrer mesmo e não poderia fazer nada. Quando fui preso tudo que eu pedia era para ver ela mais uma vez, ganhar um abraço dela, é tão gostoso”, se emociona.

Livre da justiça, Salomão decidiu voltar para casa, para a igreja, para o mundo que ele deu as costas no passado. Com coragem, ajoelhou em plena Afonso Pena e agora não tem mais vergonha de dizer o nome de Deus.

“Antes poderia pagar para mim dar um glória a Deus na rua que eu não daria. Deus todo poderoso me deu essa coragem, se não fosse ele nem para a igreja eu iria. Também se não fosse minha mãe, que fazia vigilia todas as noites. Eu não via que estava me matando aos poucos. Sempre dou esse testemunho na igreja, as pessoas precisam saber que Deus age dessa forma na nossa vida”, diz.

Todo esse desejo de mudar está impresso na casa simples da família, no bairro São Conrado. No quarto dos fundos, Salomão pintou as paredes de azul. Deixou para trás o branco amarelado e coloriu tudo da cor do céu. Antes de entrar no cômodo, os escritos sinalizam que ali é a casa de um fiel. “Deus tirou as vendas dos meus olhos”.

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