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Comportamento

No transporte coletivo, mulher ao volante tem torcida e também olhar desconfiado

Há 10 anos, Luzinete é uma das 11 mulheres dirigindo ônibus pela cidade, ainda sob olhares desconfiados

Thailla Torres | 28/06/2017 07:44
Motorista há 10 anos, Luzinete leva paciência e gentileza para dentro do ônibus. (Foto: Alcides Neto)
Motorista há 10 anos, Luzinete leva paciência e gentileza para dentro do ônibus. (Foto: Alcides Neto)

Diariamente Luzinete começa sua história às 3h20 da madrugada para se arrumar e dar tempo de chegar ao trabalho que começa às 4h10. Há 10 anos ela é motorista de ônibus do transporte coletivo em Campo Grande. No ônibus, enfrenta o estresse diário do trânsito cada vez mais turbulento, mas com a sensibilidade que para muitos usuários só se encontra em uma mulher. Por isso, ganharam torcida para que o mercado se abra cada vez mais a elas.

É no bom humor que ela responde sobre o preconceito com mulher ao volante. (Foto: Alcides Neto)
É no bom humor que ela responde sobre o preconceito com mulher ao volante. (Foto: Alcides Neto)

É dando bom dia que Luzinete Prado Pinto, de 45 anos, ganha a maioria. Em troca, recebe elogios, sorrisos, mas também alguns olhares de surpresa. "Os olhos das pessoas dizem muito quando entram dentro do ônibus. Até criança fica espantada ao ver que uma mulher está dirigindo".

Dos perrengues da rotina, o que incomoda é o assédio, que ela já aprendeu a lidar. "Existe muito ainda, principalmente de homens. Mas graças a Deus nunca passou de olhares. Eu procuro sempre focar no serviço", conta.

Recorrente mesmo é o receio de alguns passageiros cheios de preconceitos sobre mulher ao volante, até das outras. "Sempre tem um machismo através de olhares. E tem muita mulher que tem problema em aceitar, achando que a gente não vai dar conta de dirigir. Algumas entram com medo, ficam sentadas segurando forte no banco. Mas eu dou risada, nem ligo mais".

Transporte sempre foi uma paixão na vida da campo-grandense. O começo da profissão foi dirigindo van escolar e com o tempo ela decidiu se aprimorar em veículos maiores. "Sempre gostei de dirigir e também por alguns motivos pessoas, decidi começar no ônibus", conta.

Edivaldo torce para que o mercado abra espaço para elas. (Foto: Alcides Neto)
Edivaldo torce para que o mercado abra espaço para elas. (Foto: Alcides Neto)
Letícia já passou por situações como a de Luzinete. (Foto: Alcides Neto)
Letícia já passou por situações como a de Luzinete. (Foto: Alcides Neto)

Ela recorda que o começo foi difícil, principalmente, pelo trânsito cada vez mais movimentado. "É um exercício de aprimoramento, mas com o tempo fica até fácil. Difícil mesmo é o movimento, cada vez mais arriscado para quem dirigi. As pessoa ainda são muito imprudentes", conta.

Mãe de 2 filhos e dona de um sorriso simpático, nem o fato de levantar na madrugada desanima a motorista. "Não pretendo deixar a profissão tão cedo. Não é fácil levantar no escuro, mas quando a gente gosta do que faz, não tem hora para trabalhar", afirma.

Torcida - Motorista da linha 474 que faz o percurso do terminal Júlio de Castilho até a Universidade Católica Dom Bosco, Luzinete já é bem conhecida pelos estudantes. A maioria nem fica surpreso pelo fato dela ser mulher, mas ressalta a diferença quando o assunto é simpatia.

"Eu acho super normal. Na minha visão não tem diferença nenhuma, porque o trabalho é uma escolha, mas uma mulher acaba se diferenciando pela maneira como trata as pessoas. Acho que elas são diferentes, porque já estão tão acostumadas com outras tarefas além do trabalho, que a paciência é um virtude entre elas", diz Edivaldo Francisco de Oliveira, 21 anos, acadêmico de Engenharia.

Deurezi só pede por segurança na hora de dirigir.
Deurezi só pede por segurança na hora de dirigir.

Diante dos relatos de Luzinete, a estudante Letícia Sousa, de 22 anos, se identifica quando o assunto é machismo.

Acadêmica de Engenharia, ela diz que precisou lidar com olhares e situações diferentes ao longo do curso"Infelizmente vem de uma cultura onde essas profissões são reconhecidas como pertencentes aos homens, mas estamos em outros tempos. No início da faculdade já passei pela mesma situação e acredito que no ônibus ainda é preciso evoluir. Tem poucas mulheres porque elas já chegam na entrevista de emprego e a maioria é de homens, precisam lidar com estresse, assédio, olhares, então isso tudo é muito exaustivo na profissão", pontua. 

Dona Neurezi Datie, 60 anos, não vê diferença, torce mesmo é pela paciência dos motoristas. "Mulher e homem tem total capacidade de trabalhar em qualquer função, mas só precisam de cuidado mesmo. Dirigir com calma, porque é muito perigoso", declara.

Hoje em Campo Grande, 11 mulheres estão atrás do volante no transporte coletivo.

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