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Comportamento

Na cadeira de rodas, Maikon passa semana entre venda de balas e treino de bocha

Jovem também é paratleta e quer fazer faculdade de ciências contábeis

Wendy Tonhati | 10/02/2019 08:30
Pelo menos cinco caixas de balas são vendidas durante o dia (Foto: Kisie Ainoã)
Pelo menos cinco caixas de balas são vendidas durante o dia (Foto: Kisie Ainoã)

Na Afonso Pena, entre carros estacionados na calçada e pisos mal conservados, Maykon Douglas de Jesus Almiron passa o dia, em uma cadeira de rodas motorizada, indo e vindo para vender balas de goma. O trecho escolhido é entre o Shopping Campo Grande e o Camelódromo. Maykon tem 23 anos e nasceu com má-formação congênita dos membros. Além de vender balas para viver, ainda treina bocha adaptada três vezes por semana no sonho de ser campeão.

Cada pacote de bala de goma é vendido por R$ 1. Abordando as pessoas que andam pela avenida, ele costuma vender cinco caixas em um dia. A média é de duas viagens completas: shopping/Camelódromo-Camelódromo/shopping (por duas vezes).

Maykon diz que as contas a pagar foram o incentivo para que ele fosse às ruas vender balas. Morando com a mãe e uma irmã mais nova, ele consegue com o dinheiro das balinhas pagar as contas da casa como água, luz e internet e também conseguiu colocar algumas contas em dia. Como uma dívida de cerca de R$ 3 mil que ele tinha com uma universidade particular.

“No final do ano passado, eu estava passando por alguns problemas financeiros e, pelo fato de eu ser aposentado pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), não posso conseguir um emprego com carteira assinada. Como eu tive experiência com venda de balinha de goma e tenho facilidade com isso, eu juntei o útil ao agradável”, conta Maykon.

Aos 23 anos, Maykon vende balas e treina bocha adaptada (Foto: Kisie Ainoã)
Aos 23 anos, Maykon vende balas e treina bocha adaptada (Foto: Kisie Ainoã)

Algumas vezes, as balas acabam ainda no começo da tarde. No dia em que o Lado B conversou com Maykon, por volta das 13 horas, havia apenas metade da última caixa de balas. “Não sei se vou voltar para casa não. Quando o dia está assim, me dá uma louca e eu compro mais balas para continuar vendendo”, diz.

Com sorriso no rosto, Maykon diz que a maioria das pessoas é simpática. A experiência em vender balas de goma na rua ele adquiriu pela igreja que frequenta em que são feitos projetos para arrecadar dinheiro.

“Com esse dinheiro eu estou pagando literalmente todas as minhas contas que estavam em débito. Há pouco tempo, finalmente, eu paguei o débito que eu tinha com a faculdade. Então, com essas balinhas eu estou fazendo praticamente tudo”.

A semana de Maykon é bem dividida. Um dia na semana vende balas de goma das 8 horas às 17 horas. Nos outros dias pratica esporte. Ele é paratleta de bocha adaptada e treina toda segunda, quarta e sexta das 14h às 16h na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Ele já participou dos jogos Para-Sulamericanos com a seleção brasileira de bocha, dos Jogos Parapan-Americanos Juvenis entre outras competições nacionais e internacionais.

Maykon que terminar a faculdade (Foto: Kisie Ainoã)
Maykon que terminar a faculdade (Foto: Kisie Ainoã)

Maykon nasceu em Bela Vista (325 quilômetros de Campo Grande). Até os 7 anos ele frequentou a Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) na cidade. “A minha deficiência é apenas física e conforme eu fazia terapia, equoterapia, eu fui me adaptando para fazer tudo como comer e me arrumar. Quando cheguei aos 7 anos, a Apae falou: você não precisa mais ficar aqui. Eu saí da Apae, eu fui direto para uma escola particular da cidade”, relembra.

Depois que saiu da Apae, Maykon não frequentou mais nenhuma instituição e mudou-se para Campo Grande quando estava na terceira série. Na Capital, o Ensino Médio foi feito totalmente em escola pública. “Em Campo Grande eu fiz todo o Ensino Fundamental e Médio. Cheguei até começar faculdade de Ciências Contábeis, porém, por motivos financeiros eu tive que trancar. Mas eu estou com planejamento de no futuro voltar”.

Na cadeira de também há um guarda-chuva para quando o tempo fecha e o sol é constante é a única queixa de Maykon. “A gente tem conta para pagar e dá-se um jeito. O único problema é o sol. Eu gosto de vender e então não é tão trabalhoso. Tem algumas pessoas que são um pouquinho mais difíceis de lidar, mas normalmente, eu consigo vender com tranquilidade. É balinha de goma, quem não gosta de um doce. Ainda mais que é R$ 1, todo mundo acha uma moedinha perdida”.

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