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Comportamento

Na bicicleta, seu João vende doces pela cidade e roda até 40 km por dia

Naiane Mesquita | 29/08/2016 06:30
Seu João e a companheira inseparável de 30 anos e 40 km rodados por dia (Foto: Fernando Antunes)
Seu João e a companheira inseparável de 30 anos e 40 km rodados por dia (Foto: Fernando Antunes)

Seu João tem sorriso fácil e papo de sobra. Ele fala sobre religião, política, economia e passa pela criação dos filhos em minutos. Logo se desculpa, porque “tem esse jeito mesmo de se comunicar, cheio de brincadeira”. É com essa simpatia que ele percorre até 40 km por dia vendendo doces em uma bicicleta. “Esses tempos eu fui a um médico e ele disse que esse é o melhor exercício para a minha idade. Então, eu continuo”, ri.

Paranaense, de Laranjeiras do Sul, João Wilson Alves Nogueira, 71 anos, juntou os quatro filhos e a mulher, dona Eleni Maria Nogueira, 60 anos, e veio tentar a vida em Campo Grande. Com alguns familiares aqui, primeiro ele trabalhou em um atacado e na fabricação de pães. A esposa é cozinheira de profissão e exerceu o ofício durante anos em um buffet.

“Até começar a sentir dores na perna pelos longos períodos em pé. Desde então, ajudo minha filha a fazer bombons para fora. Nós temos uma empresa chamada Cheiros e Sabores, são doces mais para festa mesmo”, explica Eleni.

Seu João gosta do trabalho porque sempre conhece novas pessoas (Foto: Fernando Antunes)
Seu João gosta do trabalho porque sempre conhece novas pessoas (Foto: Fernando Antunes)
Dona Eleni mostra orgulhosa o hobbie do marido, as pinturas (Foto: Fernando Antunes)
Dona Eleni mostra orgulhosa o hobbie do marido, as pinturas (Foto: Fernando Antunes)

Essa vocação para os doces de certa forma contagia toda a família. Seu João que já era acostumado a bater de porta em porta para vender pão, desde 1996 encontrou um novo comércio. Acorda cedo para ir à distribuidora, lá compra paçoca, pé de moleque, bananinha e tudo mais. Coloca os produtos nas cestas da frente e de trás e sai pelos bairros de Campo Grande. “Eu busco os doces perto do laticínio. Depois vou para o Aero Rancho, Tijuca, Parati, onde moro, volto para outros pontos. Têm vezes que faço várias vezes o mesmo caminho, depende de quem quer os doces”, afirma João.

Nessa conta, ele diz que andou 40 km facilmente. “Eu gosto desse trabalho porque tenho facilidade em me comunicar. Se você não conversa, só fica trancado em casa, não tem muito que crescer e aprender. É preciso se arriscar”, diz.

A magrela que o acompanha durante 30 anos (Foto: Fernando Antunes)
A magrela que o acompanha durante 30 anos (Foto: Fernando Antunes)

Na empreitada, quem acompanha seu João é a bicicleta azul, que na verdade, já foi rosa. “Era da minha filha. Tava encostada em casa e eu resolvi reformar. Pintei de azul e virou minha companheira. Eu tenho a mesma bicicleta desde então, tem 30 anos essa história”, indica.

Os problemas de saúde ficaram para trás com a carreira em duas rodas. “Ele tinha epilepsia, na época morávamos em Cascavel. Desde que chegamos em Campo Grande, o João não teve mais crises. Mesmo o problema na pressão não impede ele de continuar pedalando. Meu marido trabalha o dia todo, das 8h até as 17 horas, com parada para o almoço. Não tem jeito, a gente tem que continuar”, confirma Eleni.

Os dois são casados há 40 anos. Um complementa o outro, até nas histórias. Nem mesmo as diferenças religiosas, Eleni é católica e João é evangélico separaram a família. “A gente se respeita muito”, diz a mulher. A arte também ajuda nessa aproximação. "Eu faço artesanatos, crochê, tem os bombons da minha filha. Ele é pintor, tem uns quadros ótimos", diz, orgulhosa. 

Para João, a vida não tem segredo. O importante é amar a Deus, continuar o trabalho duro e não ter medo de conhecer e conversar com outras pessoas, se comunicar, como ele gosta de dizer. “Eu me considero uma pessoa feliz”.

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