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Comportamento

Lésbica também é dona do próprio corpo, mas quando engravida...

Aos 24 anos, ela relata o preconceito sofrido por ser lésbica e descobrir uma gravidez não planejada

Thailla Torres | 28/06/2018 08:13
Grávida de 37 semanas, ela enfrenta o mundo pelo direito de ser lésbica e mãe. (Foto: Fernando Antunes)
Grávida de 37 semanas, ela enfrenta o mundo pelo direito de ser lésbica e mãe. (Foto: Fernando Antunes)

São surreais, para não dizer absurdo, relatos sobre o preconceito e acusações contra mulheres lésbicas que se tornam mães. Muitas vezes, o que era para ser um dos momentos mais importantes da vida, vira pesadelo. 

A personagem, que terá o nome preservado na reportagem porque diz estar cansada de ataques, é lésbica e tem 24 anos. A experiência sexual com um homem nos últimos meses a colocou numa situação intolerável. Ao descobrir uma gravidez não planejada, a resistência e os comentários chegaram com violência, inclusive, de pessoas que fazem grupo LGBT. Nem entre as amigas ela encontrou solidariedade.

A lista de comentários é longa: "Mas você não é lésbica?", "Você é praticamente um homem", "Como foi capaz de transar com um cara?", "Você nem é feminina", ouviu a auxiliar de cozinha, grávida de 37 semanas.

O desejo agora é por um futuro menos preconceituoso e machista para o primeiro filho. (Foto: Fernando Antunes)
O desejo agora é por um futuro menos preconceituoso e machista para o primeiro filho. (Foto: Fernando Antunes)

Se ser mãe solo já é difícil, a gestação de uma lésbica então se tornou luta diária, desde o resultado positivo. "O mais inacreditável é que os comentários vieram das próprias mulheres, como se eu fosse incapaz de gerar um filho", narra. Ter se relacionado pareceu ser o menos aceitável para justificar o julgamento. "Elas acharam um absurdo, muitas se afastaram, enquanto eu pensava: só estou grávida, não cometi um crime", acrescenta.

Sem maquiagem, cabelo curto e escolha por roupas da coleção masculina, os detalhes atraem ainda mais os olhares e a censura. "Todo mundo olha e repara".

No caminho de casa para o trabalho, quando está no ônibus, ela já aprendeu a respirar fundo com os comentários. "Os idosos são o que mais perguntam: mas você não gosta de garotas, minha filha?", reproduz um dos diálogos mais comuns com quem fica curioso ao ver a barriga. Quem não tem coragem de perguntar observa, mas sem pudores. "Os mais adolescentes ficam de cochicho e risadas".

Tudo começou quando se interessou por um colega de trabalho. "Fazia 6 anos que eu não ficava com um homem", lembra. "Estava com uma mulher e durante uma briga, eu e ele transamos, foi uma vez só".

Cerca de um mês depois sentiu as mudanças no corpo, o seio inchado foi a primeira suspeita de gravidez. Com medo do resultado, ela chegou a fazer quatro exames. "Dois de farmácia, um sangue e uma ultrassom. Não queria acreditar que aquilo tinha acontecido".

A companheira a deixou, as amigas ficaram indignadas e autocobrança foi o mais devastador. "Eu entrei em depressão, me julgava por ter ficado com um homem, me julgava por ter feito algo que na verdade é direito de qualquer mulher e eu também tive preconceito comigo.".

Chegou a pensar em aborto e em uma das tentativas, foi parar no hospital. "Tomei todo tipo de chá que me indicavam".

A esperança - A reviravolta veio aos três meses de gestação. Foi o som do coração do bebê que fez ela olhar o que vinha passando de um jeito diferente. "Eu ouvi coraçãozinho e descobri que era um menino. Naquele instante meu coração disparou, eu sabia que ele era meu filho e comentário nenhum poderia tirar meu direito de ser mãe".

No guarda-roupa, as roupinhas para o pequeno que deve chegar a qualquer momento. (Foto: Fernando Antunes)
No guarda-roupa, as roupinhas para o pequeno que deve chegar a qualquer momento. (Foto: Fernando Antunes)

O amparo maior veio da família. "Era só isso que faltava para eles, eu ser mãe. Graças a Deus todo mundo me apoiou e está babando com o bebê".

Algumas amigas se afastaram, outros colegas prepararam recentemente o chá de bebê com roupinhas que ela não cansa de olhar e imaginá-lo vestindo. "Já estou ansiosa pra segurar ele nos braços, não vejo a hora". 

Na emoção da reta final e prestes a entrar na 38ª semana da gravidez, ela ainda está trabalhando e diz que vai manter o ofício até onde o bebê deixar. "Não faço nenhum esforço e tive uma gravidez muito saudável, quero continuar minha vida normal e ter um parto natural também".

Sobre os olhares e o preconceito de quem passa por perto, o jeito para ela é transformar tudo em único desejo. "Não quero passar nada disso para o meu filho. Se ele vai ser gay, hétero, transexual, não sei. Mas eu só sei que vou apoiá-lo e ensinar que ele precisa saber respeitar as diferenças. É só isso que eu quero, porque as pessoas precisam de respeito pra evoluir".

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O modelinho mais especial, que a mãe está ansiosa para vestir em seu pequeno. (Foto: Fernando Antunes)
O modelinho mais especial, que a mãe está ansiosa para vestir em seu pequeno. (Foto: Fernando Antunes)
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