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Comportamento

Mães se emocionam em 1ª vez com filhos autistas dentro de um cinema

Sessão ocorreu com luzes acesas, som mais baixo, temperatura ambiente e portas abertas

Danielle Valentim | 01/07/2019 07:58
Davi e sua mãe Ana Paula. (Foto: Kísie Ainoã)
Davi e sua mãe Ana Paula. (Foto: Kísie Ainoã)

“É a 1ª vez do Davi e estou muito emocionada”, afirmou a professora Ana Paula Garcia e Souza, de 47 anos, ao levar o filho de 13 anos numa sessão de cinema totalmente adaptada no Shopping Bosque dos Ipês. Com 132 ingressos vendidos para o filme Toy Store 4, esse fim de semana foi especial para muitas famílias que têm em casa um anjo azul.

Visivelmente, Ana Paula era a mãezinha mais emocionada do rolê. Davi tem paralisia cerebral e autismo e o objetivo era conseguir permanecer na sala ao menos 10 minutos.

“É a primeira vez do Davi, ele passou por treinamento com as meninas da ABA, para que ele consiga se concentrar. Ele veio comprar o ingresso antes, pois toda sexta-feira, a cada 15 dias, é o passeio dele no shopping. Hoje ele veio entender o que é o cinema. Porque até ficar em casa na televisão é difícil para ele”, explicou Ana Paula, que aponta a sessão como um marco na vida de Davi.

Ana Paula estava muito emocionada.(Foto: Kísie Ainoã)
Ana Paula estava muito emocionada.(Foto: Kísie Ainoã)

O termo “anjo azul” se refere ao fato do transtorno ser mais frequente em meninos. O Lado B foi até o UCI para acompanhar a sessão adaptada, por regras do cinema a reportagem não pôde fotografar, mas falou com Ana Paula depois do filme.

O clima estava agradável, o som mais baixinho, algumas luzes acesas e as portas abertas. Adaptações suficientes para que muitos participantes ficassem até o fim.

A sessão começou às 11h, que também foi um horário escolhido propositalmente. Apenas cinco crianças permaneceram brincando, afinal, a animação não era interessante para eles.

arquiteta Vanessa Soares, de 28 anos, acompanhou o filho Pedro, de 6 anos. Ela explica que a experiência é diferente e talvez a solução para que o filho permaneça na sala até o fim do filme.

“Acredito que ele vá conseguir ficar mais tempo na sala. As duas vezes que eu tentei não consegui, foram 20 minutos. A gente acaba que perde o ingresso. As vezes que eu comprei não consegui permanecer com ele na sala. A gente espera chegar à netflix”, pontua.

“Eu já fui com meu pai, que se chama Leandro. Não lembro o filme, mas hoje vamos ver Toy Store, eu amo Toy Store”, completou Pedro, muito animado.

A arquiteta Vanessa Soares, de 28 anos, acompanhou o filho Pedro, de 6 anos. (Foto: Kísie Ainoã)
A arquiteta Vanessa Soares, de 28 anos, acompanhou o filho Pedro, de 6 anos. (Foto: Kísie Ainoã)
Funcionária pública Laura Soares Fernandes, de 36 ano, tinha medo de levar o filho ao cinema. (Foto: Kísie Ainoã)
Funcionária pública Laura Soares Fernandes, de 36 ano, tinha medo de levar o filho ao cinema. (Foto: Kísie Ainoã)
Davi à esquerda e Pedro à direita. (Foto: Kísie Ainoã)
Davi à esquerda e Pedro à direita. (Foto: Kísie Ainoã)

Pedro desenvolveu a fala aos 3 anos, após dar início a terapia ABA (AppliedBehaviorAnalysis), que por aqui é conhecida como Análise do Comportamento Aplicada.

Na fila de ingressos, a funcionária pública Laura Soares Fernandes, de 36 anos, comprava o ingresso para o filho Davi Fernandes Carvalho, de 4 anos, pela primeira vez.

“Eu nunca tive coragem. Eu acho que vai dar certo, o Davi é muito com barulho, o escuro ele não aceita. Em casa ele também não assiste filmes, ele não se prende muito ao que ele não gosta. O Davi foi diagnosticado dentro do espectro autista, com a síndrome de asperger. Aos 2 anos já lia e escrevia. Então, se o desenho não fala desse assunto não é do interesse e ele não presta atenção”, explica Laura.

A psicóloga Tarita Almirão dos Santos Oliveira, de 33 anos, que atende na Clínica Comportar, explica que a ABA é parte aplicada de uma abordagem do comportamento humano e não apenas um método. Apesar de ter ficado conhecida por seu trabalho com crianças com autismo, pode ser usada em qualquer ambiente social onde haja necessidade de modificação comportamental.

“A terapia em ABA pode favorecer a aquisição da linguagem, que é uma habilidade, geralmente, afetada pelo autismo, porque possui método e técnicas baseada em evidências cientificas, intervenção intensiva, durando em torno de 10 horas semanais, de segunda a sexta. Porém, outras questões também afetam o um melhor prognóstico, como a intervenção precoce e o grau de comprometimento" explica.

Davi encantado com o cinema. (Foto: Arquivo Pessoal)
Davi encantado com o cinema. (Foto: Arquivo Pessoal)

Deu certo? A professora que o Lado B conversou no início do filme garante que, sim. “Ele ficou até o final. Sentado, comendo pipoca, olhando e se encantando com tudo ao seu redor, como as luzes e o lugar de pôr o copo. Ele se encantou com o tamanho da "televisão" e prestou atenção em vários momentos. Foi um lord”, riu Ana Paula.

A experiência superou as expectativas da mãe. “A experiência foi a melhor possível! Valeu cada momento. O atendimento, a receptividade das pessoas do cinema. Mostra à sociedade, que a inclusão precisa estar em todos os lugares. Que as crianças com deficiência precisam ter seus direitos garantidos. Nós mães, país, familiares estaremos na luta constante”, finalizou.

Família fora de casa – Os desafios sociais e de comunicação de pessoas com autismo isolam muitas famílias e uma sessão no cinema adaptada pode salvar a relação familiar.

"Quando recebemos uma criança, procuro saber como é a rotina dela com a família, quais os meios de apoio que a família possui, como interagem com a criança, pois entendemos que comportamentos são condicionados na relação. Em muitos casos, a família não consegue sair com a criança, nem mesmo em ambientes com os familiares, como festas de aniversário, reuniões de família e assim por diante, assim, a família vai ficando isolada socialmente. Um dos motivos é que algumas pessoas dentro do Espectro Autista, possuem alterações sensoriais: luzes, barulhos, podem incomodá-las. Por isso o projeto Sessão Azul, procura adaptar o ambiente a pessoas com essas alterações. Por isso, só o fato de a família conseguir vir ao cinema com o filho, já favorece a relação familiar como um todo”, finalizou Tarita.

A Sessão Azul é um projeto que adapta locais como cinema, teatro e Aquários para pessoas com autismo. A psicóloga Bruna Manta, de 33 anos, explica que os voluntários que acompanham a sessão são treinados. “Passamos um treinamento online, por Skype sobre como eles vão atuar no dia e sempre acompanhamos a primeira sessão”, disse.

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