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Comportamento

Nos 100 anos do único presidente nascido aqui, MS guarda os vestígios de Jânio

Ângela Kempfer | 25/01/2017 17:15
Jânio Quadros no Hotel Santa Mônica em 1968 (Foto: Arquivo)
Jânio Quadros no Hotel Santa Mônica em 1968 (Foto: Arquivo)

Na Rua 14 de Julho, pouco antes de Avenida Mato Grosso, as novas fachadas  há muito tempo escondem o prédio branco que, como as lendas urbanas que ganham força sem registro histórico, teria sido a primeira morada do único presidente da república de certidão campo-grandense. Jânio Quadros também foi um dos mais polêmicos, e desde sempre teve uma história conturbada.

Do nascimento, o que há de comprovação é uma cópia de registro no Cartório Santos Pereira, de 25 de janeiro de 1917, às 11h da manhã.

Entre os historiadores, são duas as versões sobre a data. Alguns dizem que Jânio nasceu mesmo em Miranda e apenas foi registrado aqui. Outros contam que o parto ocorreu durante uma viagem da família ao Estado, que durou pouco mais de dois meses.

Apesar dos detalhes apagados, no centenário do ex-presidente, a biografia o trata como campo-grandense, filho do curitibano Gabriel Quadros, formado em Direito pela Universidade de São Paulo e o 22º presidente do Brasil.

Cópia da certidão de nascimento.
Cópia da certidão de nascimento.

Já havia sido eleito vereador, prefeito, deputado e governador do mais rico estado brasileiro, mas experimentou pouco o poder diante de um País, de 31 de janeiro de 1961 a 25 de agosto de 1961. Renunciou, o vice João Goulart assumiu e 3 anos depois veio o golpe militar de 64.

Passados 100 anos, nunca o perfil de Jânio foi tão atual na política brasileira e internacional. Do presidente, ficou a imagem de um excêntrico moralista que usou o símbolo da vassourinha para varrer a corrupção, proibiu biquíni na TV, sacrificou os trabalhadores e fechou acordos com bancos internacionais. Entrou para a história como o homem que levou o Brasil à crise política e à beira da guerra civil.

Por aqui, ficaram as penas que vieram depois da renúncia.

No quarto 606 do Hotel Santa Mônica, em Corumbá, a placa indica: "Aqui se hospedou um hóspede ilustre". Quando Jânio teve os direitos políticos cassados, enfrentou 120 dias de confinamento em Mato Grosso do Sul.

No prédio tradicional, no Centro da Cidade Branca, são várias as lembranças daquele tempo, a partir da chegada em 30 de julho de 1968.

No livro “O Diário de um Confinado", o jornalista Mauro Ribeiro relata que o ex-presidente era vigiado 24 horas por dois policiais federais que ficavam no corredor do sexto andar do Santa Mônica.

Até a distância dos passeios dele e da esposa Eloá era limitada. No primeiro mês, ainda frequentava restaurantes e casas de amigos, mas nos últimos 60 dias, foi proibido de sair do hotel. Ali, esperou habeas corpus do Supremo Tribunal Federal, sem sucesso.

Nas paredes, as declarações de um político que parecia amaciado pelo tempo também viraram história emoldurada. "Não há de ser nada. Respeitemos a decisão do Tribunal. Se os ministros acham que devo ficar aqui, aqui ficarei. Se luto por respeito aos tribunais quando eles me são favoráveis, igualmente é meu dever respeitá-los, e às suas decisões, quando me atinjam..."

Apesar da estadia forçada, a vida entrava pela janela, e Jânio parecia aproveitar o pouco que lhe restava de liberdade. "Poderá haver espetáculo mais belo que o morrer do sol em Corumbá?", disse ao contemplar o pôr-do-sol em outubro de 68.

Registro de entrada no hotel, no dia 30 de julho de 1968. (Foto: Marcos Ermínio)
Registro de entrada no hotel, no dia 30 de julho de 1968. (Foto: Marcos Ermínio)
Homenagem na porta do quarto 606.
Homenagem na porta do quarto 606.
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