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Comportamento

O primeiro guia de Bonito é para a cidade o Homem Caverna, cheio de histórias

Thailla Torres | 12/04/2017 12:29
Esse é Sérgio da Gruta, conhecido como Sérjão ou homem caverna.
Esse é Sérgio da Gruta, conhecido como Sérjão ou homem caverna.

Para quem vive em Bonito, é comum ver Sérgio Ferreira González vestido de Homem Caverna pela cidade. A figura é um dos primeiros guias turísticos do lugar. Desde 1978 trabalha ali, quando ainda não havia regras para exploração. Sérgio ou Serjão, como é conhecido pelas redondezas, ajudou a desbravar boa parte dos locais que hoje são preservados como algumas das maiores riquezas de Mato Grosso do Sul.

Aos 60 anos e cheio de bom humor, ele não se cansa. Nascido em Aquidauana, hoje ninguém tira Serjão de Bonito, afirma ele. "Eu que criei os passeios aqui, no Aquário Natural, nas cachoeiras", diz. 

Naquele tempo, tudo era feito de um jeito quase amador. "Quando vim morar em Bonito, eu tinha uma propriedade na beira do Rio Formoso, naquele tempo eram 1,5 mil habitantes, no máximo. Bonito era estilo velho-oeste. Eu entrava nas propriedades para levar os amigos, ia guiando eles, levava até nascentes, cachoeiras e na Gruta do Lago Azul. Naquela época tinha gente que fazia churrasquinho na beira do lago", recorda sobre algo inaceitável nos dias de hoje.

Vestido de homem caverna.
Vestido de homem caverna.

Seu pai era construtor de pontes no Pantanal e quando começou a levar turistas para Gruta do Lago Azul, Sérgio descobriu outros atrativos turísticos.

Apesar das descobertas, ele diz já ter sido chamado de louco, quando passou a querer valorizar as belezas naturais. "Muita coisa nem era aberta ao turismo e as pessoas queriam entrar em tudo. Sempre fui um ambientalista e conhecendo algumas fazendas, passei a estudar sobre geologia, para acompanhar expedições para catalogar as grutas", conta.

O título de Homem da Caverna surgiu com personagem criado por ele. "É uma figura que eu criei para falar de Bonito e vou para praça com foco no turista, para falar das cavernas que precisam ser preservadas".

Cheio de histórias, Serjão ganhou muito turista na base das lendas, conta. "O pessoal cria muitas histórias. Uma das lendas que eu sempre contei é a do Sinhozinho que ficou 100 anos como milagreiro na região. Mas a maior delas é da serpente que vive no subsolo da cidade e que um dia sairá para acabar com tudo. São coisas simples que fazem parte da história da cidade", diz.

Foto antiga de Sérgio da Gruta em Bonito.
Foto antiga de Sérgio da Gruta em Bonito.

Sem medo dos bichos e da natureza, Serjão já foi audacioso até com as sucuris durante uma gravação em Bonito. Ele participou do primeiro longa metragem na Amazônia e Pantanal, em 1983. Fez o papel de traficante de animais e também ajudava na produção do filme, recorda.

"Eu conto isso para todo mundo, as pessoas têm muito medo da sucuri e eu já peguei no braço. Durante a gravação eu dormi com quatro delas no quarto", jura.

Sérgio conta até como alguns lugares turísticos foram descobertos graças a mistérios. "O abismo, que é um dos lugares magníficos da cidade, na época só foi descoberto com o sumiço das vacas. O dono da fazenda chamou a gente para saber o que estava acontecendo e foi encontramos o buraco, onde lá em baixo tem toda aquela maravilha", lembra.

Hoje, aos 60 anos, nada tira da cabeça de Sérgio continuar subindo e descendo grutas para continuar cuidando de Bonito. "Conheci tudo quando era selvagem e quando o homem começou a entrar. O que a gente tem que fazer é mudar a cabeça de quem não quer preservar isso daqui, porque há muito interesse econômico", acredita.

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