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Comportamento

Mãe de 9, faxineira realizou sonho de ser fotografada graças aos colegas

Thailla Torres | 21/03/2017 07:58
Dona Vera fez um pedido e ganhou presente especial no fim de semana.
Dona Vera fez um pedido e ganhou presente especial no fim de semana.

Um ensaio para revelar a beleza de uma mulher guerreira. Foi assim, a sessão fotográfica de Vera Lucia da Silva, de 61 anos. No último fim de semana, ela ganhou o presente, depois de compartilhar o desejo de deixar algo especial de recordação para os filhos.

Há quatro anos, ela trabalha como faxineira no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) e sempre que observava alguém com câmera na mão, lembrava da vontade de fazer um ensaio. Na semana passada, ela não teve vergonha de falar o que sentia.

"A vida vai passando e a gente só vai ficando para trás. Casei minhas filhas, todo mundo fez foto e até hoje eu não tinha feito um ensaio só meu", diz Vera.

Vera ganhou maquiagem e ajuda para escolha do figurino. (Foto: Arquivo Pessoal)
Vera ganhou maquiagem e ajuda para escolha do figurino. (Foto: Arquivo Pessoal)

Foi graças ao estagiário de Jornalismo, Pedro Neto, que o sonho dela virou realidade. "Eu vi ele passando com a máquina e pedi se pudesse fazer umas fotos minhas com um preço mais barato. Porque eu não tinha condições", diz.

Como Pedro não é fotógrafo profissional, colocou o pedido de Vera no Facebook e ganhou a parceria de dois fotógrafos em Campo Grande. Pelas lentes de Marcos Maluf e Leandro Oliver, o ensaio aconteceu no Parque das Nações Indígenas, um dos lugares que Vera mais gosta na cidade.

E ela conseguiu levar para a sessão de fotos o que realmente é. Mulher guerreira, cheia de autoestima e que faz questão de falar das conquistas na vida, graças ao chão que limpa todos os dias.

Nascida em Presidente Venceslau (SP), Vera chegou a Campo Grande quando era pequena na companhia do pai. Passou maior parte do tempo morando em fazendas, onde conheceu o marido que já faleceu. Casada aos 16 anos, Vera teve 11 filhos, dois deles partiram muito cedo.

A primeira perda, veio quando o filho tinha apenas 2 anos de idade. "A gente não tinha muitas condições e nem informação na época. Ele teve uma infecção intestinal muito forte e acabou morrendo".

Tempos depois, um atropelamento tirou a vida de uma das filhas, com 4 anos de idade. "Foi uma perda muito difícil. Mas a gente era pobre e tinha que continuar lutando pela vida dos filhos".

Ensaio feito no Parque das Nações Indígenas. (Foto: Marcos Maluf e Leandro Oliver)
Ensaio feito no Parque das Nações Indígenas. (Foto: Marcos Maluf e Leandro Oliver)

Depois de ficar viúva, Vera precisou de forças para garantir o sustento da família. "A gente que é evangélica desde criança, acredita que apesar de todas as dores, sempre tem um dia melhor pela frente e sempre foi assim na minha vida", diz.

Trabalhando como faxineira, criou 9 filhos e se orgulha de ter garantido os estudos de quase todos. "Todo mundo passou pela escola e ainda se formou em universidade pública", se orgulha.

Sem nunca ter pisado em uma escola, há cinco anos Vera enche os olhos ao dizer que é uma das alunas no colégio Dom Bosco no período noturno, onde ganhou uma bolsa de estudos. "Agora estou fazendo a quinta série e faço questão de fazer tudo normal. Estudar era um sonho que eu tinha e só agora realizei". 

Mulher de fé, a escola trouxe a Vera a chance de realizar os trabalhos na igreja. "Quero continuar estudando firme para ler a bíblia na igreja. E o restante é ter saúde para continuar ensinando". 

Por tudo que já passou na vida, Vera acredita que chegou a um patamar privilegiado. "Sou uma pessoa muito feliz, todo mundo se pergunta como eu cheguei até aqui sem nenhum estresse e depressão. Mas eu sempre acreditei que o choro pode durar a noite toda, mas o sorriso sempre vem pela manhã", afirma.

"o choro pode durar a noite toda, mas o sorriso sempre vem pela manhã", diz Vera. Foto: (Marcos Maluf e Leandro Oliver)
"o choro pode durar a noite toda, mas o sorriso sempre vem pela manhã", diz Vera. Foto: (Marcos Maluf e Leandro Oliver)
Um retoque antes da sessão. (Marcos Maluf e Leandro Oliver)
Um retoque antes da sessão. (Marcos Maluf e Leandro Oliver)
O dia de Vera foi ainda mais colorido. (Marcos Maluf e Leandro Oliver)
O dia de Vera foi ainda mais colorido. (Marcos Maluf e Leandro Oliver)

Com as fotografias em mãos, o sorriso de Vera agora está completo. "Eu fiquei numa felicidade só. Sempre quis um ensaio assim para deixar aos meus filhos quando eu fechar os olhos de uma vez. Quero deixar um quadro bem grande na sala e que eles olhem para mim com o mesmo orgulho que eu tenho deles", diz encantada.

Um novo olhar - A boa ação da equipe em ver o sorriso de Vera, acabou virando permanente.

Sempre focado em histórias de vida e que emocionam, agora o projeto fotográfico Olhares do Bem fará um ensaio todo mês para alguém que tenha sonhos semelhantes ao de Vera.

"A gente ficou bastante emocionado com a história de vida da Vera. É uma pessoa que faz bem por onde passa no TJ e todo mundo a conhece. Vimos o quanto a fotografia foi importante para ela e agora o objetivo dói projeto será esse. Mudar o dia das pessoas através de um outro olhar", explica Pedro Neto, de 23 anos. 

Quem quiser ficar por dentro do projeto, pode acompanhar os próximos ensaios pelo Facebook.

(Foto: Marcos Maluf e Leandro Oliver)
(Foto: Marcos Maluf e Leandro Oliver)
(Foto: Marcos Maluf e Leandro Oliver)
(Foto: Marcos Maluf e Leandro Oliver)
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