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Comportamento

Neta arma reencontro da avó com filhos e irmã que não via há 44 anos

Mariana Lopes | 19/12/2013 18:35
(Foto: Cleber Gellio)
(Foto: Cleber Gellio)

De um lado, a tia que cuidou dos três filhos da irmã mais velha. Do outro, a mãe que ficou com os outros quatro filhos. E no meio das duas partes da família, que foram separadas pelos desencontros da vida, uma neta, que não mediu esforços para presentear a avó que não via os filhos e a irmã há 44 anos.

Este ano, o Natal chegou para mais cedo para a dona Joaninha Alexandrina dos Santos, 77 anos. Ela teve 7 filhos com o primeiro marido, dos quais três foram criados pelo irmã mais nova, Lindaura Alexandrino dos Santos, 73 anos.

Quando o marido de Joaninha faleceu, em um acidente de caminhão, no interior do Paraná, ela voltou com os filhos para a Bahia para buscar a irmã. As duas retornaram para o Sul do Brasil, onde se casaram.

Porém, Lindaura teve que acompanhar o marido que arrumou emprego no interior de Mato Grosso do Sul. Como a vida financeira estava difícil na época, Joaninha pediu à irmã, que ainda não tinha filhos, que ficasse com três das crianças dela.

Depois da mudança, as duas nunca mais se encontraram, nem ao menos tiveram notícias uma da outra. Desde então, a vida delas foi uma eterna busca, que findou na tarde desta quinta-feira (19), no pátio da 5ª Delegacia de Polícia, em Campo Grande.

Suspense - Antes do tão esperado encontro, as duas partes da família ficaram em cantos separados da delegacia, até que a matriarca chegasse ao local. Nos minutos de espera, a ansiedade e a emoção estavam estampadas nos rostos de todos.

Entre os irmãos que foram separados, a maioria não se lembrava sequer dos traços dos outros. “Ele é a cara do Edilson”, comenta a investigadora Maria Campos, responsável por encontrar uma parte da família. A frase instigou ainda mais a curiosidade deles, os irmãos que foram separadas quando ainda eram crianças, e se encontraram hoje.

“Recebi a notícia na sexta-feira, às 10 horas da noite, e desde então não como e nem durmo direito”, conta Edilson Pinto, 45 anos, que foi criado pela tia desde os 9 meses, e hoje mora em Sinop, interior de Mato Grosso.

Junto com ele estava o outro irmão, Valtemir Pinto, 56 anos, a tia e a prima, Marcilene dos Santos, com quem foram criados como irmãos. “Agradeço demais a Deus, reencontrar minha família é mais do que um presente pra mim”, vibrou Valtemir, que não escondia a felicidade.

Do lado de fora da delegacia estavam os filhos que ficaram com dona Joaninha, junto com os agregados. Todos vieram de Jundiaí, cidade do interior de São Paulo, onde moram com a mãe.

Entre eles, o clima de ansiedade, com um misto de pura alegria, era o mesmo. Dionísio Pinto, 47 anos, tremia de tanta emoção, pois, para ele, essa seria a primeira vez que iria ver os irmãos. Antes do reencontro, precisou até ser atendido pelo Corpo de Bombeiros, tamanha era o nervosismo dele.

No local, ainda estavam os outros filhos: João Aparecido Pinto, 49 anos, Maria Nilza Pinto da Costa, 50 anos, e Marinei Pinto da Silva, 57 anos. Filha do segundo casamento de dona Joaninha, Neide Aparecida da Silva Pereira, 39 anos, também foi para conhecer os irmãos, dos quais escutou falar a vida inteira.

Neta arma reencontro da avó com filhos e irmã que não via há 44 anos
Neta arma reencontro da avó com filhos e irmã que não via há 44 anos

O encontro - Enfim, dona Joaninha chegou à delegacia. A apreensão aumentou. Todos os irmãos, junto com a mãe, se levantaram para receber outros irmãos que haviam sido criados pela tia. O grande encontro teve plateia, da imprensa e de boa parte da equipe da Polícia.

O momento que todos ficaram cara a cara merecia ser congelado e guardado para a eternidade. As lágrimas rolaram fácil, tanto nos rostos dos familiares quanto dos que apenas tiveram o privilégio de assistir ao reencontro.

Veio o abraço. Os braços da mãe que não via os filhos há tantos anos ficou pequeno para aninhá-los o quanto ela gostaria. Mas foi forte, demorado e cheio de emoção. Logo vieram os outros irmãos, e então o abraço foi coletivo, entre sorrisos e lágrimas.

Antes mesmo que dona Joaninha recuperasse o fôlego do encontro com os filhos, chegou a irmã, Lindaura. As duas caminharam uma de encontro à outra. Se olharam e se abraçaram. O momento traduziu exatamente aquilo que chamamos de “matar a saudade”.

“Estou com meu coração descarregado, feliz demais, por anos fiquei imaginando como eles estavam, e hoje estou aqui, vendo eles de pertinho”, comentou dona Joaninha.

O primeiro abraço das irmãs depois de 44 anos (Foto: Cleber Gellio)
O primeiro abraço das irmãs depois de 44 anos (Foto: Cleber Gellio)

Quem também ficou com o coração satisfeito foi a neta que correu atrás de tudo só para ver a avó realizar o maior sonho da vida dela. Priscila Pinto da Silva, 26 anos, estava há mais de um mês atrás dos tios. A princípio começou uma investigação por conta própria, em cartórios.

“Até que eu procurei a imprensa de São Paulo, que me indicou entrar em contato com a polícia. Daí, em 20 dias encontraram os filhos da minha avó”, conta Priscila.

Notícia triste - De repente, um deles gritou que a família ainda não estava completa. Faltava uma das irmãs que ficou com dona Lindaura. Mas nem tudo foi alegria na tarde de hoje. A investigadora, infelizmente, teve que dar a notícia à família de que Maria Lúcia Pinto, que hoje estaria com 55 anos, morreu em 2001, por problemas cardíacos.

Em busca do paradeiro dela, a investigadora descobriu que Maria Lúcia morava em um assentamento em Nioaque, distante 179 quilômetros de Campo Grande. Mas apesar da notícia triste, outra surpresa veio encher os corações dos familiares.

A polícia encontrou um dos filhos de Maria Lúcia, Benigno Alves Barbosa, 25 anos. “Minha mãe sempre falava da família dela, e hoje estou aqui, ganhei um monte de tios”, disse o novo neto de dona Joaninha.

Trabalho árduo – Em 2013, a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul realizou 173 reencontros de parentes que se perderam uns dos outros no meio do caminho. Conhecida e reconhecida pelo trabalho de encontrar pessoas desaparecidas, a investigadora Maria Campos se alegra em poder mostrar o “lado bom” da polícia.

“É muito gratificante”, resume a investigadora. Em meio ao clima pesado de prisões, bandidos e crimes, esses casos levam vida e leveza à rotina das delegacias.

Mas para chegar até o encontro, o trabalho foi árduo. "Passei um dia inteiro em um assentamento, gastei sola de sapato, almocei manga quente, tudo para descobrir onde estava uma das irmãs", relata Maria Campos, que, junto a uma equipe, viajou ainda por outras cidades do interior do Estado.

Na tarde de hoje (19), a investigadora ainda seguiu com outra equipe para Ribas do Rio Pardo, onde iria promover outro reencontro familiar.

Festa - Agora, a família não quer mais se desgrudar. Todos ficam na Capital até o próximo domingo (22). "Vamos fazer um churrasco e festejar muito. Depois eles vão para Jundiaí e queremos que fiquem pelo menos um mês lá com a gente", conta João.

Entre abraços e carinhos, todos da família já trocaram telefones e redes sociais. "Nunca mais vamos perder o contato", ressalta um dos irmãos.

Família toda reunida (Mariana Lopes)
Família toda reunida (Mariana Lopes)
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