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Comportamento

No Pioneiros, em festa para São Cosme e Damião adulto vira criança

Paula Maciulevicius | 29/09/2014 07:00
No templo de Umbanda, a homenagem do dia era aos irmãos São Cosme e Damião. (Foto: Marcelo Victor)
No templo de Umbanda, a homenagem do dia era aos irmãos São Cosme e Damião. (Foto: Marcelo Victor)

Os balões são todos coloridos, as paredes que antes eram só brancas e azuis ganharam mãozinhas e pezinhos em tinta, além de joaninhas, abelhas, estrelas e borboletas. O Templo de Umbanda Pai Oxalá, em Campo Grande, se vestiu neste domingo para as crianças. A homenagem do dia era aos irmãos São Cosme e Damião.

A comemoração tem data tanto no calendário católico, quanto nas religiões afro. Antes da cortina azul do altar se abrir e a festa começar, o pai de santo e responsável pelo templo, Orlando Mongelli, de 85 anos, resumiu o que viria a seguir. "Reunimos o que há de melhor em enfeite em todo centro para homenagear. São crianças, gostam de cores", explica.

Uma vez ao ano a casa abre as portas aos domingos, no último fim de semana de setembro, para uma programação específica aos pequenos em homenagem aos orixás Ibejis, do amor e da alegria, sincretizados em Cosme e Damião. "Eles são doutores, são de cura. Filhos de Iemanjá e que protegem as crianças. Hoje cultuamos a saúde de criança e a beleza dela, para libertá-las destes males que estão sendo cometidos", reforça Orlando.

Médiuns da casa e atores, trupe encenou a história de São Cosme e Damião.  (Foto: Marcelo Victor)
Médiuns da casa e atores, trupe encenou a história de São Cosme e Damião. (Foto: Marcelo Victor)

No salão, os bancos de madeira já estão tomados por famílias, pais e avós com os pequenos que desta vez têm atenção total para os balões. Antes da abertura, os corredores viram passarela de brincadeiras, mas nada que falte com o respeito. São gritos de alegria e risadas, de quem se sente muito bem ali.

Para apresentar a história, artistas tomam a cena. Cosme e Damião são representados por Tamara Prantl e Pietro Lara, da trupe Bobos da Plebe, que explicam quem são os santos irmãos. "Irmãos gêmeos, nascidos por volta de 260 depois de Cristo", apresentam. De família nobre, Cosme se intitula o "melhor médico que já existiu e também muito popular. Oi, tudo bem?" saúda a plateia. Já Damião, toma a voz para dizer que é farmacêutico e "muito enfeitado".

Juntos, os atores que também são médiuns da casa, contam que a dupla não cobrava nada pelos atendimentos prestados. O fazia em nome de Jesus Cristo, o que mais tarde causou a ira do imperador Diocleciano. Perseguidos, foram várias as tentativas de lhes tirarem a vida, até virarem mártires ao serem decapitados. "Seus nomes são pronunciados inúmeras vezes e no mundo inteiro. Considerado padroeiro dos médicos, enfermeiros e pela simplicidade e pureza, protetores das crianças", declamam juntos. Ao som de "Viva São Cosme e Damião", eles dão um gostinho do que a cortina escondia.

Júlia, de 6 anos, foi uma das participantes. Levada pela avó, tomou passe pela saúde. (Foto: Marcelo Victor)
Júlia, de 6 anos, foi uma das participantes. Levada pela avó, tomou passe pela saúde. (Foto: Marcelo Victor)

O ritual - Conduzidos pelo pai de santo e um dos diretores da liturgia da casa, Luís Mongelli, os cerca de 30 médiuns adentram ao templo, vindos da porta de entrada, levando crianças pelas mãos. Cada um segura uma rosa branca que no altar é oferecida a São Cosme e Damião.

Sob cânticos, palmas e saudações, é no altar que a festa começa. A cortina se abre e aos olhos dos pequenos e também dos grandinhos, o colorido se espalha ainda mais. Pipas na parede, carrinhos pendurados ao teto, figuras de meninos e meninas por todo lado. É a hora dos adultos virarem crianças.

Pelo ritmo do atabaque, é visível a transformação. Neste momento, conforme explicado ao Lado B, os médiuns recebem espíritos de crianças de até 7 anos, o que justifica as brincadeiras, risadas e palmas que eles apresentam ao público. Transformados, de criança para uma criança o passe será dado.

Sentados em círculo pelo altar, a cena de transformação não assusta os pequenos. A vontade é tamanha de chegar perto, de receber o passe e o doce que eles se aglomeram na abertura. Um empurra-empurra contagiante, de quem não quer brigar, mas apenas garantir o seu espaço.

Pelo ritmo do atabaque, é visível a transformação dos adultos em crianças. (Foto: Marcelo Victor)
Pelo ritmo do atabaque, é visível a transformação dos adultos em crianças. (Foto: Marcelo Victor)

Nas vestimentas, os médiuns já usavam fitas azuis ou rosas, dependendo do sexo, ao receberem os brinquedos e doces, frutos da doação do público, ficam ainda mais felizes. A reação causa espanto também em quem nunca viu uma cena daquela. "Uai? Mas, olha só, eles viram crianças mesmo!", exclamava o tempo todo uma senhora ao meu lado. Ela preferiu não ceder entrevista, disse que estava ali só por curiosidade.

Uma fila de adultos e crianças se forma rumo ao passe. Um a um, os pequenos vão entrando e se necessário, acompanhados por familiares. Os médiuns conversam, dão o passe e na saída, cada um leva para a casa, bolo, doces em geral, guaraná e até brinquedos.

A aposentada Cátia Corrêa trouxe a neta Júlia, de 6 anos, para participar da festa pela primeira vez. "Achei bonito, as crianças brincando, a entidade chegando. não tenho conhecimento nenhum de espiritismo, mas o ritual foi alegre, gostoso", conta. A neta tem problemas de saúde, o que levou a avó a permitir o passe. "O que achei mais interessante é que ela foi lá na entidade e a entidade sabia que eu era a responsável, mandou me chamar. É por isso que eu estou aqui, em busca, cheia de esperança pela saúde dela", disse.

Ainda na fila, Fabiana Ferreira de Souza de 40 anos, tinha consigo as duas filhas, de 8 e 3 anos. Crescida na doutrina espírita ela trouxe as crianças por um motivo especial e que deveria ser avaliado por todos, seja qual fosse a religião. "Acho importante você estar próximo de Deus e estar próximo das crianças é estar próximo de Deus. Cosme e Damião representam isso", descreve.

Além do passe, as crianças aguardavam pelos doces, a mãe não tinha receio da reação que as meninas poderiam ter, ao ver que adultos se transformaram em meninos. "Quem conhece um pouco da doutrina sabe que crianças até 7 anos enxergam com os olhos de Deus".

A festa acabou, mas o Templo de Umbanda Pai Oxalá tem atividades de segunda à sexta, a partir das 19h30. O endereço é Avenida Joana D'Arc, 819, no bairro Pioneiros.

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