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Comportamento

Na mesma sala, pai, mãe e filho voltam a estudar para transformar a vida juntos

Família decidiu largar tudo em Palmeiras e, apesar dos amigos acharem loucura, veio para Campo Grande só para terminarem os estudos

Thaís Pimenta | 16/04/2018 06:10
De bicicleta, eles andam cerca de 5km diariamente com rumo a escola Brasilina, no bairro Leblon. (Foto: Roberto Higa)
De bicicleta, eles andam cerca de 5km diariamente com rumo a escola Brasilina, no bairro Leblon. (Foto: Roberto Higa)

De segunda a sexta, lá pelas seis horas da tarde, o pai, Maurício Salazar Jorge, a mãe, Suely Fontes Rodrigues e o filho mais velho Maxiel Rodrigues Jorge, pegam as bicicletas em direção à escola Escola Estadual Brasilina Ferraz Mantero, em Campo Grande, para completar, por meio do EJA o Ensino Médio e,  finalmente, receberem o diploma de 2º Grau Completo. 

A história desses três começa, na verdade, em Palmeiras, distrito de Dois Irmãos do Buriti, onde moravam e trabalhavam na fabricação de móveis rústicos. O pai era quem ficava com o serviço puxado, a mãe lhe ajudava e o filho fazia uns bicos nas chácaras vizinhas. Porém, com o tempo, Maurício começou a se queixar de dores no corpo. "É um trabalho muito difícil, de levantar madeira, cortar com serra elétrica. Então, depois de já fazer isso por muitos anos, meu corpo começou a reclamar".

Em busca de uma vida menos sofrida, por mais saúde e possibilidades no futuro, Maurício propôs à mulher que eles voltassem para a escola. Eles tinham parado de estudar na sexta série e, ano após ano, foram chegando até o Ensino Médio. O problema é que em Palmeiras só existiam escolas até o Ensino Fundamental e, para estudarem, precisariam fazer uma viagem até o município mais pŕóximo.

Na ânsia de continuar, a família decidiu mudar mais uma vez a vida e largou tudo para morar em Campo Grande, no bairro São Conrado. "Nosso filho mais velho também começou a estudar conosco pois tinha se limitado ao Ensino Fundamental pelo mesmo motivo que nós", diz Suely.

Hoje, os amigos que ficaram em Palmeiras dividem opiniões em relação ao rumo escolhido. "Tem gente que aplaude nossa decisão e tem gente que acha que é loucura", comentam.

A família chegando no colégio. (Foto: Roberto Higa)
A família chegando no colégio. (Foto: Roberto Higa)

Já faz um ano e três meses que estão morando em Campo Grande, mas volta e meia eles vão para Palmeiras buscar madeira para produção dos móveis que agora produzem em Campo Grande.  Numa casinha simples, ainda sem paredes e janelas, eles vivem a espera das transformações que tanto buscam.

Sobre estudarem juntos, eles dizem que é uma experiência bacana. "A gente não briga não. Sentamos juntos na sala de aula e em semana de prova a gente estuda aqui em casa antes", explica Suely, a mãezona que assume ter dificuldade com matemática.

Maurício no trabalho pesado. (foto: Roberto Higa)
Maurício no trabalho pesado. (foto: Roberto Higa)

Já os meninos da casa têm mais facilidade com os números e querem ir para a área de Engenharia Civil e tecnologia. "Maxiel é desses que gosta de abrir televisão, arrumar as peças, o computador, vai ser inventor", imaginam os pais.

Suely pensa em ser enfermeira, mas ainda não tem certeza sobre a área que quer seguir. "Eu gosto do Biologia, de Filosofia também", completa.

A família garante que o diploma tornou-se um sonho em conjunto. "A gente vivia uma vida que, se não mudasse nada, íamos morrer daquele mesmo jeito. Mas tomamos uma decisão e sabemos que só por meio da educação isso vai melhorar. Nossos filhos estão trilhando seu próprio caminho pra não terminarem que nem a gente", finalizam.

Maurício e Suely estudando para a semana de provas que começa nessa segunda-feira na escola. (Foto: Roberto Higa)
Maurício e Suely estudando para a semana de provas que começa nessa segunda-feira na escola. (Foto: Roberto Higa)
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