Mercado Santa Catarina tem 52 anos de história e ainda vende na caderneta
Inaugurado em 1966 por casal que veio do sul, comércio ainda mantém móveis da época que abriram
Em 1932, Valdomiro João da Silva e Geraci Maria da Silva deixaram Santa Catarina para buscar uma nova oportunidade no antigo Mato Grosso. Quando chegaram aqui, investiram em fazenda em Rochedinho, mas a saúde exigiu novo rumo nos planos e o casal trocou o interior por Campo Grande.
Depois do primeiro filho, quando o segundo estava por vir, Geraci teve complicações na gestação que levaram à morte da criança. Anos depois, a má notícia foi um câncer agressivo de mama.
Para custear o tratamento da esposa, seu Valdomiro vendeu tudo em Rochedinho e veio para a Capital. Por aqui, o casal continuou no perrengue, passou a vender na Feira Central com uma charrete, um dos únicos bens que ainda restavam.
Quando tiveram certeza que se dariam bem com as vendas, com clientes fiéis, em 1966 compraram um terreno no bairro Coronel Antonino e construíram ali a sede do mercado Santa Catarina, uma homenagem ao estado onde nasceram.
A mercearia simples tinha de tudo, de sacos de feijão a arroz a granel e até um pequeno bar nos fundos, onde o pessoal podia tomar a cervejinha do fim de tarde. Há 35 anos, o filho mais velho do casal, Álvaro, assumiu o mercado e continuou o trabalho dos pais.
Da mercearia pequena na rua Dollor Ferreira de Andrade, de quando ainda não tinha asfalto, o Santa Catarina se tornou parte da história da região e da vida de muitas famílias. Quem cresceu ali, conhece bem o mercado e seus donos.
“Tenho fregueses que compram conosco há mais de trinta anos. Herdei o mercado dos meus pais, hoje já falecidos. Permaneci trabalhando aqui nestes 52 anos. Me casei, criei meus filhos e hoje vejo meus netos crescerem trabalhando no comércio. O mercado é minha vida”, revela Álvaro Cunha da Silva, de 72 anos, filho do casal que fundou o mercado.
Quem entra no Santa Catarina, faz uma viagem no tempo ao ver as guloseimas expostas em baleiros antigos e os produtos em balcões de madeira. Álvaro mantém o mercado no mesmo estilo de quando era criança. Inclusive, ainda tem as antigas “cadernetas” para venda a prazo.
“Vendo apenas para aqueles clientes que compram comigo há muitos anos, muita coisa se modernizou, mas há quem prefira comprar assim, onde a moeda do crédito é a confiança”. Ao Lado B, ele confessa que o sistema é arriscado e alguns clientes já demoraram para pagar, mas jura que nunca levou calote.
O comerciante também mantém alguns fornecedores que cresceram junto com ele. “Vendo pão fresquinho todos os dias, meus clientes vem cedo buscar para o café da manhã. A padaria, São João, que me fornece os pães, trabalha comigo há mais de 30 anos. O produto deles é diferente, tem gente que vem de longe comprar. Crescemos e fizemos tradição no comércio juntos”, detalha.
Outra tradição do mercado são as frutas e legumes frescos que o proprietário faz questão de buscar todos os dias bem cedo na Ceasa. Além disso, o local está recheado de mercadorias diversificadas e mantém a tranquilidade e bom atendimento do pequeno comércio.
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