ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUINTA  25    CAMPO GRANDE 31º

Comportamento

No dia que a mãe foi embora, Tetê soltou a voz com a Bachiana de Villa Lobos

Lenilde Ramos | 14/05/2017 07:10
Humberto e a mãe em foto de arquivo da família Espíndola.
Humberto e a mãe em foto de arquivo da família Espíndola.

Quando a gente perde a mãe muito cedo, o carinho de mães postiças preenche o espaço que fica. No meu caso, minhas primeiras mães postiças foram as freiras do Auxiliadora: Silvia Vecellio, Cecília Maggioni, Elza Ribeiro, Lourdes Rosa e Ondina e, de algumas ainda tenho abraço de mãe até hoje.

Saí do internato para a vida, me envolvi naturalmente com o movimento artístico da cidade e conheci os irmãos Espíndola: Walkíria, Humberto Espindola, Sergio Espíndola, Geraldo Espindola M Espindola, Espindola Tetê, Celito Espindola, Alzira Espindola e Jerry Espíndola, quando ainda moravam no casarão da Vasconcelos Fernandes.

Ali, conheci Alba e foi amor à primeira vista. Comecei a frequentar o "Espindolar" como diz Joel Pizzini e a compartilhar também das artes de Alba, de sua voz delicada, de seu timbre de Dalva de Oliveira e da maestria de suas receitas.

Para mim, ninguém fazia uma torta melhor que ela. Guardo a lembrança de Alba deixando-se cobrir de lençóis, brincando de deusa grega com os filhos. Fui migrando para os lares da família, frequentei seu apartamento da Dom Aquino e me penitencio por não tê-la acompanhado mais nessa fase.

Alba escrevia poemas, pintava, fazia colagens nos móveis e teve música gravada por Eduardo Dusek. Lutava contra a labirintite, mas não deixava de fazer sua caminhada pela manhã, dando a volta na quadra de sua casa. Uma vez encontrei-a furiosa porque, ao passar em frente a uma lanchonete a labirintite roubou-lhe o equilíbrio por alguns instantes. Na falta de chão, procurou apoio na parede e alguém a chamou de... "cachaceira..." Depois demos boas risadas.

Amigos queridos foram ao funeral de Alba. O enterro foi no final da tarde e quando o caixão começou a baixar à sepultura, a filha Tetê, num ímpeto de amor e homenagem, quebrou o silêncio e soltou a voz, como eu nunca tinha visto, cantando a Bachiana número 5 de Villa Lobos. O grito de Tetê paralisou a todos nós, tomou conta do espaço, invadiu nossos corações e nossa emoção. Haveria despedida mais sincera? (Alba com o filho Humberto)

Nos siga no Google Notícias