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Comportamento

Namorada esperou 4 anos por Oleg, fugitivo de guerra que agora ensina ucraniano

Naiane Mesquita | 17/06/2015 06:12
Oleg deixou a Ucrânia em busca de uma nova oportunidade no Brasil (foto: Fernando Antunes)
Oleg deixou a Ucrânia em busca de uma nova oportunidade no Brasil (foto: Fernando Antunes)

"Cursinho de inglês todo mundo fez...Mas aulas particulares de russo ou ucraniano". O cartaz pregado em uma escola de dança de Campo Grande chamou a atenção do Lado B logo de cara. Quem estaria dando aulas de ucraniano em Campo Grande? Depois de algumas ligações e um contato por Facebook, a resposta veio por meio de uma história de guerra, amor e superação.

O jovem Oleg Kuhtinov tem 24 anos e todos eles vividos em Konstantinovka, cidade que fica a 50 km de Donetsk, sudoeste da Ucrania.

A região, que apareceu diversas vezes no noticiário mundial ao se transformar em alvo e abrigo dos separatistas ucranianos, se tornou um local perigoso para o professor. Ao escolher fugir das consequências de um conflito armado que já matou mais de 6 mil pessoas, Oleg também escolheu deixar para trás amigos e familiares.

Naquele momento, a única chance que tinha de não integrar o exército de ambos os lados era se refugiar no Brasil. Em busca dos sonhos, ele desembarcou em São Paulo no dia 26 de dezembro. "Eu só conhecia um amigo da internet de São Paulo e mais ninguém. Fiquei apenas um dia na cidade e depois segui para Campo Grande", afirma.

Na Cidade Morena, Oleg buscava não só a paz, mas também um grande amor. Apaixonado pela cultura brasileira, percorreu milhares de quilômetros para encontrar a amada que vivia em Campo Grande. O casal namorava a distância há quatro anos e nunca tinham se encontrado pessoalmente. "A conheci em um site para aprender novas línguas. Ela corrigia os meus textos. Depois fomos para o Skype e assim fomos ficando amigos e então namorados. Ela me esperou durante quatro anos", relembra.

Na mala que desembarcou no aeroporto de Campo Grande apenas alguns bens pessoais, um pouco de dinheiro e duas bíblias, em ucraniano e russo. "Nos dois últimos anos comecei a me esforçar mais para aprender o português corretamente. Isso ajudou bastante no início", conta.

A facilidade em aprender línguas, Oleg fala espanhol, inglês, francês, italiano, português e agora está aprendendo alemão, fizeram com que o jovem visse na educação uma forma de se manter no Brasil. "Cheguei aqui e não encontrei ninguém que falasse russo, muito menos ucraniano. Comecei a me oferecer para dar aula e hoje tenho cinco alunos, quatro fixos e um eventualmente. Pela internet eu também dou aulas, para pessoas que não estão em Campo Grande. No Brasil, quase ninguém fala o idioma", aponta.

Para ele, tudo que aconteceu o fez se encontrar em outra carreira. "Hoje eu gosto de dar aulas. Descobri algo novo que eu não tinha o conhecimento de que era capaz", diz.

Morando em apenas um cômodo, com cama e uma mesinha para estudos, o jovem não perde o bom humor, muito menos a esperança. "Cheguei sem nada. Tive que morar na casa da minha namorada nos primeiros dois meses, mas agora consegui meu lugar. É pequeno e simples. Mas sou eu que mantenho, com meu trabalho", celebra, orgulhoso.

Os olhos azuis profundos do jovem se mantém em um sorriso quase constante, em especial, quando lembra da cidade natal e das peripécias para chegar ao Brasil. A expressão só muda ao ser questionado sobre os amigos e a guerra que deixou para traz.

"Meu amigo perdeu o pai dele. Os separatistas entraram no culto, prenderam os líderes do louvor e alguns filhos deles. Exigiram dinheiro para soltá-los, eles pagaram, mas o acordo não foi cumprido. Eles acabaram morrendo. Eu não queria participar disso, não aceitava que isso estava acontecendo no meu país. Vim embora porque não queria matar ninguém, nem fazer parte de um jogo político que está causando o sofrimento de tanta gente", lamenta.

Pergunto ao observar as duas bíblias que ainda o acompanham em cima da mesinha, se Oleg é religioso. "Não gosto dessa palavra. Religião e fé são coisas diferentes. A religião diz muitas coisas que as vezes não devemos seguir. Eu tenho a minha fé e ela é cotidiana, onde eu acredito que minhas atitudes devem ser melhoradas a cada dia".

Quem se interessar pelas aulas de russo ou ucraniano o contato de Oleg é (67) 9184-2537

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