Para incluir pai preso, mãe leva batizado do filho para o presídio
Cena rara quebrou a rotina e rompeu com o cotidiano duro de quem vive isolado de tudo
Sem ensaios fotográficos ou grandes festas, o batismo do bebê de quatro meses de Maria*, de 35 anos e Guilherme*, foi diferente do comum. A cerimônia, normalmente feita na igreja, foi realizada em uma sala do presídio. A cena quebrou a rotina cinza do Centro de Triagem Anísio Lima e rompeu o cotidiano duro de quem vive “isolado” de tudo.
O Lado B deu nomes fictícios aos país para não expor a criança. Além dos pais, também participaram do momento simbólico o irmão da criança e os padrinhos.
Apesar do cenário longe do ideal, a mulher viu na situação uma chance de fazer com que Guilherme participasse do que não ela abre mão. À reportagem ela explica que não se importa com o lugar onde o batismo acontece, desde que seja feito com amor.
“Para mim esse foi um momento de muita fé e emoção, porque para nós católicos, o sacramento do Batismo é quando a criança inicia sua vida cristã e será inserida na comunidade onde participa. E poder ter essa oportunidade de meu filho receber o batismo, nesse momento em que o pai da criança se encontra recluso, foi de extrema relevância”.
A prisão do marido aconteceu há 1 ano e pegou Maria de surpresa. Eles estão juntos há 12 anos e têm dois filhos. As visitas são feitas sempre que a esposa consegue ir até a prisão. Sem contar o motivo que levou Guilherme à cadeia, ela comenta que os dias são difíceis mas que nunca perde a esperança.
O batismo foi realizado com apoio da Pastoral Carcerária. “Tendo Deus no nosso dia a dia, vamos vencendo as dificuldades. O trabalho que a Pastoral faz é de muita importância, dando a catequese semanal, celebrando a missa, mesmo que a cada dois meses, atendendo confissões e viabilizando toda essa parte, com isso foi possível realizar o batizado”, ressalta.
O padre que realizou a cerimônia, Said Brandão Sayd, comenta que a cena sempre emociona e que não costuma acontecer com frequência.
"É muito emocionante. Primeiro de haver a consciência da importância desse sacramento e das dificuldades de sua administração neste ambiente. É uma grande vitória de todos e de Cristo. Definitivamente batismo de criança no presídio não é comum. Por isso precisa ser valorizado e festejado".
De acordo com Marinês Savoia, responsável por coordenar políticas desse tipo de assistência nos presídios em Mato Grosso do Sul, a assistência religiosa dentro do sistema prisional é uma ferramenta de fortalecimento não só da fé, mas também de reflexão, reconciliação e reconstrução de valores.
“Ela contribui diretamente para o processo de ressocialização”, destacou a chefe da Divisão de Promoção Social da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário).
* A reportagem deu nomes fictícios aos pais para proteger a identidade da criança.
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